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Entidades comerciais não apoiam carreata a favor de retomada

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Maioria dos estabelecimentos comerciais da cidade foi fechada nesta semana, para reduzir o volume de circulação de pessoas nas ruas; setor de serviços também foi restringido em suas atividades (Foto: Fernando Priamo)

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Na mesma linha do recente discurso do presidente Jair Bolsonaro (PSL), grupos têm convocado carreatas nas redes sociais em todo o país, defendendo o retorno das atividades comerciais e profissionais, atualmente paralisadas por meio de decretos municipais e estaduais como medida de combate ao avanço do novo coronavírus (Covid-19). Apesar de especialistas e a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendarem o isolamento social para que a “curva” do número de casos da doença não acelere exponencialmente ao ponto de o sistema de saúde colapsar, o protesto sugere que apenas as pessoas consideradas do grupo de risco, como os idosos, permaneçam em casa, enquanto todos os demais deveriam voltar a produzir. Em Juiz de Fora, o movimento conservador Direita Minas assumiu, na tarde de sexta-feira (27), estar organizando uma carreata com esse propósito para este domingo (29), com concentração às 10h na Avenida Rio Branco, na altura do Carrefour. O ato anteciparia outro difundido nas redes sociais e marcado para às 10h de segunda (30), no Parque Halfeld. A manifestação, entretanto, que propõe uma reabertura gradual do comércio, além de ir contra os decretos municipal e estadual, não é bem vista por representantes oficiais do setor, nem pela Associação dos Motoristas de Aplicativos (AmoAplic/JF) e muitos menos por especialistas.

O próprio prefeito Antônio Almas (PSDB) afirmou, em entrevista coletiva concedida na tarde de sexta, que o decreto sobre as medidas de enfrentamento ao coronavírus, com restrições ao funcionamento do comércio em Juiz de Fora, será mantido. “Pedimos, imploramos e solicitamos que cada cidadão que puder fique em casa”, declarou Almas, na ocasião, acrescentando ter consciência de todos os problemas econômicos que poderão vir do isolamento, visto como extremamente necessário neste momento para salvar vidas.

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“Qualquer decisão tomada terá seus efeitos colaterais. Com todos os riscos, continuamos apostando no isolamento social.”

Ele enfatizou que o pior momento da crise, em um pior cenário, pode acontecer em 15 dias e, em um melhor, em 30. Na sexta, a Prefeitura já investigava três mortes que poderiam ter sido causadas pelo novo coronavírus na cidade. “Até que algum fato novo aconteça, o decreto está em vigor”, disse o prefeito, lembrando que os serviços considerados essenciais, como supermercados e padarias, continuam funcionando durante a pandemia. “Agora não é hora de abrir lojas para vender roupas e sapatos. Entendo a preocupação do setor econômico. Mas este momento é de uma guerra contra uma doença.” Segundo ele, cabem à União medidas para minimizar danos do setor produtivo e perda de empregos.

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Mesmo indo na direção contrária das autoridades locais, a coordenadora regional do Direita Minas, Roberta Lopes, acredita que a carreata convocada para este domingo deva reunir entre 500 e mil carros. “O movimento anunciado para segunda-feira (com concentração no Parque Halfeld) era de iniciativa popular. Mas devido a muitos pedidos, vamos adiantar a carreata para domingo. Vamos descer a Rio Branco pedindo a reabertura do comércio já na segunda”, informou, enquanto organizava a divulgação nas redes sociais. Segundo Roberta, será exigida distância entre os veículos como medida de prevenção.

“Ninguém vai descer do carro, e vamos orientar a higienização com álcool gel. Não estamos desfazendo do vírus, mas a população que não é do grupo de risco pode voltar a trabalhar normalmente.”

Na opinião da coordenadora do Direita Minas, cabe às famílias cuidar de seus idosos a fim de se evitar um caos na economia, o que, de acordo com ela, poderia aumentar a violência e causar mortes por outras doenças. “Defendemos isolamento vertical, somente das pessoas em risco. Podemos dar continuidade na produção do país, sem fazer com que pare e quebre. Quem está em isolamento há muito tempo pode ter instabilidade emocional. O caos aumenta a criminalidade, e houve soltura exacerbada de presos pelo Estado. Tudo isso pode gerar saques em supermercados e bancos. Não queremos isso para nossa cidade.” Roberta destacou que, na visão dela, o retorno gradual das atividades seria feito “com todos os cuidados para não haver contaminação”. “O Governo federal está tomando todas as medidas necessárias para combater o vírus e também defender os empregos, mas entendemos que o isolamento horizontal por longo período pode acarretar consequências muito mais graves do que a doença em si.”

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Questionado sobre o movimento das carreatas em entrevista à Rádio CBN Juiz de Fora, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, alertou que os dados apontam para um crescimento dos casos de coronavírus. “Neste momento, parece prematuro liberarmos todo o retorno da atividade econômica. Mas por outro lado, é uma preocupação do Governo que, realmente, nós não podemos ficar 100% paralisados. O equilíbrio entre a liberação da atividade econômica e o risco sanitário tem que ser mensurado com muito cuidado, com muito juízo.” Ele continuou dizendo que as desacelerações econômicas causam muitos problemas para a sociedade.

“Mas se nós errarmos demais a mão e liberarmos tudo de uma vez, pode trazer um risco grande, com muitas mortes também. Então a coisa não é tão simples assim.”

