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Empresas de TI apostam na mão de obra de JF

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Com 250 colaboradores , gigante mundial de TI Thomson Reuters vê aumento rápido e crescente da demanda por profissionais da área, para acompanhar a expansão dos produtos (Leonardo Costa)
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Grandes nomes do setor de tecnologia da informação (TI) têm endereço em Juiz de Fora. Na lista, estão multinacionais e empresas locais reconhecidas internacionalmente. A cidade conta também com respeitadas instituições de ensino e pesquisa, um importante centro de formação de capital humano no país. Ainda assim, não pode ser considerada um polo de tecnologia. O município possui apenas 1.700 pessoas ocupadas em atividades intensivas em tecnologia, 1,18% da força de trabalho municipal. O percentual é maior do que as médias nacional (0,62%) e mineira (0,54%), mas está aquém da capacidade do município. Os números foram divulgados pela diretoria de Inovação da UFJF e mostram que, apesar da reconhecida vocação, é preciso convertê-la em investimentos e atração de negócios conectados com as potencialidades locais.

Hoje o setor de TI corresponde a quase 2% do PIB estadual e, no setor, há diversas ações com o objetivo de aumentar esse percentual consideravelmente nos próximos cinco anos, informa o Sindicato das Empresas de Informática de Minas Gerais (Sindinfor).

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A Stefanini, uma gigante multinacional brasileira de tecnologia, escolheu Juiz de Fora pela capacidade de formação de mão de obra qualificada. “Melhor que a média do país”, explica a diretora de RH da Stefanini Brasil e América Latina, Cintia Bortotto. Segundo ela, também contou a proximidade com o Rio de Janeiro, permitindo o fácil acesso dos trabalhadores à cidade. Hoje são 72 empregos na unidade local, com média salarial de R$ 2.900. “Embora não tenhamos vagas abertas para Juiz de Fora neste momento, sempre procuramos perfis diferenciados, principalmente com mobilidade para outras regiões do país.”

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Conforme a executiva, em geral, os profissionais são muito comprometidos, “mas requerem um investimento importante em complemento de formação para que fiquem melhor preparados para os grandes centros. Lapidamos o perfil de quem trabalha conosco.” Na sua opinião, cada vez mais, a tecnologia é uma ferramenta importante para os modelos de negócios atuais. “Neste momento de transformação digital, abre-se mais espaço para a participação de TI. Se avaliarmos o momento de mercado, novas carreiras têm surgido para dar conta de tanta inovação – Big Data, Analytics, cientistas de dados, growth hacker, arquitetos de soluções ou arquitetos de sistemas.”

A Thomson Reuters, líder mundial de informação estratégica e soluções em tecnologia para os principais segmentos da economia, também mantém escritório na cidade. O chief Technology Officer (CTO) da multinacional, Roberto Soria, explica que a localização em Juiz de Fora tem origem na aquisição que a provedora fez em 2013 da NovaProlink. “Essa aquisição fez parte de um projeto de expansão global da Thomson Reuters com a aquisição de mais de cem empresas em todos os segmentos em que atua.” Desde então, a unidade local passou por uma série de transformações e hoje conta com, aproximadamente, 250 colaboradores, que atuam principalmente em três grandes áreas: comercial, suporte e tecnologia, todas direcionadas para o mercado de soluções jurídicas.

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Com foco na expansão dos produtos para outros países, explica Soria, as equipes daqui trabalham de forma integrada com profissionais do país e ao redor do mundo, domiciliados em Argentina, Estados Unidos, Reino Unido, China, índia, Espanha e Rússia. Segundo ele, a empresa está contratando e planejando contratar ao longo do ano “um número considerável de colaboradores e estagiários nas diferentes áreas para acompanhar a expansão dos produtos.” O executivo destaca a utilização de linguagens e tecnologias de desenvolvimento modernos em interação com fornecedores estratégicos e globais. “Diversidade e inclusão são alguns dos nossos pilares e regem o nosso relacionamento com os colaboradores e com a comunidade.”
Na avaliação do CTO, Roberto Soria, em um momento em que cada vez empresas se alinham ao mundo digital, o setor de TI é e seguirá sendo um dos mais importantes mercados de trabalho do país e do mundo. Para o executivo, a demanda por profissionais com elevadas habilidades técnicas está aumentando muito mais rápido que a disponibilidade de mão de obra qualificada – um desafio a ser superado.

