Têm circulado nas redes sociais e em grupos de WhastsApp relatos de caminhoneiros, de diferentes regiões do Brasil, apontando as dificuldades que esta categoria profissional tem enfrentado nas estradas por conta das consequências da pandemia provocada pelo coronavírus. Ao longo dos caminhos que percorrem, esses trabalhadores não estão encontrando condições mínimas para manter o transporte de mercadorias, sobretudo devido às ações restritivas ao tráfego de pessoas e veículos. Borracharias, lojas de peças e serviços de mecânicos, por exemplo, não foram enquadrados como essenciais e, assim, muitos não estão se mantendo em funcionamento. O fechamento de restaurantes é outro entrave apontado pelos motoristas.
Morador do Bairro Retiro, na Zona Sudeste de Juiz de Fora, o caminhoneiro Adamo Raposo, de 43 anos, tem encarado de perto essa realidade. Nessa profissão há cerca de 15 anos, Adamo trabalha com o transporte de combustível e, apesar de não fazer viagens longas, tem se deparado com dificuldades na estrada. A cidade de Campinas (SP) é um dos seus destinos mais longos, distante, aproximadamente, oito horas de viagem. “O maior desafio que eu e outros caminhoneiros estamos enfrentando é a falta de restaurante e lojas de conveniências no trajeto, e o comércio fechado em algumas cidades”, afirma o caminhoneiro, acrescentando que, no que diz respeito ao uso de banheiros, os dos postos de combustíveis têm sido o alento para quem está na estrada há bastante tempo.
“Como faço viagens mais curtas, consigo levar meu próprio lanche e, às vezes, voltar a tempo de dormir em casa. Mas há colegas que viajam por um percurso mais longo, que têm sofrido mais com a falta de estabelecimentos abertos”, ressalta Adamo, lembrando que, em alguns dias, encontra certos estabelecimentos em funcionamento e, nos dias seguintes, os mesmos estão fechados. Para ele, os caminhoneiros estão mais expostos à transmissão do que os trabalhadores que podem trabalhar de casa e ficar isolados, mas lembra que esses motoristas são considerados parte dos serviços essenciais hoje no país. “Como ficar em quarentena, se nossa função, assim como de alguns outros profissionais, é imprescindível?”, questiona.
Para dar uma ideia dos problemas encontrados na estrada, Adamo conta que, de Juiz de Fora a Paulínia, município próximo a Campinas, antes do coronavírus, era possível encontrar 20 opções de borracharia. “Agora, em razão das restrições, encontramos de sete a oito estabelecimentos abertos”, afirma. Ele ainda chama a atenção para o fato de que existe uma pressão para que as viagens não sejam paralisadas, uma vez que isso poderia significar sérios prejuízos para a população no que diz respeito à questão de abastecimento. “A gente entende esse receio, mas é preciso que nos sejam dadas condições para que nosso trabalho continue a ser desempenhado.”
Ação de apoio
Nesta sexta-feira (27), teve início uma mobilização nacional de atenção aos trabalhadores do setor de transporte, especialmente os caminhoneiros, com objetivo de prevenir a contaminação e a disseminação do novo coronavírus (Covid-19). Ações foram realizadas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e pelo Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest/Senat) para minimizar o impacto da falta de serviços essenciais aos motoristas de caminhão, garantindo segurança e apoio na distribuição de produtos de higiene e alimentação aos caminhoneiros. A iniciativa aconteceu em algumas rodovias de Minas Gerais, nas cidades de Juiz de Fora, Araxá, Montes Claros, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Sete Lagoas, Teófilo Otoni e Uberlândia. A campanha organizada pelo Sest/Senat terá 130 pontos nas rodovias de todo país.
Todas as equipes destinadas ao trabalho de apoio, embora reunidas, respeitaram as determinações das autoridades de saúde, com equipamentos, higienização e distância adequada, para garantir que não houvesse propagação da Covid-19. Diversas iniciativas também foram promovidas por voluntários e, por esta razão, a PRF alerta para a importância de que, para a realização das ações voluntárias, nos demais dias, a polícia seja acionada a fim de que seja dado o apoio necessário com o intuito de evitar aglomerações e prevenir acidentes.
Vacinação
O Sest/Senat, por intermédio da Confederação Nacional do Transporte (CNT), solicitou ao Governo federal a inclusão dos motoristas no grupo prioritário da campanha de vacinação contra a gripe, que teve início nesta semana. Também colocou à disposição as suas 155 unidades operacionais, bem como as 55 vans do Programa CNT Sest/Senat de Prevenção de Acidentes para auxiliar nessa ação.
A instituição aguarda agora a disponibilização das doses para que os trabalhadores comecem a ser imunizados. Essa medida é considerada fundamental para reforçar a proteção da saúde desses profissionais, que circulam por todo o país e estão garantindo o abastecimento das cidades, e minimizar o risco de sobrecarga ao sistema público de saúde.
Para aqueles que continuam circulando, a Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR) também anunciou algumas medidas – como a distribuição de álcool em gel nas praças de pedágio e a instalação de postos de atendimento nas estradas para verificar a saúde dos caminhoneiros, como com a medição da temperatura corporal.