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Arboviroses podem gerar perda de até R$ 20 bilhões na economia brasileira em 2024

Aedes Aegypti - transmissor da dengue
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No início de fevereiro, Marcela Amaral sofreu uma forte queda de pressão. Passados dois dias, uma dor de cabeça intensa atrapalhou seu sono. Mesmo assim, na manhã seguinte, ela foi para o estúdio de treinamento funcional onde é professora e colaboradora. Na parte da tarde, seu corpo começou a arder em febre. “Quando meu namorado encontrou comigo, eu estava com 40 graus de febre. Ele me levou para o hospital. Era dengue”, narra.

Depois do diagnóstico os sintomas só pioraram: uma intensa dor no corpo, vômito e diarreia. Marcela precisou ficar afastada por duas semanas do trabalho. “Eu fiquei bem mal mesmo, uns cinco dias com dor no corpo, sem conseguir levantar da cama. Nessa época eu conversei com a dona do estúdio e ela me tranquilizou, disse que já estavam preparados para caso acontecesse alguma coisa.”

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Os dois estagiários que trabalham no estúdio cobriram a ausência de Marcela nesse período. “A Karla, que é a dona, também precisou deixar de oferecer algumas aulas de personal para me cobrir. De certa forma, foi um ganho que ela deixou de ter naquele momento”, afirma Marcela.

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Perda de R$ 20,3 bilhões na economia

Com 4.408 casos suspeitos de dengue, muitas pessoas passam por uma situação semelhante à de Marcela em Juiz de Fora. O número foi divulgado no último Boletim Epidemiológico de Monitoramento dos casos de dengue publicado na última terça-feira (26) pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). E o alto número de casos gera impactos reais na economia. O afastamento por conta dos sintomas da dengue e outras arboviroses pode fazer com que o Brasil sofra um impacto econômico de R$ 20,3 bilhões devido à perda de produtividade causada pela doença. É o que aponta um estudo realizado pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) em relação ao cenário econômico de 2024.

O valor não diz respeito apenas ao afastamento da população sintomática, mas também abrange os custos diretos com o tratamento. Só em Minas Gerais esse impacto deve ser de R$ 5,7 bilhões, sendo R$ 3,8 bilhões por conta da perda de produtividade e R$ 1,9 bilhão considerando os custos com tratamento. O Ministério da Saúde estima que o país enfrentará cerca de 4,2 milhões de casos de arboviroses em 2024 e Minas Gerais vai corresponder por 37% desse total.

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De acordo com a economista da Fiemg, Juliana Gagliardi, a perda de produtividade do trabalhador nem sempre é um fator palpável nas análises econômicas, mas de extrema relevância tendo em vista o efeito em cadeia que ele provoca. “Uma vez que o funcionário precisa se afastar por conta dessa doença, ele deixa de produzir na economia e isso gera impactos não apenas na empresa que ele trabalha, mas em outros setores, seja na compra de serviços, seja na oferta deles. Esse é o efeito em cadeia que ocasiona o maior impacto.” Conforme aponta, o estudo considerou um afastamento médio de sete dias, sendo que esse período pode ser maior – como no caso de Marcela – ou menor, dependendo dos sintomas do trabalhador.

O impacto a nível nacional, de R$ 20,3 bilhões, pode corresponder a 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) e quando falamos de Minas Gerais, com perda de R$ 5,7 bilhões, isso representa uma perda de 0,66% no PIB do estado. “Fato que merece destaque, uma vez que os casos em Minas Gerais correspondem a aproximadamente 37% do total de casos registrados no Brasil”, afirma Juliana. O estudo mensurou que o impacto não recai apenas sobre os valores do PIB, mas também pode gerar perda de postos de trabalho. “O Brasil pode perder até 70 mil postos, o que vai afetar a renda da massa salarial em até R$ 1 bilhão.”

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A pesquisa ainda mostrou que 60% das pessoas contaminadas com algum tipo de arbovirose estão em idade economicamente ativa, ou seja, apta para o mercado de trabalho. Dessa população, cerca de 70% estão ocupados, ou seja, a maioria das pessoas contaminadas trabalham e seu afastamento gera impacto direto na produção econômica do país.

São quantos dias de atestado para dengue?

O médico infectologista Rodrigo Daniel explica que não há uma quantidade de dias determinada para o afastamento em caso de dengue, tudo depende de como a doença vai se manifestar no organismo do paciente. “Quando o médico atende o paciente pela primeira vez, ele faz uma progressão de acordo com o grau de comprometimento, quais sintomas que ele apresenta e pode estimar um prazo médio de recomendação. Mas deve sempre orientar que, caso ao término desse período o paciente não se sinta bem, ou incapaz para o trabalho, ele deverá ser reavaliado. Além do atestado poder ser prolongado, outras medicações ou mudanças na conduta podem ser feitas.”

O médico ainda explica que um paciente não precisa ter o teste positivo de dengue ou chikungunya para conseguir o atestado, já que esse laudo não tem relação direta com o diagnóstico, mas sim com a capacidade. “Mesmo que a pessoa não tenha o diagnóstico de dengue especificamente, mas esteja incapaz para o trabalho ela deverá ser afastada. Isso é importante pois o teste pode demorar ou até mesmo dar negativo nos primeiros dias, já que a sensibilidade do exame não é de 100%.”

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Febre e dor de cabeça são os primeiros sintomas

Conforme o infectologista, a dengue se manifesta geralmente com uma febre de início súbito associada a dores de cabeça e pelo corpo. “Nem sempre todos os sintomas vão aparecer juntos. Idealmente, a recomendação é que a pessoa procure um médico de confiança, não necessariamente um pronto atendimento. Porque o caso dela pode não ser grave, mas deverá fazer um acompanhamento para já planejar como vai ser feita a condução do caso.”

No caso de pacientes com sintomas mais graves, como desmaio, dor contínua e intensa na barriga e vômito que não melhora, essas pessoas devem procurar um pronto atendimento para já ficar na enfermaria do hospital. Rodrigo explica que a dengue é uma doença bifásica, ou seja, com duas fases, uma viral e outra imune. Em geral, os pacientes não têm grandes complicações na fase viral e apresentam os sintomas mais comuns. As complicações maiores geralmente vêm na fase imune, depois que a febre some. “Geralmente essas pessoas precisam passar por uma reavaliação. Dá uma impressão de melhora, mas ele começa a ter sintomas de maior gravidade ou que podem alertar o médico. No dia que ele começa a se sentir melhor, de repente tem uma tontura, um inchaço, uma falta de ar, uma dor na barriga importante, apresenta um sangramento. Isso são sinais que a dengue está na fase imune e pode apresentar quadro de gravidade.”

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