Consumidores de Juiz de Fora e da região movimentaram o comércio nesta sexta-feira, dia de Black Friday. Em busca dos produtos anunciados com descontos de até 80%, eles enfrentaram filas desde a madrugada, algumas com duração de até três horas, e lojas bem cheias. A movimentação foi mais intensa nas grandes redes varejistas de eletrodomésticos e eletrônico, mas estabelecimentos de menor porte dos segmentos de vestuário, acessórios e utilidades também identificaram aumento de vendas. Em alguns locais, a demanda triplicou em relação aos dias comuns, o que trouxe otimismo ao comércio. A aposta, neste fim de ano, é de que a data contribua para a retomada do consumo, que estava em queda por causa da crise econômica. O retorno do consumidor às compras é motivo de comemoração.
A professora Ailen Carvalho Dias iniciou as compras por volta de meia-noite, na Lojas Americanas. Ao lado da neta Aillen, ela conta que enfrentou uma longa fila, mas que a experiência foi válida. “Os preços estavam realmente bons. Comprei uma televisão de 32 polegadas e vários itens de perfumaria.” Na manhã de sexta, elas voltaram às compras no Centro. “Descansamos muito pouco, mas é por uma boa causa”, brinca. “Comprei panela de pressão, lençol e artigos para casa. Não me planejei para Black Friday, mas enxerguei nos preços mais baixos uma oportunidade.”
Já os irmãos Tamires de Araújo Otaviano e Altamir Araújo Otaviano decidiram se preparar para a data. “Na semana passada, fomos as lojas e olhamos os preços dos produtos que queríamos comprar para poder fazer a comparação”, diz ele. “Compramos secador, batedeira e liquidificador, cada produto em uma loja diferente, onde realmente o desconto valeu a pena. Ainda não encontramos microondas e celular com valor mais barato do que vimos antes”, afirma a atendente.
A arte finalista Simone Lima enfrentou três horas de fila numa loja de departamento, onde chegou às 10h. Depois de escolher travesseiros, roupas íntimas, produtos de higiene e beleza, além de alimentos, ela foi para o caixa pagar as compras. “Os preços estavam abaixo da metade, valeu a pena esperar, apesar da demora.” A consumidora só conseguiu sair da loja por volta das 13h30, mas saiu satisfeita.
De Santos Dumont
Morador de Santos Dumont, o militar Luiz Gustavo Gomes da Silva também optou pelo planejamento e fez uma reserva financeira. “Minha esposa e eu guardamos o dinheiro para poder gastar na Black Friday. Até o momento, comprei fritadeira, panela e vassoura elétrica, mas estou procurando mais eletrodomésticos”, diz. “Cheguei em Juiz de Fora por volta das 8h e, desde então, estou vendo as promoções. Já visitei Lojas Americanas, Casas Bahia, Ricardo Eletro e vou continuar.”
Vendas superam expectativa
Para os lojistas, a movimentação deste ano está superior a de 2016, e a projeção é de crescimento das vendas. “Começamos a Black Friday às 18h de quinta-feira (23) e quando abrimos a loja na sexta-feira, às 6h, já havia fila. Para controlar o fluxo dos consumidores, criamos uma porta de entrada e uma de saída”, conta o gerente regional da Ricardo Eletro, Márcio Chaves. “Em dois dias, já batemos a metade da meta de vendas do mês. Estamos muito otimistas com os resultados.
A gerente da loja de utilidades Super Lar, Talia Cristina Ribeiro, diz que foi necessário repor o estoque ao longo do dia. “Colocamos as mantas à venda com mais de 60% de desconto e tivemos que limitar a compra a duas peças por pessoa. O produto acaba em questão de minutos, e estamos trazendo remessas para reposição.” Segundo ela, com a movimentação muito superior em comparação com os dias comuns, a expectativa é de um aumento expressivo nas vendas.
As lojas da Casas Bahia também abriram as portas às 6h, e a movimentação foi gradativa ao longo do dia, conforme a assessoria. Celular, fritadeira e panelas elétricas foram os produtos mais vendidos. “Desde o final do ano passado, estamos nos preparando internamente para a data, trazendo estoques adequados, equipes de vendas treinadas e ofertas mais agressivas do que em 2016”, informou o diretor comercial, Luiz Henrique Vendramini.
No Shopping Jardim Norte, o fluxo de clientes, até as 13h de ontem, já havia superado em 39% o registrado na Black Friday do ano passado, conforme informações da assessoria. “Há produtos e serviços com até 70% de desconto também no final de semana. São três dias de liquidação, com a participação de marcas dos mais variados segmentos, incluindo as operações de lazer”, diz em nota a assessoria.
Os supermercados também aderiram à iniciativa. No Carrefour, consumidores formaram filas logo pela manhã em busca de alimentos, bebidas e eletrodomésticos. Já a pizzaria Mister Tuggas criou um alvoroço nas redes sociais com o anúncio de que os clientes receberiam um voucher com o mesmo valor da despesa do dia para ser usado na próxima vez em que forem ao estabelecimento.
