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Impulsionada por serviços, JF cria 879 vagas em março

panôramica JF by felipe couri
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Juiz de Fora encerrou março com 879 postos de trabalho criados. O saldo é resultado de 4.584 admissões e 3.705 demissões. Apenas o setor de serviços foi responsável por 62% das oportunidades criadas, ou seja, 547. O comércio, por sua vez, abriu 155 postos. Construção civil e indústria criaram, respectivamente, 106 e 81 vagas no mercado formal. Os dados, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia, foram divulgados na quarta-feira (28). O saldo de 879 empregos é o maior da série histórica do Caged para março. O Município atravessou o mês em meio à implementação de restrições sanitárias dos programas Juiz de Fora pela Vida e Minas Consciente – entre 8 de março e 18 de abril.

O economista Fernando Perobelli, professor de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), aponta o resultado como positivo dada a estrutura produtiva do Município, baseada, sobretudo, nos setores de comércio e serviços. Entretanto, Perobelli pondera a conjuntura econômica recessiva, ou seja, o saldo positivo não aponta uma recuperação econômica. “É preciso ter cautela. Temos que observar o seguinte: qual a base (para análise)? Fomos para o fundo do poço. Entramos em um processo recessivo e ainda estamos nele. Estamos em uma recuperação? De forma alguma. Não é um número superpositivo”, ressalva. Conforme Perobelli, a expansão do setor de serviços já era apontada por estudos diante das circunstâncias sanitárias. “As pessoas não vão no restaurante, mas pedem comida por entrega a domicílio, por exemplo.”

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O presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio), Emerson Beloti, aponta que o resultado seria mais positivo caso todos os segmentos produtivos tivessem criado oportunidades de trabalho. “Quando (o saldo de empregos) é homogêneo, faz bem à economia. A maioria do comércio estava fechada em março, então o resultado poderia ser maior. O mês de março normalmente é o melhor para o comércio”, afirma. Para Beloti, os setores de atividades essenciais foram os responsáveis pelo saldo positivo, uma vez que funcionaram normalmente durante o último mês. “Posso citar, por exemplo, o segmento de gêneros alimentícios, como supermercados e hipermercados. Os supermercados sempre alavancaram o saldo de Juiz de Fora de alguma maneira. Há ainda os estabelecimentos de venda de materiais de construção e elétricos, além das lojas de EPIs.”

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Juiz de Fora fecha o primeiro trimestre com saldo positivo de 1.438 postos de trabalho abertos. Em fevereiro, foram criadas 582 vagas. Já em janeiro, o saldo havia sido negativo: 23 oportunidades extintas. O balanço do primeiro semestre é, inclusive, superior ao do ano passado, quando a cidade perdeu 1.245 postos de trabalho.

‘Mudança de hábitos levou a maior demanda’

As 547 vagas criadas pelo setor de serviços são o saldo de 2.302 admissões e 1.755 demissões registradas em março. Já o comércio contratou 1.289 pessoas e demitiu outras 1.134, resultando nas 155 vagas abertas. “A proporção de vagas abertas pelo comércio foi praticamente de uma a cada quatro. Como é um setor muito impactado pelo fechamento parcial das atividades, não me espanta tanto o resultado ser muito pequeno”, pontua Perobelli. “O setor de serviços, que foi o responsável pela abertura da maioria das vagas, tem uma heterogeneidade muito grande. Há serviços, como os de saúde – fisioterapia e médicos hospitalares -, de internet e de delivery que cresceram, então eu vejo como esperado.” Estes segmentos de serviços, acrescenta o economista, expandiram durante a pandemia.

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A expansão se dá devido à mudança dos hábitos de consumo, conforme Perobelli. “Pense em serviços que, anteriormente, as pessoas não consumiam com tanta frequência, mas, agora, consomem. Você não vai mais aos restaurantes por estarem fechados, mas pede comida por delivery. Além disso, as pessoas estão tomando mais cuidado com a saúde, fazem exames regularmente. Então, a mudança de hábitos levou a uma maior demanda do setor de serviços, e, como a base de serviços é importantíssima para a cadeia produtiva de Juiz de Fora, reflete na empregabilidade, o que é positivo.”

