Em plena entressafra, a baixa remuneração ao produtor de leite preocupa tanto que a categoria já sinaliza linhas de ação que podem provocar impactos na mesa do consumidor nos próximos anos, como diminuir a produção, reduzir o consumo de insumos e cortar custos dentro da fazenda. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP, o valor médio bruto pago ao produtor na Zona da Mata é R$ 1,1277 pelo litro do leite cru, tipo C, variando de R$ 0,9763 a R$ 1,2369. Considerando a cifra líquida, a média chega a R$ 1,0401, sendo pago de R$ 0,9031 a R$ 1,1578 o litro. Os valores são menores do que as médias verificadas no estado: R$ 1,1570 (líquido) e R$ 1,2671 (bruto).
Os preços brutos consideram frete e impostos (valores pagos por laticínios/cooperativas). Já os líquidos representam os valores recebidos pelos produtores. Os números referem-se aos preços pagos/recebidos pelo leite em agosto, relativos à produção entregue no mês anterior.
Em Juiz de Fora, o valor médio pago ao produtor varia de R$ 1 a R$ 1,10, de acordo com cálculos da Secretaria de Agropecuária e Abastecimento (SAA). No mesmo período do ano passado, a cifra média variava entre R$ 1,60 e R$ 1,70, podendo chegar a R$ 1,85 em alguns casos. Como consequência direta, o preço ao consumidor final também apresenta queda. Na pesquisa semanal do preço médio do leite pasteurizado integral, o valor apurado foi de R$ 3,042, com mínimo de R$ 2,5 e máximo de R$ 3,8, referente ao dia 20 de setembro.
Em relação à primeira pesquisa do ano, divulgada no dia 4 de janeiro, a alta é de 2,2%. Os juiz-foranos começaram o ano pagando, em média, R$ 2,977 pelo litro da bebida. Na comparação com o mesmo período do ano passado, no entanto, a queda chega a 16%. Na época (21 de setembro de 2016), o litro era vendido, em média, a R$ 3,626 no mercado local.
Produtor já cogita reduzir produção
Na semana passada, a Comissão de Leite da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) realizou uma reunião de emergência para discutir a baixa remuneração ao produtor de leite. Segundo o presidente da federação, Roberto Simões, em Minas Gerais, a remuneração tem caído sistematicamente. “Há uma diferença entre o preço pago pelo litro do leite e o custo para produzi-lo. O produtor está trabalhando no prejuízo.”
O presidente da Comissão de Pecuária de Leite da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Rodrigo Alvim, adverte para a gravidade do problema. “Seca prolongada, economia fragilizada e importação sem critérios levaram a esta situação. Desestimulados, os produtores começam a falar em diminuir a produção, demitir funcionários e, em caso extremo, abandonar a atividade. Além dos problemas internos, ainda temos políticas de comércio internacional que favorecem produtores do Mercosul, de quem o Brasil compra leite.”
O presidente da Comissão de Leite da Faemg, Eduardo Penna, lembra que, há quatro meses, a situação tornou-se ainda mais preocupante. “Na reunião, começamos a cogitar a diminuição da produção. Não estamos vendo outra saída; ou o produtor diminui seus custos, ou vai quebrar. Estamos falando de ajustes para a sobrevivência. A maioria dos produtores é de pequeno porte; na fazenda trabalha a família, que é a mão de obra. Já os maiores produtores, aqueles que dão emprego, não vão conseguir aguentar por muito tempo.” Uma das preocupações, comenta, é o desemprego. “A situação obriga que os produtores cortem custos e se adaptem. A primeira opção é diminuir a produção e o consumo de insumos. Na sequência, podem acontecer demissões.”
Produtores falam em uma das piores crises da história
Para o presidente do Sindicato Rural de Lima Duarte, Olivier de Paula Campos, a situação está crítica para o produtor. “Há uma absoluta falta de critérios para a formação do preço do leite. Os laticínios pagam os produtores do jeito e o quanto eles querem. As indústrias não correm risco nenhum. Os riscos ficam todos com os produtores de leite. Não tem como investir; não vemos resultados. A situação é muito preocupante.”
O representante do Sindicato Rural de Leopoldina, Salviano Junqueira, enumera problemas, como excesso de importação, falta de previsibilidade do mercado e falta de uma política pública para o setor. “Não temos como nos planejar e nem pensar em novos investimentos.” Para o vice-presidente do Sindicato Rural de Curvelo, Dalton Canabrava, o problema é que os custos de produção não compensam. “De todas as atividades do agronegócio, o leite é o que tem maior impacto social. Somos, na maioria, pequenos produtores e geramos muitos empregos. O efeito dessa crise na cadeia produtiva do leite nos preocupa.”
Para o assessor da Secretaria de Agropecuária e Abastecimento (SAA), Dalton José Abud, o preço do leite está cada vez mais baixo em Juiz de Fora. “Não vejo, a médio prazo, uma melhora.” Entre os fatores destacados por ele estão o aumento da produção em função da evolução e das novas técnicas utilizadas, o mercado globalizado – e a polêmica importação do leite em pó do Uruguai -, e a retração na demanda por derivados do leite com maior valor agregado, em função do momento econômico. Abud aposta na chegada da primavera e do período das chuvas para melhorar a qualidade do pasto, aumentando, ainda mais, a produção.