Movimento na Rua São João
Na Rua São João, no Centro, mantendo a tradição já percebida em outras datas comemorativas, lojistas, em parceria com cervejarias, prepararam uma ação com música ao vivo, cervejas artesanais e food trucks, das 14h às 22h. A mobilização teve início na quinta, mas o movimento foi impactado pelas chuvas, e segue neste sábado, a partir das 9h. As tendas brancas e os trucks coloridos contrastavam com as bolas amarelas e pretas, formando um cinturão por todo o calçadão. Sentados nas mesas, estavam consumidores atraídos pelas inúmeras promoções anunciadas no dia e trabalhadores no intervalo da jornada ou comemorando o fim dela.
Entre um gole de cerveja e outro, eles reforçaram o apoio à iniciativa. A cervejeira Ivya Lembke comenta que, tirando os impactos da chuva, na sua opinião, o movimento estava bom. Ela diz que é a segunda participação da Cervejaria Fathack nos eventos promovidos na São João e, na sua opinião, os objetivos de promover uma nova ocupação e direcionar um novo olhar para o espaço estão sendo atingidos. O movimento nas lojas era tímido na tarde desta sexta, mas a expectativa era que ganhasse corpo no dia seguinte. Neste sábado (25), as lojas da rua ficam abertas das 9h às 13h. Nos shoppings, a Black Friday se estende até domingo (26).
Especialistas alertam para compras por impulso
O anúncio de descontos de até 80% não deve ser motivo decisivo para a compra, conforme alerta o chefe de atendimento da Agência de Proteção e Defesa do Consumidor de Juiz de Fora (Procon/JF), Oscar Furtado. “Antes de comprar é preciso ter certeza de que aquele produto é necessário. Quem age por impulso pode se arrepender depois, e vale a pena destacar que nas compras em lojas físicas a troca ou devolução só é obrigatória se o produto apresentar defeito.” Ele explica que nas compras pela internet, o consumidor tem direito ao arrependimento, podendo devolver ou resgatar o dinheiro da compra num prazo de até sete dias após a entrega. “Isto é possível, mesmo que não haja nenhum defeito. É aconselhável apenas não rasgar a embalagem ou retirar a etiqueta, manter o produto conservado.”
Uma vez que o consumidor constatou a necessidade do produto, Oscar diz que ele deve realizar uma pesquisa de preços. “A escolha da loja não deve ser feita com base no anúncio de maior desconto. É preciso comparar os valores reais oferecidos pelos estabelecimentos para ver qual oferece as melhores condições.” Feito isso, a orientação é sobre a forma de pagamento. “Sempre que possível, o consumidor deve pagar à vista. Se for preciso parcelar, que seja o mínimo de prestações possíveis.”
Na internet, mais reclamações em relação a 2016
Segundo levantamento do Reclame Aqui, até o início da tarde de sexta (24), foram registradas 1.374 reclamações, um aumento de 16,7% em relação ao mesmo período do ano passado. O principal motivo é a propaganda enganosa, que atinge 14% das queixas. Divergência de valores e problemas para finalizar a compra também foram reportados. Para Felipe Paniago, diretor de marketing do Reclame Aqui, “o consumidor está mais preparado e aprendeu a detectar se as ofertas são verdadeiras ou não”. Ainda de acordo com Paniago, os brasileiros esperavam mais. “Descontos de 50% não aconteceram muito, e era o que o consumidor estava esperando. Produtos com 20% são considerados com boa oferta”, diz.
O chefe de atendimento do Procon/JF, Oscar Furtado, observa que as compras on-line devem seguir os mesmos princípios já citados, com a diferença de que o consumidor deve estar atento à idoneidade do site. “É importante verificar se o portal é confiável. Na nossa página, no site da Prefeitura (www.pjf.mg.gov.br), nós listamos os sites. Este trabalho também é feito pela Fundação Procon de São Paulo (www.procon.sp.gov.br).” Durante todo o dia de ontem, o Procon SP realizou um plantão especial para a Black Friday na qual alertou os consumidores sobre quais promoções on-line realmente valiam à pena.
De acordo com Oscar, outra estratégia para verificar se o site é de confiança é analisar as informações oferecidas na primeira página. “É preciso que sejam informados o nome, endereço, CNPJ e contato da empresa.” Os sites terminados em ponto com ponto br têm hospedagem no país e podem ser rastreados, já aqueles terminados em ponto com não.”
Desconfie
O coordenador acadêmico do MBA em Marketing Digital e do post-MBA em Digital Business da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Miceli, alerta ainda sobre as compras por celular. “Baixe apenas aplicativos de lojas oficiais, como o Google Play ou a App Store da Apple, e desconfie daqueles que solicitam permissões suspeitas, como acesso a contatos, mensagens de texto, recursos administrativos, senhas armazenadas ou informações do cartão de crédito.” Neste tipo de compra, é importante observar o plano de fundo dos aplicativos antes de fazer o download. “Pesquise o desenvolvedor e conheça a ortografia das marcas. Alguns desenvolvedores mal intencionados escrevem o nome errado para ludibriar os usuários.”