Além disso, segundo ele, carreata significa aglomeração de pessoas. “Mesmo que não haja isolamento, de forma nenhuma permitir aglomeração é uma coisa razoável.”

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‘Prioridade é a saúde’, afirma presidente da Associação Comercial

“Definitivamente, não vamos participar”, disparou o presidente da Associação Comercial de Juiz de Fora, Aloísio Vasconcelos, sobre as carreatas convocadas nas redes sociais. “Em algumas cidades, essas carreatas foram iniciativas das associações comerciais, mas nós entendemos que não é oportuna. A prioridade é a saúde. Não é o momento de carreata de pressão, temos que estar juntos defendendo a principal meta, que é o combate ao coronavírus. Não vamos participar e somos contra”, enfatizou. Para ele, a reabertura do comércio, neste momento, seria um contrassenso.

“Somos os mais interessados, mas seria irresponsabilidade nossa incentivar os empresários a reabrirem, porque o comércio só funciona se tiver público. Penso que, neste momento, a melhor decisão é continuar o isolamento, seguindo as orientações da OMS e de todos.”

O presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio), Emerson Beloti, também foi contra a manifestação proposta. “Movimentos desse tipo geram aglomeração. Então, não avalizamos tal procedimento.” Segundo ele, a busca é por maior participação das entidades representativas do setor, que gera empregos, com o poder público nos seus estudos, debates e análises sobre o que está acontecendo na cidade, para que os melhores caminhos sejam tomados, com critérios, para uma possível reabertura gradual. “Hoje, sexta feira (27), as ruas do Centro estavam cheias. O comércio está prejudicado porque está fechado por determinação, mas e este movimento todo nas ruas? Tem alguma coisa errada”, observou.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Marcos Casarin, destacou ser necessário agir dentro da legalidade. “Até porque é muita responsabilidade. O prefeito decretou, está decretado.” Casarin contou que muitos empresários têm ligado para a entidade em busca de informações. “Estamos seguindo as orientações oficiais, não quer dizer que o desejo não seja funcionar. Mas não estamos habilitados.”

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Motoristas de aplicativos

Também citados nas convocações para a carreata, os motoristas de aplicativo não aderiram oficialmente ao movimento, conforme o vice-presidente da AmoAplic/JF, Sóstenes Josué.

“Ficamos sabendo das carreatas por meio de cartazes que viralizaram em nosso grupo. Nós da associação não estamos organizando esse movimento e nem sabendo como isso vai acontecer e funcionar. Mas deixamos aos nossos motoristas a liberdade de participar ou não da carreata.”

Segundo ele, alguns condutores são a favor da quarentena, enquanto outros querem voltar ao trabalho pelas dificuldades financeiras. “Não criticamos nenhuma das partes. Cada um sabe onde o calo aperta.”

Sóstenes reforçou que o coronavírus causa muitas mortes, assim como a economia aponta para um cenário complicado. “O que temos feito para os motoristas é lutar para que não fiquem de fora dos subsídios do Governo. Também pedimos às plataformas que nos ajude neste momento, haja vista a defasagem da tarifa, há três anos sem reajuste.”

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Ele finalizou afirmando estar seguindo as orientações oficiais. “É importante que o comércio e a economia voltem a girar para que nossos motoristas tenham condições de sustento. Mas também é de extrema importância os cuidados com a saúde. Se as autoridades disserem que ainda precisamos de quarentena, é nesse posicionamento que vamos alinhar.”

‘Essa parada foi extremamente útil para que houvesse um planejamento’

O médico infectologista do Hospital Universitário (HU), Rodrigo Daniel de Souza, avaliou que a decisão de manter ou não as atividades paradas deve ser muito bem pensada. “Só um gestor é que consegue escutar os dois lados e ponderar isso, tanto o lado técnico da economia, quanto o da saúde. Ele que vai saber a capacidade instalada para absorver os novos casos.” O especialista considera muito válidas as medidas de isolamento.

“Essa parada foi extremamente útil para que houvesse um planejamento e abastecimento dos setores para que venham a suportar os novos casos, principalmente se houver um pico. Mas não vejo como não voltar em algum momento. Não temos como suportar quatro ou cinco meses de quarentena. Infelizmente, uma hora, os casos vão vir, e temos que estar preparados para recebê-los.”

Ainda conforme o infectologista, as autoridades de Saúde devem estabelecer estratégias para um possível crescimento exponencial. “Já percebemos reduções enormes nos números de acidentes, a capacidade de absorção aumentou, temos mais leitos ociosos e ocupação menor em todos os hospitais. Mas só o gestor tem a capacidade de decidir o melhor momento de relaxar essas regras (de isolamento) e cabe a ele também todo o ônus que vier dessa decisão.”

O médico foi taxativo ao dizer que será inevitável que as pessoas sejam infectadas pelo coronavírus. “O principal objetivo dessa parada é evitar o acúmulo de casos graves ao mesmo tempo. Julgamos que todo mundo que teria que pegar, vai pegar. Talvez a gente não consiga proteger a cada pessoa individualmente. Em algum momento, ela vai ser atingida. As pessoas estão muito mobilizadas, pensando que a doença vai sumir. Mas se a gente ficar isolado e pararem todos os casos em Juiz de Fora, mesmo assim, esses casos vão acontecer em outros locais e, em um segundo momento, serão introduzidos aqui. Então a estratégia toda é para reduzir o pico. É o achatamento daquela curva, evitando, assim, totalmente um colapso do sistema de saúde, com acúmulo de casos graves sem capacidade de absorção.”

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