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Gastos com alimentos sobem 44%

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Dentre todas as despesas de uma família, o gasto com alimentação talvez seja um dos mais difíceis de racionalizar. Só este ano, os juiz-foranos devem desembolsar R$ 1,4 bilhão com refeição dentro de casa, um valor 43,8% maior que o de 2014. Os dados integram estudo sobre o share de consumo municipal, realizado pela IPC Marketing Editora, e apontam ainda uma crescente participação do item no orçamento familiar, pulando de 9,35% para 10,8% na comparação entre os dois anos.

Motivos para gastar mais não faltam. A percepção clara de que a comida está mais cara nas prateleiras é comprovada em números. A cesta básica regional, que reúne os produtos mais comuns na mesa do juiz-forano, está, em média, 8,4% mais cara. Dentre os 22 produtos que a integram, 15 itens, quase 70%, tiveram aumento. Em onze deles, a alta foi superior à média, em percentuais que passam de 40% – quase cinco vezes mais do que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses, de 8,17%. A comparação foi feita pela Tribuna, com base em pesquisas divulgadas pela Secretaria de Agropecuária e Abastecimento (SAA) em 2014 e 2015 (ver quadro).

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O comportamento dos alimentos em Juiz de Fora segue tendência nacional. Considerando o IPCA , o grupo apresentou alta de 8,03% contra a média de 6,41% apurada em 2014. Em abril, a sondagem mais recente realizada pelo IBGE aponta que a variação de alimentos e bebidas (0,97%) também superou o aumento médio no mês (0,71%). Foi o segundo maior índice dentre os nove grupos pesquisados, só perdendo para saúde e cuidados pessoais (1,32%).

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Para a economista Maria das Dores Saraiva Loreto, professora de Economia Familiar do Departamento de Economia Doméstica da Universidade Federal de Viçosa (UFV), os alimentos têm sido pressionados mais pela oferta do que pela demanda, em função da elevação dos custos de produção e matéria-prima. Até porque, explica, são muitos os consumidores endividados e é agressiva a política de contração da demanda.

Neste cenário alimentado pela inflação, comenta, a pesquisa de preços torna-se uma medida de sobrevivência. Em Juiz de Fora, por exemplo, o preço de um mesmo produto pode variar mais de 200% entre os estabelecimentos, conforme o levantamento “Guia do Consumidor” publicado pela SAA esta semana. Este foi o caso dos ovos brancos, cuja bandeja com doze unidades, da marca mais barata, custa entre R$ 1,85 e R$ 5,99.

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Outra alternativa, destaca a professora, é substituir os alimentos mais caros, especialmente os que estão em entressafra, por outros mais acessíveis. “Essa substituição tem sido uma prática usual entre os consumidores”, identifica.

Na prática e no bolso

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“Está tudo muito caro”, reclama a diarista Ana Lúcia Rodrigues da Silva. Segundo ela, antes, era possível ir ao supermercado com R$ 50. “Agora, uma compra de R$ 500 não dá para o mês.” Ana Lúcia argumenta que não tem tempo para pesquisar preços. Por isso, a alternativa tem sido abandonar as marcas preferidas, só as levando para casa em dia de promoção. A economia é necessária na casa em que moram dois dos três filhos e quatro netos.

Este mês, a agente de saúde Nancy de Souza Gomes, que reside em Belmiro Braga, decidiu mudar de estratégia e fazer as compras em um atacado em Juiz de Fora. A expectativa dela é que, comprando em maior quantidade e em outra cidade, seja possível gastar menos e levar mais produtos para casa. “Aqui também estou adotando a mesma regra de lá: escolher produtos mais baratos.” Esta também é a opção da cozinheira Vânia Sinfrônio. Ela resolveu comprar apenas em atacados, estocando os gêneros de primeira necessidade. “Os produtos costumam durar dois, três meses. Só compro no varejo o que é perecível – e se estiver em promoção.” Vânia brinca que, se pudesse, estocaria até legumes.

No caso da doméstica Elisângela Martins da Glória, a saída tem sido fugir, o quanto pode, dos supermercados, recorrendo a vendinhas ou hortifrutis localizados na parte baixa do Centro. “Além de os produtos serem mais frescos, são muito mais baratos.” Ela comenta que, com R$ 10, consegue levar para casa frutas, legumes e verduras para os três filhos, o que não seria possível em uma grande rede, avalia. “A diferença chega a metade do preço”, calcula, com a experiência de frequentar esses estabelecimentos três vezes por semana. Para a aposentada Argentina Felix Gomes, só há uma alternativa para gastar menos: “comprar pouco”, diz de pronto.