Thelma Valverde, CEO da eMiolo (à direita)defende mais incentivo por parte do Poder Público e união do setor ( Olavo Prazeres)

Necessidade de união dos ecossistemas

A eMiolo.com, que trabalha com o lema “somos um cérebro dentro de um polvo”, é uma empresa genuinamente juiz-forana, que atua no desenvolvimento customizado de softwares e oferece outras soluções em web, móbile e aplicativos. Mantém cerca de 20 funcionários e atende a mais de cem clientes no país inteiro. Conforme a CEO Thelma Valverde, a prioridade é a contratação de mão de obra juiz-forana. O negócio acabou de ser selecionado pela Google para atuar como agência de desenvolvimento, podendo contar com certificação e suporte técnico a nível mundial. Na sua opinião, a cidade oferece mão de obra qualificada e reúne grandes talentos, mas “o ecossistema ainda está muito fraco”. Thelma cita a necessidade de mais incentivo por parte do Poder Público, de mais eventos relacionados ao setor e também de união entre as empresas do ramo para fomentar o crescimento e compartilhar o conhecimento.

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“Juiz de Fora tem potencial, mas ainda há muita lacuna.”

Thelma Valverde, CEO da eMiolo

A necessidade de maior união entre os agentes do ecossistema mineiro também é destacada pelo presidente do Sindicato das Empresas de Informática de Minas Gerais (Sindinfor), Welington Teixeira. “Hoje é comum termos algumas organizações, grupos ou associações, mas é fundamental que as pessoas que estão no setor consigam se organizar melhor e com isso aumentar o seu potencial.” Na sua avaliação, Minas Gerais é um mercado em expansão quando o assunto é tecnologia e inovação, reunindo a maior comunidade startup do país. “Países extremamente conceituados na área, como Israel, conseguem ter uma visão de Minas Gerais extremamente positiva e o seu real potencial de crescimento.”

Para o presidente, o ensino oferecido nas universidades, de uma forma geral, ainda está aquém do que o mercado exige. “Todo o processo educacional é muito moroso, fazendo com que haja uma lacuna muito grande entre as necessidades do mercado e a qualificação de mão de obra.” Teixeira entende que as empresas de tecnologia têm como principal ativo o capital humano, na forma de um profissional capacitado e diferenciado do mercado. De acordo com a região e o porte da empresa, a remuneração do profissional de TI é considerada “bem variável”. Em uma pesquisa de remuneração salarial que o Sindinfor patrocinou, o salário médio de um programador pleno variava entre R$ 2.512 e R$ 7.018 no estado.

Experiência pode elevar ganhos para R$ 8 mil em JF

A coordenadora dos cursos de Sistemas para Internet e Análise e Desenvolvimento de Sistemas do Instituto Vianna Júnior, Miriã da Silveira Coelho Corrêa, avalia que a absorção do profissional pelo mercado em Juiz de Fora acontece não apenas pelas empresas do setor, mas também em negócios com outros perfis, já que a tecnologia se faz presente em praticamente todas as áreas de atuação. A coordenadora explica que os profissionais do segmento são divididos em três categorias: júnior, pleno e sênior. De acordo com o perfil, os ganhos iniciais giram em torno de R$ 1.800 a R$ 2 mil por mês. Para um profissional sênior, a média salarial chega de R$ 7 mil a R$ 8 mil na cidade, dependendo da área de atuação.

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Conforme a coordenadora de cursos, a média salarial em Juiz de Fora é menor do que a praticada em grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo, “porque aqui o custo de vida é bem menor”, pontua. De acordo com Miriã, há multinacionais em atuação na cidade que contratam ainda na faculdade, na forma de estágio, permitindo a ascensão na empresa. Ela, que costuma ter contato direto com recrutadores de pessoal, comenta que o empregador busca, além da formação, um diferencial de qualidade.

“Não adianta só ser formado, se não tiver uma qualificação ou certificação. É preciso buscar diferenciais na carreira. As empresas dão prioridade aos profissionais mais qualificados.”

 Miriã da Silveira Coelho, coordenadora dos cursos de Sistemas para Internet e Análise e Desenvolvimento de Sistemas do Instituto Vianna Júnior

 

Ainda conforme Miriã, a formação em tecnologia oferece vasta gama de potencialidades para trabalho, como a possibilidade de montar o próprio negócio, fazer concursos ou ingressar no time de uma grande empresa.

Prefeitura elege setor

Para o coordenador de Projetos da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo (Sedettur), Jackson Fernandes, não basta possuir capital humano qualificado, é necessário efetivar a sua alocação produtiva, ou seja, disponibilizar as condições necessárias para garantir a retenção desses profissionais formados no município e região. Pelas suas contas, somente em Juiz de Fora, a rede de ensino superior oferece, anualmente, cerca de 594 vagas em cursos específicos nas áreas de TI e, ainda, 25 vagas em programas de mestrado e dez em programas de doutorado. “A Prefeitura elegeu o segmento de TI e aqueles intensivos em tecnologia como estratégicos em suas políticas de desenvolvimento econômico.”

