Motoristas de Juiz de Fora estavam dispostos a passar a noite na fila para tentar abastecer seus veículos. A informação era de que o abastecimento só começaria às 5h desta quarta-feira, sob escolta policial. No final da manhã de terça-feira, um comboio de caminhões aguardava na BR-040, sentido Rio de Janeiro, para ser escoltado até Duque de Caxias (RJ), a fim de trazer combustível e gás até a cidade. Antes mesmo de os veículos saírem do município, donos de carros de passeio já se dirigiam aos postos na esperança de serem atendidos. Dos 39 caminhões, 18 são para a reposição de gasolina e de etanol, o que representa, aproximadamente, 540 mil litros de combustível. Significa que levará tempo para a regularização da oferta, embora ninguém arrisque um palpite sobre quanto tempo será necessário.
A expectativa de abastecimento levou dezenas de motoristas ao posto da Avenida Deusdedit Salgado, no Salvaterra, na saída de acesso à BR-040, onde a informação, segundo os funcionários, era de possibilidade de chegada de combustível até a 21h de terça-feira (29). No meio da tarde, entre 15h e 16h, pelo menos, cem veículos já estavam na fila. O lavador de carros Francisco de Lima Siqueira, 58 anos, era um deles. Com uma cirurgia do neto agendada para esta quarta-feira (30), ele não tinha opção e iria permanecer no local até a gasolina chegar. “Vou ficar esperando o tempo que for necessário, inclusive se tiver que passar toda a noite aqui, pois tenho um neto, de 3 anos, que irá passar por uma cirurgia de câncer na perna amanhã e precisamos levá-lo para o Hospital Universitário, porque a operação não pode ser suspensa. Os médicos consideram a situação bem grave”, relatou o trabalhador, que mora na BR-040 e que está há quatro dias com o carro desabastecido. “Como eu moro na rodovia não dá para deslocar a pé. Estou usando álcool de mercado para poder sair e voltar para casa.”
A veterinária Nádia Verônica Leite, 40, também tinha esperanças de conseguir deixar seu carro abastecido. “A nossa movimentação está bem difícil. Ontem (segunda-feira) eu não pude trabalhar, tentando economizar o que tinha de combustível. Hoje não teve jeito, e o tanque chegou na reserva. A primeira especulação é que neste posto iria chegar a gasolina. Então, viemos para cá, eu e meu marido, e estamos dispostos a esperar”, afirmou, acrescentando que, caso seja necessário, iria passar a noite na fila. Já o comerciante Edson Lourenço, 59, disse que só esperaria até as 22h. “A situação está muito difícil porque está faltando muita coisa. No meu caso, que sou comerciante, estou sem mercadoria para trabalhar. Ainda tenho um quarto do meu tanque e preciso abastecer. Para mim, não dá para passar a noite aqui. Vou ver com o meu filho se ele poderá ficar.”
Correria
Ainda na manhã de terça-feira, a circulação de informações de que alguns estabelecimentos voltaram a receber estoque de combustível provocou uma corrida aos postos. A informação oficial da Prefeitura de Juiz de Fora era de que três postos amanheceram com combustível destinado estritamente ao abastecimento dos serviços essenciais, conforme prevê o decreto de situação de emergência. Além da entrega direta do combustível nas bombas dos operadores do transporte coletivo urbano (ônibus), o Posto TLP (Rua Paracatu 444, no Bandeirantes), o Posto Elefantinho (Avenida Brasil 3.349, no Centro) e o Posto Centro Choferes (Rua Benjamin Constant 77, Vitorino Braga) estavam fazendo o abastecimento, que depois foi liberado para taxistas encherem o tanque.
De acordo com o decreto de situação de emergência, são considerados serviços públicos essenciais aqueles da área de saúde (transporte de pacientes e de material biológico, gases medicinais e diesel para geradores, distribuição de insumos, vacinas e medicamentos), educação (transporte de alunos e distribuição de gêneros alimentícios para os estabelecimentos educacionais), transporte urbano de passageiros, coletivos e táxis, coleta de lixo, abastecimento e tratamento de água, serviço funerário e serviço de segurança urbana e defesa civil. Veículos particulares vinculados ao atendimento à saúde (ambulâncias) e à prestação de serviços públicos essenciais (empresas contratadas pelo município para este fim) poderão ser abastecidos, porém dentro do limite estabelecido no decreto, de 20 litros de combustível por dia. Motoristas não prioritários só poderiam abastecer 20 litros
Mudanças no decreto
De acordo com o decreto de situação de emergência, são considerados serviços públicos essenciais aqueles da área de saúde (transporte de pacientes e de material biológico, gases medicinais e diesel para geradores, distribuição de insumos, vacinas e medicamentos), educação (transporte de alunos e distribuição de gêneros alimentícios para os estabelecimentos educacionais), transporte urbano de passageiros, coletivos e táxis, coleta de lixo, abastecimento e tratamento de água, serviço funerário e serviço de segurança urbana e defesa civil. Veículos particulares vinculados ao atendimento à saúde (ambulâncias) e à prestação de serviços públicos essenciais (empresas contratadas pelo município para este fim) poderão ser abastecidos, porém dentro do limite estabelecido no decreto, de 20 litros de combustível por dia.
