As economias brasileira e de Minas Gerais superaram as expectativas em 2024. Impulsionado pelo consumo das famílias e pela recuperação da indústria, o Produto Interno Bruto (PIB) nacional cresceu 3,3% até o terceiro trimestre do ano, enquanto o estadual apresentou aumento de 2,8% em igual período.
A taxa de desemprego no país caiu para 6,4%, menor nível desde 2012, e, em Minas Gerais, para 5% que também é recorde. A indústria brasileira empregou 20,8 milhões de trabalhadores e, a mineira, 2,53 milhões de pessoas, no terceiro trimestre, o que representa alta de 4,7% e 5,7%, respectivamente, na comparação com igual período do ano passado. As perspectivas são de que a indústria nacional cresça 3,3%, e a mineira, 3,2%, com o fechamento do ano.
Os dados fazem parte do Balanço Anual 2024, da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), apresentado ontem pelo presidente da entidade, Flávio Roscoe, e pelo gerente/economista-chefe, João Gabriel Pio, em entrevista coletiva à imprensa, em Belo Horizonte. Apesar dos indicadores positivos, a Fiemg considera o cenário preocupante em razão da inflação persistente, dos juros elevados e da deterioração fiscal.
“Para 2025, projeta-se uma desaceleração da economia tanto no Brasil quanto em Minas Gerais. Essa desaceleração ocorre em um cenário de deterioração da credibilidade fiscal, com movimentos inflacionários sendo um ponto de alerta. A política monetária deverá se tornar mais restritiva, o que ajudará a conter a atividade econômica”, avalia a federação. “O problema no Brasil é o gasto público”, observou Flávio Roscoe.
Embora a arrecadação federal tenha crescido 10%, a dívida pública atingiu 78,3% do PIB e o déficit primário acumulado chegou a R$ 64,4 bilhões. Na avaliação do presidente da Fiemg, os recursos estão saindo do setor mais dinâmico (produtivo) para o menos dinâmico (Governo).
“Ao mesmo tempo, o pacote de ajuste fiscal anunciado pelo Governo revelou uma prioridade eleitoral em detrimento de uma estabilização fiscal de longo prazo. Esse cenário pressionou o câmbio, elevou as expectativas de inflação e afetou negativamente os juros futuros. Atualmente, estima-se que a taxa Selic supere os 14% em 2025, evidenciando o esforço para conter as pressões inflacionárias em um contexto econômico desafiador”, destaca a Fiemg em seu balanço.
“O que eu defendo é menos Estado, porque é a sociedade quem paga e, muitas vezes, a sociedade clama pelo Estado. O Estado é caro, ineficiente, burocrático. Então, quanto menos Estado, a tendência da sociedade é ser mais dinâmica e mais rica”, disse Roscoe. “Não estou falando de governo A, B ou C. O Estado brasileiro é ineficiente. Ele entrega muito pouco. Ele arrecada quase igual ou até passando os países nórdicos, em termos de percentual, e não entrega nada, enquanto lá se entrega muito. Menos Estado, no caso do Brasil, é mais riqueza para o conjunto da sociedade”, acrescentou o presidente da Fiemg.
Críticas a programas de transferência de renda
Embora reconheça a necessidade dos programas governamentais de transferência direta de renda, como o Bolsa Família, o presidente da Federação das Indústrias Mineiras, Flávio Roscoe, acredita ser imprescindível a criação de uma porta de saída para os beneficiários. A ausência deste mecanismo, segundo ele, é responsável pelo maior gargalo ao desenvolvimento do setor industrial que enfrenta escassez de mão de obra em todo o país. Afinal, muitas pessoas preferem ingressar no mercado informal de trabalho, para não perder o benefício.
“O diálogo entre o mercado de trabalho e os programas assistenciais é fundamental. Tem muita gente que não está procurando emprego, porque tem medo de não conseguir voltar ao programa, em caso de desemprego. A Fiemg vem defendendo que as pessoas sejam inseridas no programa ao serem demitidas. Dessa maneira, a gente não cria uma barreira de entrada para o mercado formal de trabalho”, observou.
“Mais pessoas sairiam dos programas por vontade própria e iriam para o mercado de trabalho. Teríamos menos gasto público, porque quem está no mercado formal passa a arrecadar impostos sobre a folha, e se deixa de gastar dinheiro com programa social. Para a pessoa seria ótimo, porque teria o conforto de, eventualmente, ao ser demitida, não ter que passar por um procedimento burocrático ou pelo risco de não ter a assistência social do Governo.”
Roscoe citou o caso da França em que beneficiários de programas sociais não podem recusar mais que três ofertas de emprego. A Fiemg já encaminhou a sugestão de retomada de vínculo ao Governo federal por acreditar no impacto imediato da iniciativa sobre a crise de mão de obra que afeta o mercado formal de trabalho que, aquecido, enfrenta alta rotatividade.
Ao ser questionado se a dificuldade na contratação que compromete a produtividade da indústria não estaria diretamente relacionada a um novo comportamento social, fruto da mudança geracional, o presidente da Fiemg disse não acreditar que este fator seja mais determinante que o entrave provocado pelos programas assistenciais. Afinal, disse, mudanças de comportamento entre gerações são comuns e absorvidas pelas empresas historicamente com a criação de novas estratégias.
Roscoe confirma interesse pela gestão do Expominas em Juiz de Fora
Roscoe confirmou o interesse da entidade em assumir a gestão do Expominas, em Juiz de Fora, localizado na BR-040. “O Governo deve botar ele à venda e, caso o faça, a gente vai estudar o edital e, provavelmente, iremos fazer uma proposta, a exemplo do que fizemos com o Granbery”, disse, se referindo à aquisição, neste ano, do Instituto Granbery, para abrigar a Escola Sesi, em um investimento de R$ 61,5 milhões.
“A Fiemg é a maior realizadora de eventos do estado. A gente realiza por volta de 400 eventos. Então, temos condição de dar maior dinâmica ao espaço, além de propiciar as mudanças necessárias, porque, só como espaço de evento, ele teria dificuldade de se manter de pé. Esse é um dos pleitos que a gente tem com a Prefeitura, e a prefeita (Margarida Salomão) está sensível ao tema, para dinamizar a utilização do espaço para outros fins”, pontuou.
Sobre a retomada da indústria da Zona da Mata, o presidente da Fiemg disse que a instituição tem procurado incentivar o desenvolvimento regional com a oferta de vários serviços que incluem capacitação, qualificação, apoio aos trabalhadores e, agora, especificamente em Juiz de Fora, com a formação de excelência, a partir da implantação de mais uma unidade da Escola Sesi, assim como saúde e segurança do trabalho e com a estrutura da unidade regional.
“O que acredito que Juiz de Fora tenha que fazer é uma política de atração de investimentos focada nas suas vocações naturais. Estou falando não só de Juiz de Fora, mas de toda Zona da Mata, para recuperar o dinamismo econômico que já teve no passado”, observou Roscoe. Embora reconheça a força da Economia Criativa neste contexto, ele não acredita que possa haver uma única “bala de prata” capaz de dinamizar a indústria da região na dimensão que se faz necessária.
Ele cita, por exemplo, o caso do Vale do Jequitinhonha, região que mais cresceu em Minas Gerais nos últimos dois anos, graças, em grande parte, às ações traçadas para o desenvolvimento da extração de lítio. Assim como o Norte de Minas, com o polo farmacêutico e de painéis solares, projetos que contaram com atuação efetiva da federação. “Trabalhar junto, para dinamizar e impactar de acordo com a necessidade de cada região”, finalizou Roscoe.