A frota de carros elétricos em Juiz de Fora aumentou cerca de 60% em um ano. Conforme dados do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), atualmente existem 530 veículos do tipo emplacados na cidade. Em 2022, esse número era menor, 327 veículos. A maior parte é de veículos híbridos, aqueles cuja fonte de energia não é 100% elétrica, mas combinada com combustíveis tradicionais, como gasolina, etanol ou gás.
O crescimento da frota dos eletrificados em Juiz de Fora superou índices estaduais.
Segundo o Detran, 10.640 veículos do tipo circulavam em Minas Gerais em 2022; neste ano, já são pouco mais de 15 mil, aumento de 40%. A expansão do mercado acompanha tendências vistas no mundo todo. Uma projeção realizada pela Strategy&, consultoria estratégica da PwC Brasil, prevê uma alta de até 106% ao ano nas vendas de veículos elétricos no país até 2029. Conforme o estudo, até 2030, o país deixará de consumir oito bilhões de litros de gasolina, uma redução de 12% em relação à demanda atual.
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Menos de 1% da frota é de carros elétricos
Apesar das boas expectativas, a evolução do setor, em termos proporcionais, ainda é tímida. Em Juiz de Fora, dos 277.706 veículos emplacados, os eletrificados representam 0,19% do total da frota. A popularização dos elétricos ainda possui entraves que não são exclusivos da região. Um deles é o preço. Os modelos mais baratos não custam menos que R$ 140 mil. O valor está mais competitivo em comparação ao que se encontrava no mercado nos últimos anos, mas ainda assim é bem maior do que o de modelos a combustão.
Outra questão é o carregamento, visto que a estrutura necessária para alimentar os veículos pode deixar alguns compradores com o pé atrás. Se o motorista quiser instalar um carregador em casa, vai ter que desembolsar entre R$ 4 mil e R$ 7 mil. Existem também a opção de carregamento em estações fora de domicílio, que ficam em shoppings ou supermercados. Em Juiz de Fora são 12 locais do tipo, segundo a plataforma PlugShare, que mantém atualizado um mapa de carregamento de veículos elétricos em diversos pontos do planeta.
R$ 16 a cada 100km
No entanto, para quem usa um carro elétrico no dia a dia, a melhor opção acaba sendo o carregador doméstico. O empresário Valmir de Castro Pinto instalou um carregador na sede da sua empresa em Juiz de Fora. Ele tem dois carros elétricos, um do modelo Volvo XC40 e um BYD Dolphin. Segundo ele, para o trânsito na cidade, esse tipo de carro é muito econômico. “Diferente do carro a combustão, que gasta mais com o arranca e para do trânsito, o elétrico economiza com essa dinâmica. Quando você para, ele já está carregando. Ele gasta mais quando passa dos 80 km/h, o que geralmente só acontece quando você pega a estrada para uma viagem.”
Fazendo o trajeto de casa para o trabalho diariamente, Valmir afirma que carrega seu veículo a cada 15 dias. O equipamento que possui na empresa é de carregamento lento, do tipo que gera menos impacto na conta de luz. “A cada 100 km que eu ando, gasto uns R$ 22 no Volvo, que é um carro grande. No carro menor (Dolphin), gasto cerca de R$ 16 a cada 100 km. No mês, o aumento da conta de luz não passa de R$ 50.” Com o carregamento lento, o seu carro demora de 6 a 8 horas para completar a carga. Dessa forma, o impacto na conta de luz é mais baixo. No caso de carregadores rápidos, do tipo que são oferecidos em pontos fora de casa, um carro pode ser alimentado em até uma hora.
‘Encantadores’
De acordo com Valmir, as vantagens de um automóvel elétrico não são apenas econômicas. O empresário é um entusiasta de carros e gosta de acompanhar as novas tecnologias que chegam no mercado. “O carro elétrico é uma maravilha, espetacular. Eu tenho seis carros, dois são elétricos e são encantadores, é silencioso, uma potência direta excelente. O carro chega a te encostar no banco quando você acelera. É muito bom e quase não dá problema de manutenção.”