No meio da manhã desta terça, a PJF informou que acrescentou o inciso VIII ao artigo 3º do decreto de situação de emergência do município. O novo item acrescenta o “transporte de cargas e valores, incluindo os de pequeno porte (moto frete)”, como serviço essencial de atendimento prioritário para garantir a reabastecimento na cidade. A alteração feita pelo prefeito Antônio Almas nesta terça-feira, ocorreu após nova reunião do comitê de gerenciamento de crise. O documento será publicado em edição extraordinária do Atos do Governo ainda nesta terça.
Longa espera
Primeiro motociclista a receber combustível no Posto Choferes, Felipe Rayan Cortes, 26 anos, chegou na fila à meia-noite de segunda-feira. “Paguei R$ 4,99 o litro da gasolina, valor mais caro do que estava. Minhas contas estão vencendo, porque fiquei sem trabalhar desde domingo. Ninguém vai me repor isso. É triste. Não estou aliviado.” Outros colegas de Rayan, que engrossavam um grupo de motoboys, só foram atendidos após as 10h, depois de reivindicarem o direito ao abastecimento prioritário, alegando que eles contribuem para o serviço de transporte na cidade.
Segundo o proprietário do Posto Choferes, Marino Liberato, o estabelecimento do Vitorino Braga recebeu, por volta de 1h desta terça-feira, 45 mil litros de combustível. Ainda de acordo com Liberato, há a previsão de receber mais 25 mil litros nos próximos dias e de mais dez postos na cidade serem abastecidos até quarta-feira.
O taxista Roberto Carlos Souza, 50 anos, chegou ao local na madrugada, às 2h50 desta terça, e só conseguiu abastecer o veículo às 9h. “Estou há três dias sem rodar, e a última vez que consegui abastecer foi na última quarta-feira”, disse. Outro colega de profissão, Sivanildo Martins Costa, 40, que chegou ao posto às 3h, mensurou um prejuízo de, pelo menos, R$ 3.500 pelos quatro dias que ficou sem rodar com o seu táxi.
Procon
Conforme o superintendente do Procon, Eduardo Schroder, “Juiz de Fora tem mais de 140 postos e só cinco têm combustível hoje (29) (até o final da manhã)”. De quatro postos visitados pela equipe de fiscalização do Procon, nenhum apresentava preços abusivos.
Ao final do dia, o comitê de contingenciamento faria um controle de estoque junto a esses postos para garantir o abastecimento nos demais dias da semana. A segurança da distribuição nestes locais é feita pela Polícia Militar e pela Guarda Municipal. Conforme a PJF, qualquer outra comercialização de combustível na cidade deve obedecer o limite diário de 20 litros determinado pelo decreto de situação de emergência, ficando sujeita à fiscalização dos órgãos competentes. Está proibido o uso de galões em qualquer abastecimento.
Já no Posto Elefantinho, no Centro, o aposentado Algemiro Henriques do Amaral, morador do Bairro São Pedro, foi um dos primeiros da fila. Ele chegou por volta das 22h de segunda e passou a noite no local, assim como muitos outros juiz-foranos. Seu tanque estava na reserva, e ele se diz satisfeito com o limite de 20 litros, que dá para ele e a esposa rodarem por cerca de dez dias. Mesmo com a informação de que apenas carros de serviços essenciais e táxis receberiam o combustível, ele aguardava os taxistas abastecerem até chegar a sua vez. No mesmo posto, o taxista Carlos Eduardo Bastos também passou a noite na fila, desde 1h30, e comemora poder encher o tanque agora, pois está parado, sem trabalhar, com tanque vazio desde sábado. No posto, a gasolina está sendo vendida a R$ 4,89, mesmo preço antes da greve, segundo informações do posto.