Dentre as medidas emergenciais anunciadas pelo Governo estadual para garantir o abastecimento em meio à pandemia de coronavírus, o Comitê Extraordinário de Minas instituiu, no último domingo (22), a limitação do quantitativo de produtos essenciais à saúde, higiene e alimentação comprados individualmente, para evitar o esvaziamento de estoque. Entretanto, as restrições ainda são aplicadas a poucos produtos pelas redes de varejo em Juiz de Fora, uma vez que os depósitos continuam abastecidos. Apesar da desenfreada corrida aos supermercados na última semana, o fluxo é menor desde o fim de semana. O isolamento social levou os clientes a adotar novos hábitos de consumo.
De acordo com o diretor-executivo do Pais e Filhos Supermercados, Marco Antonio Fernandes, as restrições aplicadas pela rede é justificada mais por logística de fornecimento do que por alta demanda de clientes. “Estamos limitando alguns poucos produtos. O grande objetivo é atender o máximo possível de pessoas, mesmo porque não existe esse risco de desabastecimento. As indústrias estão sobrecarregadas de pedidos, mas as mercadorias têm chegado. Estamos tomando a precaução de limitar poucos itens. Mais por questão logística. Ao limitar estes produtos que enfrentam problemas logísticos, conseguimos que haja um tempo hábil para a entrega e que não falte nas gôndolas para o consumidor.”
Conforme o diretor-executivo, a limitação é aplicada pelo Pais e Filhos ao álcool em gel e ao leite longa vida. “Os laticínios estavam com dificuldades de entregá-lo, mas (o fornecimento) já está normalizando nesta semana”, explica. “E, infelizmente, o vilão, neste momento, é o álcool em gel, porque as indústrias não estão dando conta de entregá-lo. Muitas vezes nem por não ter o álcool em gel, mas, como é uma cadeia, a indústria do álcool depende da indústria da embalagem, por exemplo. Muitas vezes não está faltando álcool, mas a embalagem para o produto. E a demanda cresceu também, porque, na minha opinião, as pessoas têm confundido o álcool em gel com lavar as mãos.”
Devido à falta de álcool em gel nas gôndolas, o Grupo Bahamas e a Agência de Proteção e Defesa do Consumidor de Juiz de Fora (Procon) firmaram, ainda antes da determinação do Governo estadual, um acordo para limitar individualmente a venda de unidades. “Embora o Código de Defesa do Consumidor (CDC) vede a limitação, o Procon entendeu a nossa preocupação e nos deu a liberdade, já também, de dentro da necessidade, fazer esse tipo de limitação”, relata o diretor de marketing Nelson Júnior. Segundo Nelson, a rede de varejo gerencia as categorias de produtos simultaneamente às vendas para determinar a limitação conforme a necessidade. “Se percebemos, às 10h, que um produto está vendendo demais, o limitamos. (…) Hoje, por exemplo, são poucos os produtos da área de alimentação em que há a necessidade (de limitação). Por exemplo, o açúcar. Estamos limitando em um número suficiente que uma família consuma. Nenhuma família compra mais de três pacotes de cinco quilos.”
Como explica Nelson, a restrição do produto é feita diretamente nas prateleiras. “Quando o produto é limitado, o consumidor precisa entender que não vai poder comprar um volume maior. Não podemos surpreender o cliente na hora de pagar. Quando estamos fazendo ofertas promocionais e precisamos limitar algum produto, já o limitamos nas ofertas comerciais.” De acordo com o diretor de marketing, a medida do Comitê Extraordinário dá liberdade de ação ao supermercado dentro de sua necessidade. “Estamos monitorando as vendas diariamente para tomar a decisão de limitar. Agora, com essa tranquilidade, de ter uma normativa do Governo estadual, de ter um entendimento que dá justa causa para essa ação.”