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Preço de hortifrúti começará a cair

Além da pressão provocada pela inflação de oferta, o impacto sazonal no custo dos alimentos é outro fator de pressão destacado pelo coordenador de Informações de Mercado da CeasaMinas, Ricardo Fernandes Martins. Tradicionalmente, diz, os cinco primeiros meses não são favoráveis aos hortifrutigranjeiros, sendo considerada a pior fase do ano para a sua aquisição, em função do impacto da entressafra e das condições climáticas. A boa notícia, porém, é a expectativa de que, a partir do próximo mês, a situação seja mais favorável em termos de oferta e preço.

Entre os produtos impactados nesta época – e importantes na mesa do consumidor -, Martins cita tomate, cebola, cenoura e banana prata. A cebola, aliás, foi a responsável pela maior alta (44,26%) verificada na cesta básica de Juiz de Fora e região. Em contrapartida, explica o coordenador, há frutas com preços competitivos, como abacate, banana nanica, caqui, goiaba, laranja, limão, maça e tangerina. Embora a entressafra seja um fenômeno previsto e esperado todos os anos, diferenças em casos específicos, como a cebola, devem-se ao fato de a oferta ter superado a demanda em safras anteriores, levando a queda de preço e desestimulando o cultivo pelo produtor.

O coordenador de pesquisas da SAA, Júlio Alvarenga, surpreendeu-se com o aumento médio de 8,4% na cesta básica regional. “Do jeito que os alimentos estão subindo, esperava uma alta ainda maior.” Como pai de família que faz compras há 27 anos, ele identifica que a maioria dos consumidores, como ele, está substituindo produtos, especialmente proteínas, reduzindo quantidades e correndo atrás dos menores preços. Um problema é que, no caso da cesta regional, já é considerado o mínimo a ser consumido por um cidadão.

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O juiz-forano que pagava R$ 280,72 em 2014 tem que desembolsar R$ 304,34 para levar para casa os mesmos itens, em quantidades idênticas, este ano. Para uma família com quatro pessoas, sendo dois adultos e duas crianças, o gasto, por mês, sobe para R$ 913,03. “É o essencial mesmo, não tem muito como fugir.” Na opinião do coordenador, diante do descompasso entre ganhos e altas, está próximo o momento em que o consumidor não aguentará absorver a sequência de reajustes. “Não acredito em queda, porque os custos de produção estão muito altos, mas pode haver uma oscilação menor ou estagnação a médio prazo”, aposta.

Setor supermercadista não teme impacto

Apesar das manobras adotadas pelos consumidores para manter a mesa farta, sem estrangular, ainda mais, o orçamento doméstico, o setor supermercadista nega impacto nas vendas. Ao contrário, projeta crescimento de 2,5% este ano. O percentual divulgado pela Associação Mineira de Supermercados (Amis) coincide com a perspectiva para o ano divulgada pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Ainda segundo a Amis, o faturamento em 2015 deve chegar a R$ 28,2 bilhões contra R$ 27,5 bilhões em 2014.

Conforme a Amis, por não fazer pesquisa de preços, não pode-se estimar a alta média dos produtos nas prateleiras. Segundo a entidade, também não é possível dizer que os preços impactaram negativamente no crescimento do setor em Minas. Isto porque o desempenho médio apurado pela associação mineira (1,58%) é superior aos resultados divulgados pela Abras e pelo IBGE no trimestre: 1,46% e (-1,2%), respectivamente.

“Apesar dos rumores de um ano difícil, nossa perspectiva é a de continuarmos crescendo acima do PIB, acreditando na força do mercado interno brasileiro”, avalia o presidente da Abras, Fernando Yamada. O reajuste do salário mínimo em quase 9% este ano é um dos motivos para a expectativa otimista do setor, avalia.

De acordo com projeções da Amis, 70 unidades serão abertas em todo o estado este ano. O investimento estimado chega a R$ 300 milhões, sendo a maior parte destinada a pequenas unidades, seguindo a tendência de trabalhar com lojas de proximidade. A expectativa é que sejam abertos oito mil postos de trabalho, somando aos 166 mil já existentes. Até o final do ano, o número de lojas passará dos atuais 6.975 para 7.045 em Minas.

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