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Inflação desacelera em março, mas impacto ainda não chega ao consumidor

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O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), responsável por calcular a inflação do país, registrou queda de 0,13% no mês de março em relação ao índice de fevereiro. Naquele mês, a inflação foi de 0,84%, enquanto no mês passado, ficou em 0,71%. A variação no grupo de alimentação e bebidas também registrou queda, já que em fevereiro a inflação dessa cadeia estava com alta em 0,16%, e, em março, ficou em 0,05%. Apesar da desaceleração, a pressão inflacionária continua em alta e a maior parte dos consumidores ainda sente o peso dos valores dos produtos no orçamento final do mês. A expectativa, entretanto, é de que os dados apontem para uma tendência de redução dos preços dos alimentos nos próximos meses.

A economista e professora de Master in Business Administration da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carla Beni Menezes de Aguiar, avalia que a inflação dos alimentos continua elevada, mas que é possível notar uma diminuição se comparada aos meses anteriores. “A tendência é de que o preço (dos alimentos) diminua mais para frente, conforme as cadeias produtivas forem se normalizando, e se não passarmos por grandes problemas climáticos que costumam afetar a parte de delicados e perecíveis, como frutas, legumes e verduras”, analisa.

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no mercado, consumidores notam redução em poucos produtos; preço de frutas e legumes continua em alta, e alternativa é procurar por promoções (Foto: Felipe Couri)

Aposta em promoções para driblar redução tímida

A aposentada Maria Antonieta de Paula Amaral, de 70 anos, conta que percebeu a redução do preço de alguns produtos em relação aos valores dos últimos meses. Outros, contudo, ela só consegue comprar na promoção. “Eu percebi que a carne bovina está mais em conta tanto no açougue, quanto no mercado, mas em relação ao valores dos legumes e frutas eu ainda não senti diferença.” Maria mora sozinha e as compras no mercado são só para ela. Apesar disso, ela, que adora produtos de hortifruti, conta que não compra certos alimentos para esperar a promoção. “Muitos produtos acabam entrando em promoção no mercado, mas não é uma redução expandida, ainda é muito baixa, não está dando para ter uma folga no bolso”, avalia.

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Quem também fica atenta às promoções é a Carmen Lúcia da Silva, de 54 anos, que ainda não notou uma mudança no preço dos produtos. Toda semana, ela vai até o mercado e o cardápio do dia acaba sendo de acordo com os alimentos que estão mais em conta. “A cada vez que eu venho está mais caro. Até nas promoções, as diferenças acabam sendo de centavos. Eu tento substituir. O ovo, por exemplo, subiu muito, então acabo não levando, mas se você for comprar aquilo que realmente está necessitando é bem complicado.”

Kesia Alves, de 29 anos, avalia que os preços aumentaram. Ela tem um filho de 1 ano e 9 meses que sempre a acompanha nas compras e tem suas vontades. “Cada hora ele pega uma comida e coloca no carrinho, quando vou ver já está lotado. Eu tento educar, ensinar que cada dia a gente leva uma coisa, não tem como levar tudo.” Kesia diz que sua família não abre mão de comer carne todos os dias, o que pesa o orçamento no final do mês e acaba afetando outras áreas, como o lazer. “A maior parte da nossa renda vai para o supermercado.”

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Queda reflete na inflação dos mais pobres

A redução dos preços dos alimentos, confirmada pelo IPCA de março, também refletiu na diminuição da inflação dos mais pobres, como apontam os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). No mês passado, o indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda mostrou que aconteceu uma desaceleração para todas as classes de renda em relação ao mês anterior, sendo a maior alta inflacionária na faixa de renda média-alta (0,81%), enquanto a menor foi registrada na faixa de renda muito baixa (0,53%).

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Setor de transportes teve maior alta

O setor de transportes sofreu o maior impacto da inflação do mês de março, com um aumento de 1,74%. Tal fato ocorreu após a implementação da medida de reoneração dos impostos pelo Governo federal, avalia a economista Carla Beni. “No semestre do ano passado, o governo anterior havia reduzido os impostos federais em cima da gasolina para poder diminuir o preço por questões eleitorais. Tal prazo terminava em dezembro, mas no começo do ano, o novo governo prorrogou a medida por mais dois meses para fazer o período de transição. No final de fevereiro, os impostos voltaram a ser cobrados e em março já foi possível ver um impacto disso no preço da gasolina, o que já era esperado, mas o índice foi menor do que o estimado.”

Para o professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Pedro Raffy Vartanian, a reoneração da gasolina foi responsável por mais da metade da inflação do mês. Mesmo assim, o resultado do IPCA de março, registrado em 0,71%, ficou abaixo do esperado de 0,77%. No entanto, o economista analisa que a reoneração foi importante do ponto de vista fiscal, e seu efeito deverá ser pontual sobre a inflação, com recuperação de parte da arrecadação que deixou de acontecer. “Considerando o atual cenário, espera-se queda gradual da inflação nos próximos meses, com a expectativa de queda na Selic já a partir do segundo semestre do ano corrente.”

Embora o maior impacto no IPCA de março tenha sido o setor de transportes, Carla Beni explica que a reoneração da gasolina não tem grande efeito no preço dos alimentos, pois o preço do frete e transporte das mercadorias é afetado pelo óleo diesel, que apresentou queda no último IPCA, com o índice de -3,71%, em relação ao de fevereiro que estava em -3,25%. “A reoneração dos combustíveis foi aplicada na gasolina que tem um impacto menor nos fretes e maior nos carros de uso pessoal e nos aplicativos de transporte”, explica Carla.

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