Álcool em gel: duas unidades
Na unidade dos Supermercados BH, o único produto sob restrição de venda é o álcool em gel, limitado a duas unidades por cliente. De acordo com o gerente comercial, Agnaldo Rodrigues, uma vez que não há riscos de desabastecimento, a limitação não se estende a outras mercadorias. “O que está faltando hoje é somente o álcool em gel, porque o nosso fornecedor não está conseguindo entregar uma demanda maior. Agora, com relação aos outros produtos, não há número limitado. (…) Nos primeiros dias, houve uma demanda muito alta pelos demais produtos, mas, agora, cessou um pouco.” O quantitativo limite é o mesmo adotado pelo Supermercado Bretas. Entretanto, a rede já estende a restrição aos demais itens básicos. “Muitos clientes estão em busca destes insumos de higiene pessoal e limpeza, por isso estamos limitando a venda de itens básicos, como óleo de soja (cinco unidades), leite longa vida (duas caixas), arroz (três pacotes de cinco quilos), álcool em gel e álcool 70 (duas unidades de cada quando disponível em estoque), visando atender ao maior número de consumidores possível”, informa, em nota, à Tribuna.
Mudança de perfil de consumo
Embora também limite itens básicos, o Supermercado Sales não registrou, até o momento, compras “com grandes volumes”, conforme o gerente José Bispo dos Santos. “Recebemos o comunicado da central da empresa sobre a limitação de mercadorias e colocamos nos setores para avisar aos clientes. E nenhum cliente chegou a comprar altos volumes ou questionar algo. Estamos trabalhando com varejo mesmo. Não houve cliente querendo dez, 20, 30 unidades de algum produto, por exemplo. Nada disso. É o básico do dia a dia. Assim, também acho que os consumidores vão aderindo a tudo isso em decorrência da comunicação. Até aqui, não tive dificuldades.” Desde o último sábado (21), de acordo com Bispo, o movimento na loja tem diminuído após grande fluxo entre quarta e sexta-feira.
O gerente comercial do Supermercados BH, Agnaldo Rodrigues, também nota o fluxo menor de clientes nos últimos dias, mas alerta para nova corrida próxima ao quinto dia útil de abril. “Desde domingo (22) já deu uma caída, e as vendas voltaram ao normal. Na realidade, é porque muita gente já havia comprado as mercadorias. Creio eu que no dia 5 de abril deve haver outro pique (de compras) por conta do pagamento. A nossa loja estará bem abastecida e preparada para receber os clientes.” Conforme Agnaldo, o movimento foi fora da curva apenas nos primeiros dias da última semana. “Em busca de alimentos, e, principalmente, produtos da área de higiene pessoal, como papel higiênico, água sanitária, papel toalha etc., sendo o carro-chefe o álcool em gel. Tivemos que aumentar o estoque destes produtos.”
O diretor-executivo do Pais e Filhos, Marco Antonio Fernandes, atribui a queda do movimento a uma mudança de hábito do consumidor em razão das recomendações de isolamento social das autoridades em saúde. “O consumidor tem o hábito de ir diariamente ao supermercado. Mas, com o advento da Covid-19, as pessoas estão evitando ir muitas vezes por semana. Daí ter o mudado o perfil de compras e, por isso, há mais compras maiores. É claro que (a permanência de) muitas pessoas em casa faz com que, naturalmente, as compras e o consumo aumentem. O consumo doméstico tem uma tendência de crescimento. (…) Aumentou o volume de compras, mas diminuiu o número de pessoas nos supermercados. E as pessoas estão sendo conscientizadas por todas as redes de supermercados de que não há desabastecimento.”
Fluxo de clientes é limitado
Ainda que o movimento nos supermercados tenha sido normalizado nos últimos dias, as redes de varejo têm implementado medidas para contingência do fluxo de clientes dentro das lojas e para prevenção dos próprios funcionários. As unidades já funcionam com a limitação de clientes por vez, conforme o tamanho dos estabelecimentos, e as filas são monitoradas para manter a distância mínima entre os consumidores a fim de evitar aglomerações. Além disso, tanto aos funcionários quanto aos clientes é oferecido álcool em gel, também utilizado para higienizar carrinhos e cestos.