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Jackson citou a Lei 12.838/2013, que prevê a redução de ISSQN de 5% para 2% para as empresas do ramo, com o objetivo de equiparar as condições tributárias praticadas nos principais centros de tecnologia do Brasil, elevando a competitividade das empresas já instaladas e atraindo outros negócios com este perfil. Atualmente, diz, está em estudo a possibilidade de estender os incentivos para as áreas de pesquisa, visando a fortalecer toda a cadeia produtiva associada aos temas tecnologia e inovação. A criação do novo Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação (Comdeti) tem por objetivos discutir o desenvolvimento de políticas públicas destinadas a fortalecer e consolidar a cultura inovadora e a indústria de alta tecnologia no município e apoiar ações privadas, principalmente as destinadas a viabilizar a implantação de ecossistemas de TI.

Como a Tribuna noticiou no início deste ano, Juiz de Fora estava na disputa para sediar um braço da gigante Tata Consultancy Services (TCS), mas perdeu o investimento para Londrina. Para Jackson, o processo de prospecção da TCS foi positivo e didático. Para ele, o fato de a cidade ter sido uma das duas finalistas entre outros 20 municípios “demonstra o potencial do município em atrair investimentos no segmento de TI”.

Na sua avaliação, o município é competitivo, com empresas internacionais estabelecidas e negócios locais exportando serviços para outros mercados.

“A matriz de serviços é bastante diversificada e o significativo número de startups que surgem demonstra vitalidade do segmento.”

Jackson Fernandes, coordenador de Projetos da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo (Sedettur)

A preocupação da Prefeitura, diz, é contribuir com o fortalecimento do segmento, criando condições que favoreçam a competitividade das empresas já instaladas, bem como promover a prospecção e atração de novos investimentos.

Para o secretário Rômulo Veiga, prospectar grandes players é uma das ações possíveis para o município, uma vez que empresas deste porte aqui instaladas podem desencadear um processo de transbordo (spill over), acelerando a maturidade do segmento local. “É importante entender qual o momento correto para que as grandes não ‘canibalizem’ o mercado, formado por empresas locais, com uma possível prospecção agressiva de mão de obra especializada, inflacionando a massa salarial local do setor, o que poderia condenar empresas de menor porte.” Para ele, a atração de grandes players é interessante, desde que tenham relação positiva com o mercado local que começa a se estabelecer. Ainda segundo Rômulo, ser um polo tecnológico é uma meta, já que a cidade possui forte vocação para o setor.

A importância da conexão

Para o diretor de Inovação da UFJF, Ignácio José Godinho Delgado, os números do setor estão muito aquém da potencialidade da cidade, que dispõe de instituições de ensino e pesquisa de relevância, empresas criadas a partir de pesquisas desenvolvidas no meio acadêmico e transferência de tecnologia para os negócios já instalados. Para Delgado, apesar dos esforços para atração de grandes investimentos, a maior parte não tem ou tem pouca conexão com as potencialidades locais. “Esses grandes investimentos pouco usam fornecedores da cidade e, ao mesmo tempo, interagem pouco com as instituições de pesquisa aqui sediadas”, com reduzido encadeamento com o restante da cadeia.

“Toda vez que um grande investimento chegava, gerava surto de crescimento nos anos seguintes da instalação, mas não era consistente com o projeto de longo prazo de desenvolvimento da economia municipal.”

 Ignácio José Godinho Delgado, diretor de Inovação da UFJF

Para o diretor de Inovação, é preciso fazer uma aposta mais vigorosa no que existe de potencialidade local: aproximando universidade e instituições de pesquisa do setor empresarial e potencializando o desenvolvimento de empreendimentos de base tecnológica, que resultem ou que se conectem aos conhecimentos gerados na universidade. No âmbito do Grupo de Trabalho Desenvolvimento e Inovação na Mata Mineira (GDI Mata), avalia, algumas iniciativas têm sido feitas, mas, na opinião dele, é preciso aprofundar. “O nosso potencial é enorme.”

Parque tecnológico
Sobre o Parque Tecnológico, importante vetor de desenvolvimento, o posicionamento é que a UFJF está atuando “de forma muito intensa” para viabilizar o projeto. Segundo o diretor de Inovação, o processo de licenciamento ambiental está avançado. Atualmente, há tratativas com órgãos de controle para a contratação de empresa para modular o projeto inicial de infraestrutura. Desta forma, seria possível adaptar a obra ao empenho de R$ 40 milhões feito pelo Ministério da Educação ainda em 2012.

“Concluídas essas tratativas, a expectativa é lançar o edital o quanto antes”. Com o edital nas ruas, diz, é possível iniciar uma segunda etapa que consiste na atração de empresas, especialmente nas áreas de TI, medicamentos, energia, laticínios e eletroeletrônicos, que integram o plano de negócios do parque. Mesmo com 1/3 do tamanho original, o núcleo teria capacidade de sediar de 50 a 60 empresas.

 

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