Um mercado em expansão, o serviço de entrega, conhecido como delivery, cresce a cada dia, abrindo novas possibilidades. Em 2017, no ramo de alimentação, no qual essa atividade é campeã, o faturamento dos negócios foi superior a R$ 10 bilhões, conforme a Abrasel, que aposta no setor. Se antes o consumidor só tinha a possibilidade de fazer o pedido por telefone, hoje existem sites, redes sociais e aplicativos. De olho neste horizonte, empresários do comércio investem no segmento, unindo tecnologia, inovação e comodidade para o consumidor.
Em Juiz de Fora, não existem dados oficiais sobre o faturamento dessa modalidade de venda, mas o delivery cresce a cada dia. Lojas físicas também apostam na entrega em domicílio para alavancar os lucros. Último dado da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, mostra que, entre 2008 e 2016, 361 serviços de entrega rápida foram abertos em Juiz de Fora, resultando num crescimento de 68,34% no período.
De acordo com o analista técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Minas Gerais (Sebrae/MG), José Tarcísio Fagundes de Paula, o município segue uma tendência nacional. Por ser de médio porte, urbana, com bom nível cultural da população e bairros distantes, a cidade possui as características ideais para que o delivery seja sinônimo de sucesso, quando aliado ao bom funcionamento e ao atendimento personalizado e eficaz. “Esta nova geração de consumidores exige praticidade e, quanto mais prático e mais tecnológico para eles, mais atrativo fica o próprio produto que está sendo oferecido”, ressalta José Tarcísio.
Uma ideia na cabeça e força de vontade
Antenadas nas novas tendências, Laís Passaroto Martins e Fernanda Barbosa souberam unir moda, tecnologia e comodidade. Com um sonho na cabeça e R$ 1.200 de cada, há três anos, elas idealizaram um tipo de negócio que se multiplica. No segundo andar de um imóvel, na Rua Batista de Oliveira, decorado por elas mesmas, as empreendedoras inauguraram a Boho Ateliê, uma loja de roupas femininas que faz entrega em domicílio, para maior conforto e praticidade de suas clientes. O empreendimento deu tão certo que hoje a loja já possuiu uma revenda em Copacabana, no Rio de Janeiro, e uma representante que atende clientes no Espírito Santo.
A dupla começou a vender de forma on-line, divulgando as roupas no Instagram, no Facebook e enviando fotos pelo WhatsApp. As peças que interessavam às clientes eram entregues em suas casas, às vezes pela própria Fernanda Barbosa ou pelo motoboy, como ainda acontece atualmente. Depois, decidiram montar um espaço físico, mas sem perder o foco no delivery, que é o carro-chefe das vendas. Na web, já conquistaram freguesas em São Luís, no Maranhão, encaminhando as peças pelos Correios. “Investimos em marketing no Instagram, que é uma ferramenta que não gasta. O dia inteiro a gente tira foto e posta, o que nos dá muita visibilidade. Então, mesclamos toda essa divulgação com o serviço delivery”, destaca Laís, que chegou a fazer um curso básico de gestão e logística para abertura de loja.
Foco na qualidade dos produtos e no atendimento
Distinguir-se entre as lojas do seu segmento, apostando no delivery como diferencial, é um dos conceitos que movem a loja Santa Ana a Granel, que há um ano nasceu em Três Rios e já tem uma filial em Juiz de Fora. Inaugurada em maio, na Avenida Itamar Franco, no São Mateus, o estabelecimento é especializado em venda e distribuição de produtos naturais. A proprietária Ana Laura Comassetto lembra que, quando surgiu a oportunidade de abrir o empreendimento em Juiz de Fora, foi realizado um estudo de mercado. Segundo a empresária, além do potencial do negócio, foi detectada carência de delivery no segmento a granel.
“Pegamos esse filão. Em Três Rios, inicialmente, as pessoas não eram muito abertas e preferiam ir à loja e ver o produto pessoalmente. Mas depois pegaram confiança, e o delivery deslanchou. Lá, nosso serviço de entrega em domicílio representa até 40% das vendas. Em Juiz de Fora, onde nossa loja foi inaugurada em maio, ainda não temos um percentual grande de clientes, mas percebemos que as pessoas são mais abertas ao serviço de entrega. Acho que isso tem a ver com as distâncias na cidade. Por exemplo, quem mora no Manoel Honório não vai vir aqui no São Mateus para pegar um produto tão específico. Para esse cliente, é melhor ligar e, por meio de uma tabela, escolher o produto e fazer o pedido. Em dez minutos, está na casa dele”, afirma Ana Laura, acrescentando que o delivery na loja juiz-forana representa de 20% a 25% das vendas no atacado e no varejo. ”
“Temos uma expectativa de crescimento à medida que nossa marca ficar mais conhecida, pois, a cada dia, recebemos mais pedidos”, vislumbra a proprietária. Atualmente, a Ana Santa a Granel está no aplicativo Much. A divulgação também é feita no Instagram. “O custo do um site é maior. Então trabalhamos no Instagram, que bomba a nossa marca e onde recebemos a maior parte de pedidos no atacado e no varejo. Acima de R$ 70 reais fazemos a entrega por conta própria, abaixo desse valor, contamos com uma empresa terceirizada”, afirma. Os produtos com mais saída no estabelecimento são as castanhas e pastas oleaginosas de produção própria. “Por meio do delivery, a pessoa pode montar o kit de produto ou a própria pasta. Tudo fica pronto em cinco minutos para entrega”, destaca Ana Laura.