“(O limite de clientes) é de acordo com a quantidade que há na loja. Hoje (segunda), por exemplo, houve um grupo de mais ou menos 20 pessoas que entrou, fez as compras e veio para o caixa. Pedimos o espaçamento mínimo de dois metros na fila, e os caixas estavam atendendo alternadamente. Se saírem cinco do supermercado, deixamos entrar cinco. Estamos acompanhando o fluxo. O movimento hoje (segunda) foi bem devagar. Bem quietinho. Sai um, entra outro. (…) Para os funcionários, temos dado álcool em gel e máscara. Estamos tentando trabalhar em cima disso. Estamos orientando todos os setores a trabalhar com luvas, máscaras e a higienizar as mãos com álcool em gel”, explica o gerente comercial do Supermercado Sales José Bispo dos Santos.
No Supermercados BH, apenas 50 clientes adentram a loja por vez, como explica o gerente comercial. “À medida que os consumidores saem, outros entram. Saíram cinco, entram cinco, desde que não ultrapasse o limite de 50 pessoas.” Em escassez no mercado, o álcool em gel é disponibilizado tanto para clientes quanto para funcionários. “Estamos disponibilizando para todos os colaboradores. Caso o cliente queira utilizá-lo, também pode. E a gente vem higienizando os nossos carrinhos. Como te falei, todos os funcionários têm máscaras à disposição para utilizar. O álcool em gel está disponibilizado tanto na entrada da loja para os clientes quanto nos check-outs, principalmente depois de manusear dinheiro.”
Já no Bahamas, desde a última terça (24), a primeira hora de funcionamento das lojas é exclusivamente reservada a idosos. Além disso, a entrada de consumidores é limitada conforme o metro quadrado de cada estabelecimento: nas maiores, entram cem por vez, e, nas menores, 50. “As pessoas que têm costume de ir a cada loja sabem o horário de abertura de cada uma. Quando elas chegarem na loja, já vão ter essa informação. Atendemos a mais uma reivindicação e daremos qualidade de atendimento para que os idosos não tenham a concorrência de outros compradores dentro da loja e possam fazer as compras com mais agilidade”, explica o diretor de Marketing, Nelson Júnior. Para os funcionários, o álcool em gel foi disponibilizado apenas nesta semana. “Na última semana, não tinha como oferecer, pois não tínhamos o produto. Chegou uma carga, e a empresa determinou certo volume para os colaboradores. Além disso, estamos orientando a todos eles que o mais importante é lavar as mãos. Há uma orientação dos fiscais de caixa de, a todo o momento, liberar os colaboradores para lavar as mãos. De período em período.”
Em estudo
De acordo com o diretor-executivo do Pais e Filhos, Marco Antonio Fernandes, a restrição de clientes dentro das lojas da rede de varejo ainda é estudada, uma vez que, ao fazer filas do lado de fora, os clientes ficam expostos à Covid-19. “Como a gente tem monitorado a quantidade de pessoas dentro do supermercado, está muito confortável para os clientes fazerem as compras sem tumulto. Inclusive, temos funcionários dentro das lojas oferecendo álcool em gel, fazendo a higienização de todos os carrinhos e cestos para as pessoas terem segurança. Disponibilizamos álcool em gel não só para funcionários, mas para todos os clientes nas lojas e, como esse movimento diminuiu, estamos monitorando a quantidade de pessoas. Hoje (segunda), o movimento está bem aquém daquilo do que tínhamos registrado na semana passada. Uma preocupação que nós temos é a formação de filas do lado de fora das lojas, onde as pessoas podem ficar muito aglomeradas e, aí sim, mais expostas ao risco do que estarem espalhadas na loja. É uma leitura nossa”, adverte Marco Antonio.