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Indústria de Juiz de Fora fica em compasso de espera

indústria cuecas vermelhas Marcelo Ribeiro
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A perspectiva de retorno, ainda que modesto, do crescimento da economia brasileira em 2017 trouxe alento temporário para a indústria de Juiz de Fora. Desde 2014, o setor tem sofrido uma forte retração, que culminou no fechamento de seis empresas e a perda de 3.917 postos de trabalho, conforme dados da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (Jucemg) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O cenário deu sinais de possíveis mudanças no início deste ano. Entre janeiro e abril, a indústria não fechou estabelecimentos, abriu 27 novos e criou 295 empregos com carteira assinada na cidade. Os segmentos têxtil e de confecções projetaram crescimento de 10%, a primeira expectativa positiva após amargarem três resultados negativos consecutivos. No entanto, os recentes acontecimentos políticos trouxeram, novamente, a incerteza.

Setor têxtil e de confecção chegou a projetar crescimento de 10%, mas agora espera definição de cenário nacional

O ano começou com o aumento da demanda do mercado interno para a indústria. “O consumidor voltou a comprar, e isto aqueceu a cadeia produtiva. Com o comércio vendendo, a indústria passou a produzir mais. Algumas empresas que estavam trabalhando no limite sentiram a necessidade de repor o quadro de funcionários. Esta movimentação criou uma boa expectativa”, explica o economista do Centro Industrial, Antônio Flávio Lucca do Nascimento. “Após um quadro altamente recessivo, os números positivos trouxeram otimismo. Embora pequenos, mostravam que o setor não estava mais em queda. A questão é que os resultados por si só não significavam a recuperação, mas o indício do que poderia vir. Acreditava-se muito que as coisas pudessem melhorar, mas a situação política deu um estanque nessas projeções.”

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O economista lembra que o cenário atual prejudica os investimentos. “O empresário só tem controle das variáveis internas, que estão ao alcance dele. Estas condições externas, como é o caso da atual situação política, apenas dão o sinal de alerta para que ele coloque o pé no freio na hora de investir”, analisa. “Sem investimento, a indústria reduz a produtividade e não consegue baixar os custos para poder oferecer preços melhores ao mercado.”

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O presidente do Centro Industrial, Leomar Delgado, confirma que o aumento da confiança do setor aconteceu paralelamente às pequenas reações do mercado. “O empresário é um otimista patológico. Começamos a ver a possibilidade de reverter o quadro recessivo com a retomada das contratações. Mesmo que os empregos não cheguem perto do que perdemos, vimos ali um avanço. Nós precisávamos apenas de um tempo maior para sentir firmeza nos indicadores, perceber que o cenário positivo iria se consolidar, mas agora voltamos às dúvidas.” Para ele, só uma definição política irá mostrar os rumos que os mercados interno e externo irão tomar. “O momento é de espera. A única certeza que temos é que há uma necessidade urgente de voltar a ver o Brasil crescer. A indústria não suporta mais o ritmo de queda dos últimos anos.”

Delações da JBS colocaram freio na economia

O economista e professor da UFJF, Wilson Rotatori, e o graduando em ciências econômicas, Vinícius Nardy, integrantes do projeto Conjuntura e Mercados, avaliam que as consequências políticas das delações dos executivos da JBS, ocorridas no último mês, impactam diretamente a economia. “As revelações colocaram em cheque a continuidade do ambiente de austeridade propagado pelo atual governo, que vinha conseguindo números positivos, conquistando a confiança do mercado e, com isso, alavancando cortes cada vez mais significativos na Taxa Selic, base para os juros cobrados das famílias e das empresas”, explica Nardy.

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O principal impacto deve ser o adiamento da retomada do crescimento econômico do país. “Sem credibilidade para levar adiante a política econômica proposta, o Governo deverá conviver com a alta do dólar e a redução dos investimentos, que serão desestimulados pela incerteza e pelo ritmo menor de queda nos juros. Isto dificultará ainda mais a recuperação do emprego, do consumo das famílias e, consequentemente, atrasará a já tardia recuperação da economia”, analisa Rotatori.

Setor de vestuário chegou a ter alta no faturamento

As indústrias têxtil e de confecção anseiam pela retomada do crescimento. Juiz de Fora é um dos principais núcleos das atividades, sendo o quarto município mineiro em número de estabelecimentos, um total de 420, atrás de Belo Horizonte (863), Divinópolis (652) e Monte Sião (582). Mesmo após as perda de postos de trabalho nos últimos anos, a cidade ainda

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emprega 4.870 trabalhadores em ambos os segmentos. Em toda a Zona da Mata são quase duas mil empresas que geram 26.251 empregos. Os números mostram a relevância de um mercado que, voltando a crescer, pode se tornar um dos principais propulsores do desenvolvimento econômico regional.

No primeiro bimestre deste ano, o segmento de vestuário e acessórios da Zona da Mata viu o faturamento aumentar 61,4% em comparação com igual período de 2016. Já a indústria têxtil apresentou crescimento de 5,4% neste intervalo. Os dados são da Pesquisa Indicadores Econômicos (Index) da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). De acordo com a análise do estudo, os resultados positivos foram decorrentes do aumento das vendas para o mercado interno. A projeção inicial era de crescimento de 10% em 2017.

Presidente do Sindvest-JF, Guilherme Marcon, diz que empresas locais acompanharam a realidade nacional

Para o economista do Centro Industrial, Antônio Flávio Lucca do Nascimento, somente a manutenção desses números poderia mostrar a saída da recessão, o que, no entanto, não aconteceu. A última pesquisa Index, divulgada em maio, mostrou queda dos indicadores. “Para falarmos em retomada do crescimento, precisamos de uma situação contínua, que mostre a estabilidade dos números.” O presidente do Sindicato do Vestuário de Juiz de Fora (Sindvest-JF), Guilherme Marcon, diz que o desempenho das atividades no município acompanhou a realidade nacional de queda, com a redução de importações, exportações, faturamento e emprego. Entre 2014 e 2016, foram fechados 1.741 postos de trabalho na Zona da Mata. Em Juiz de Fora, a perda foi de 970 empregos.

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