Interação com possibilidade de escolhas
A essência do delivery é a comodidade. Como a maioria das pessoas tem smartphone, acessar aplicativos, sites e as redes sociais fica mais fácil. É essa facilidade que as pessoas querem na hora de consumir. “As empresas de delivery que também trabalham com aplicativos tendem a aumentar suas vendas, porque estão oferecendo um pacote de benefício maior, com mais opções de escolha, com possibilidade de interação, sem precisar ter uma pessoa do outro lado da linha para fazer o atendimento”, avalia o técnico do Sebrae, José Tarcísio Fagundes de Paula.
Ele pondera que a imagem é uma das vantagens do delivery. “No caso de alimentação, por exemplo, as pessoas primeiro comem com os olhos e, dentro disso, é fundamental que se trabalhe com boas imagens. Às vezes, não se tem o devido cuidado com as fotografias disponibilizadas, que são feitas de modo não profissional, e isso pode atrapalhar as vendas. Quando se trabalha a venda pela internet, pelos aplicativos, com uso de imagem, é preciso boa resolução e qualidade que realmente mostrem o produto oferecido. Ainda é preciso destacar os aplicativos que possuem radar e fazem busca nas imediações, localizando empresas mais próximas dos consumidores, através do georreferenciamento”, pontua o técnico, acrescentando que o segmento da alimentação é tradicionalmente campeão no quesito do delivery, mas os setores de vestuário e acessórios, cada vez mais, apostam nas vendas nessa modalidade. “O ramo de cosméticos também está partindo para esse lado.”
Presidente do Sindicomércio-JF, Emerson Beloti, afirma que cerca de 80% do serviço de delivery está voltado para o setor de gastronomia. Ele pontua que o setor varejista ainda precisa explorar mais as vendas em domicílio, atividade que Emerson assinala como já consolidada também no ramo farmacêutico. “Essa ainda não é uma atividade muito intensa no comércio varejista, e o Sindicomércio ainda não tem algum tipo de fomento ao delivery, mas é claro que é uma atividade importante porque as pessoas estão buscando praticidade e comodidade. Percebemos que, cada vez mais, existe uma faixa etária da população preferindo usar o delivery”, analisa Emerson.
Honestidade é a melhor arma para atrair o cliente
Aproveitar o momento, aliando tecnologia e criatividade, pode ser o pulo do gato para estabelecimentos tradicionais e com clientela sólida, a fim de buscar novos consumidores, mas sem perder o foco no atendimento de boa de qualidade tanto presencial ou por meio dos canais abertos na internet.
“O delivery serve para quando as pessoas têm urgência. Então é preciso atender a tempo. Quando o serviço de entrega é terceirizado, é necessário ter cuidado na abordagem ao cliente no momento da entrega e na hora de receber. O pagamento pode ser feito diretamente no aplicativo ou até por meio de cartão de crédito. Essa parte tecnológica tem que funcionar muito bem, e a pessoa que executa e entrega tem que estar preparada, pois não adianta contar com uma alta tecnologia, e o entregador não honrar toda a expectativa criada no início do atendimento”, analisa o técnico do Sebrae, José Tarcísio Fagundes de Paula.
Segundo a presidente da Abrasel/JF, Carla Pires, a terceirização do serviço de entrega precisa de todo cuidado para que não se torne um problema para o empresário. “Dependendo de como o serviço é feito, pode haver uma perda de qualidade do produto. No caso de alimentos, é preciso atenção redobrada, porque o serviço tem que ser adequado, a embalagem precisa ter qualidade. O período de entrega é outro ponto importante e, por isso, a empresa precisa ser honesta. Se falar para o cliente que em vinte minutos a entrega é realizada, esse prazo deve ser cumprido. É lógico que o cliente, no caso da comida, precisa entender que existe uma perda devido ao tempo de entrega, como a temperatura por exemplo, e isso ele deve saber reconhecer”, considera Carla, acrescentando que distância, condições de trânsito, se é um dia de chuva ou não, é uma compreensão que o cliente deve ter.