A manutenção mais barata é uma das vantagens apontadas pelo usuário. Os gastos em oficinas são menores, principalmente por conta da quantidade reduzida de peças, especialmente as que não apresentam grandes desgastes e exigem trocas constantes. Conforme o diretor Comercial da NeoCharge, empresa de infraestrutura para recarga de veículos elétricos, Rodrigo Carrau, um exemplo claro de menor custo de manutenção são as trocas da pastilha de freio.
“Um motorista de carro elétrico pode ficar até nove anos sem trocar a pastilha de freio. Em um carro a combustão, você faz isso praticamente a cada dois meses. Os carros 100% elétricos possuem uma inércia muito forte para recarregar as baterias quando o carro está em movimento. Você está acelerando o veículo e, quando precisa parar em um semáforo, só solta o veículo e ele dá uma puxada muito forte, justamente por conta dessa regeneração que o carro vai buscar para jogar energia para a bateria.”
Até 80% o valor da gasolina
Além das vantagens na manutenção, a principal economia observada no consumo dos carros elétricos é na fonte de energia. De acordo com a NeoCharge, um carro elétrico pode ser até 80% mais econômico que um carro movido a gasolina. Em uma projeção feita pela empresa, com um preço médio da gasolina de R$ 5,82 por litro, um carro a combustão que rode 20.000 km por ano, com uma eficiência de 10 km/L (quilômetro por litro), teria um gasto anual de R$ 11.663,28. Em contrapartida, um veículo elétrico com o mesmo número de quilômetros percorridos anualmente e um consumo de 6 km/kWh (quilômetro por quilowatt-hora) a R$ 0,72 por kWh resultaria em um gasto de apenas R$ 2.401,92. Isso representa uma economia de 79% ou R$ 9.261,36 ao ano.
Segundo Rodrigo Carrau, a economia pode variar conforme o modelo do elétrico usado. Quando falamos de veículos eletrificados, englobamos aqueles 100% movidos a energia elétrica e também os híbridos. No que diz respeito aos híbridos, existem dois tipos: os híbridos e os híbridos plug-in. A diferença é que a bateria dos carros plug-in pode ser recarregada por uma fonte externa, enquanto os híbridos comuns não possuem entrada para o carregador e a fonte se alimenta apenas durante o uso do carro, aumentando a eficiência de energia e reduzindo o gasto de combustão.
Autonomia
Quando se fala em vantagens e desvantagens dos eletrificados, um termo comum é “autonomia”. A autonomia de um veículo elétrico é o quanto ele consegue andar até que a carga da bateria acabe. Ao longo dos anos, e com o avanço da tecnologia, a autonomia desses automóveis pôde chegar a mais de 500 km. O Volvo CX40, de Valmir, possui autonomia de 300 km. O empresário, que também faz negócios em Cabo Frio, cidade distante 309 km de Juiz de Fora, afirma que percorreu o trajeto em seu carro elétrico e “chegou no limite”, visto que ao longo do percurso não existem pontos para recarga. “Em Cabo Frio eu tenho uma residência e uma empresa onde tenho carregador. Quando chego lá coloco direto pra carregar. Viagem acima de 300 km é complicado, mas eu acredito que apenas por enquanto. Os carros estão vindo cada vez com mais autonomia.”
Recorde em outubro
Segundo o acompanhamento realizado pela Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), no mês de outubro, as vendas de veículos elétricos cresceram 114% em relação ao mês de setembro. O Brasil já se aproxima dos 200 mil veículos eletrificados leves em circulação, desde o início da série histórica da ABVE (2012). Em outubro, chegou a 193.486.
De acordo com o representante da ABVE, Márcio Severine, apesar dos valores dos veículos eletrificados estarem distante da realidade da maior parte dos brasileiros, a queda gradual nos preços e a maior opção de modelos no mercado ajuda com que os índices sejam cada vez mais animadores. “Em breve, as dificuldades que nós temos, como a escassez de postos de recarga, vão ser sanadas, à medida em que os governos entenderem que o avanço do mercado de carros eletrificados no país é o início de uma mudança da matriz energética no âmbito da mobilidade elétrica.”
Para Severine, o próximo passo é a adoção dos veículos elétricos e a expansão do modelo para outras economias, como o transporte de carga, com a adoção de veículos elétricos pesados e o transporte de aplicativo. “São setores que, com a adoção do elétrico, vão se tornar mais econômicos e menos poluentes, reduzindo significativamente o custo de operação.”