Conforme Beloti, o saldo do comércio foi positivo, mesmo fechado durante março, devido à expectativa de reabertura das portas a curto prazo. “Houve uma cautela dos empresários quando as restrições aumentaram. O setor do comércio varejista está muito fragilizado ainda. Boa parte dos empresários está com muitas dificuldades financeiras. Então, tentam arrumar a casa com funcionários mais antigos, porque é um patrimônio importante. A mão de obra especializada é uma grande valia.” Os empresários seguraram um pouco mais porque sabiam que não ficariam quatro meses fechados, como em 2020, acrescenta o presidente do Sindicomércio. “O saldo de 155 vagas é positivo, mas é pífio, porque empregamos 40 mil pessoas em Juiz de Fora.”

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Beloti corrobora com o argumento de mudança de hábitos de consumo apresentado por Perobelli. O empresário pontua, por exemplo, que os funcionários demitidos pelos setores de comércio e indústria teriam recorrido à cadeia de serviços para abrir negócios próprios para sobrevivência. “Para montar uma empresa de serviços, não é necessário um grande capital. No setor varejista, é o contrário. O setor de serviços cresceu muito no país justamente por causa das pessoas que foram mandadas embora e têm alguma habilidade para, de repente, sair desta posição e montar o próprio negócio.” Além disso, relembra Beloti, as pessoas, em casa, buscam serviços de reparos domésticos, como eletricidade, bombeiros e pedreiros. “Ou fazem compras com entrega a domicílio. Juiz de Fora não tinha tantos motoboys como tem hoje. Isso tudo contribui.”

Mudança de metodologia

Em maio de 2020, o Ministério da Economia promoveu uma mudança de captação de dados de empregabilidade no país. Anteriormente, os empregadores repassavam as informações ao Governo federal apenas por meio do Caged e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais). Agora, os dados são informados por meio do Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial). Conforme nota técnica divulgada à época pelo Ministério da Economia, o objetivo era “unificar e simplificar a prestação de informações relativas a trabalhadores e empresas, bem como o cumprimento de obrigações fiscais, previdenciárias e trabalhistas”. Ou seja, a transmissão eletrônica em ambiente único simplificaria o envio das informações, de acordo com a pasta.

No entanto, a mudança implicou também em uma mudança metodológica na agregação de dados. Trabalhadores antes não declarados passaram a ser obrigatoriamente registrados no eSocial, como, por exemplo, trabalhadores avulsos, temporários, dirigentes sindicais e bolsistas, além de servidores das administrações pública direta ou indireta, federal, estadual e municipal. Os de âmbito municipal e estadual passarão a ser declarados, respectivamente, em abril e novembro de 2021.

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Perobelli acredita que a mudança de metodologia pode, de fato, influenciar os resultados de empregabilidade. Mas ressalta que a avaliação se o saldo positivo do setor de serviços é perene ou não deverá ser feita ao longo deste ano. “A gente está tendo uma reestruturação em várias bases de dados econômicos. O setor de serviços era muito informal. A formalização passou a ser feita com os microempreendedores individuais (MEIs). Por exemplo, uma manicure, que é MEI, está agora na base. Antigamente, quando não era, não estava. O exemplo do MEI é o clássico da formalização da atividade produtiva, o que é positivo, porque as pessoas passam a pagar impostos.”

Beloti, por sua vez, acredita que mudança de metodologia não fez diferença nos dados. “Se fez, foi pouca. Não comprometeu tanto o resultado ser positivo”, afirma. “O setor de serviços pode ter apresentado esse aquecimento porque as portas da indústria e do comércio estão fechadas. O setor de serviços é a única saída pra quem deixou a indústria e o comércio, aproveitando o conhecimento e a experiência para montar o próprio negócio.”

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