A Medida Provisória (MP) do Governo federal que reduziu impostos para baratear o valor dos automóveis no Brasil trouxe reflexos positivos para o segmento. Junho fechou como o segundo melhor mês do ano em vendas de carros, e a expectativa é que julho tenha emplacamentos bem acima da média, considerando que cerca de 79 mil veículos com bônus de desconto foram repassados às concessionárias, mas ainda não foram emplacados. A projeção foi feita pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Os efeitos do programa federal também foram sentidos em Juiz de Fora, com grande aquecimento do setor.
De acordo com a Anfavea, a MP contribuiu para o escoamento de parte dos estoques que estavam acumulados nos pátios das fábricas. O fechamento do primeiro semestre de 2023 demonstra recuperação na produção e vendas em comparação com o mesmo período do ano passado. Dados da entidade apontam a produção de 1,132 milhão de automóveis de janeiro a junho deste ano, representando uma alta de 3,7%. Já os emplacamentos, que acumulam 998,6 mil unidades no ano, cresceram 8,8% sobre o ano passado.
Valores dos carros mais baixos
A queda nos preços dos veículos foi constatada pelo Monitor de Variação de Preços da Kelley Blue Book (KBB) Brasil. O levantamento mostra que, após uma tendência de alta em maio, os preços dos carros novos voltaram a apresentar uma pequena redução em junho. Conforme o estudo, todas as faixas de ano/modelo apresentaram alguma depreciação nos preços médios no sexto mês de 2023. Esses descontos nos valores ocorreram, justamente, por conta da Medida Provisória do Governo federal, incrementados por abatimentos aplicados pelos próprios fabricantes.
Isso se refletiu também nos veículos seminovos (até 3 anos de uso) e usados (de 4 a 10 anos de uso). Conforme a KBB, os seminovos registraram queda de preços em junho, mesmo com a inclusão dos modelos 2023/2024, impulsionada pelos descontos dos modelos zero quilômetro. Já os usados também se mantiveram em queda durante junho de 2023.
Juiz de Fora vê crescimento das vendas
Em Juiz de Fora, há uma unanimidade entre os representantes do setor ouvidos pela Tribuna de que o programa de descontos do Governo federal de fato aqueceu as vendas de automóveis, contribuindo para um fechamento positivo do semestre. Na Delta Fiat, por exemplo, o crescimento das vendas foi de quase 100% acima do esperado para o período, de acordo com o gerente de vendas da concessionária, Lucas Mello. “O consumidor está bem mais aquecido quanto à aquisição devido a essa redução de imposto que o Governo fez. Na tratativa dos carros, vimos um fluxo de loja muito maior, algo que não víamos há bastante tempo”, conta.
Apesar do curto período de tempo da MP, que se encerrou no início de julho, a Delta Fiat ainda tem observado os reflexos da iniciativa, com uma continuação na procura por automóveis. “[A MP] trouxe aquele cliente que estava esperando o momento certo de compra ou que estava muito indeciso de realizar a compra. Foi uma tratativa muito assertiva, e conseguimos aproveitar todas as oportunidades que foram geradas.”
Além disso, a iniciativa também acabou trazendo uma certa recuperação após o período da pandemia, que aumentou significativamente o valor dos carros. De acordo com o proprietário da loja de seminovos e usados Nila Veículos, Leonardo Gomes, em um primeiro momento, esse encarecimento dos automóveis ocorreu por conta da falta de equipamentos para montagem dos veículos e, depois, por conta da pouca oferta.
“Essa ação que o Governo teve foi bem rápida, mas precisava surtir um efeito, porque o mercado estava parado até então. Se compararmos o mês de maio com o mês de junho, de uma forma geral, houve um crescimento em torno de 11% não só em Juiz de Fora, mas em nível Brasil. E comparando junho do ano passado com junho deste ano, teve um crescimento de 6,33%”, destaca.
Projeções positivas para o segundo semestre
Mesmo a MP do Governo sendo voltada especialmente para os carros novos, as vendas dos seminovos e usados também sentiram os reflexos da iniciativa, devido ao maior fluxo de clientes nas concessionárias. A expectativa é que outras medidas, como a redução de juros, possam dar continuidade ao aquecimento do setor como um todo. “A ação do Governo acabou, então os preços do zero, principalmente, voltaram ao patamar normal. O preço do seminovo tem tido uma queda mês a mês. O próximo passo que esperamos agora é que tenha uma queda nos juros, que é o que todo mercado visa para realmente manter o crescimento”, diz Gomes.
A expectativa por uma movimentação por parte do Banco Central para redução de juros e abertura do crédito também é apontada por Robson Spaluto, diretor comercial da Thema Veículos, da Volkswagen, como um dos principais fatores para que a alta no setor se mantenha. “As montadoras estavam com seus pátios com bastante carro e precisavam colocar esses carros no mercado, no emplacamento. Então a MP veio para dar esse fôlego para as indústrias, para as montadoras, o que acabou ocorrendo, porém foi uma medida provisória com um prazo bem pequeno.”
De acordo com Spaluto, espera-se um movimento maior para o segundo semestre de 2023, por conta do aquecimento puxado pela MP, mas também devido a outros fatores econômicos. “Com a movimentação das montadoras em questão de produtos, há mais giro no mercado, um posicionamento melhor de preço. Nós vemos também uma queda do dólar e sabemos que a grande maioria das montadoras são dependentes de insumos de importação, e tudo isso acaba ajudando a posicionar melhor os preços dos carros”, diz.