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M. Dias Branco desiste de instalar unidade em Juiz de Fora

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Em instrução à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a M. Dias Branco anunciou, nesta quinta-feira (21), a “inviabilidade econômica e de mercado da instalação de uma unidade” em Juiz de Fora. A desistência em construir um parque fabril foi confirmada à Tribuna pela líder nacional em massas e biscoitos nesta sexta. Ao menos desde a compra da Indústria de Produtos Alimentícios Piraquê, em maio de 2018, as incertezas em torno da chegada da empresa à Zona da Mata eram crescentes. Anunciada em protocolo de intenções firmado junto ao Município de Juiz de Fora ainda em 2014, a instalação da M. Dias Branco poderia representar investimentos entre R$ 450 milhões e R$ 500 milhões e até mil postos de trabalho gerados.

A unidade de Eusébio (CE) é uma das 15 plantas da cearense M. Dias Branco nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul (Foto: Divulgação/M.Dias Branco)

A empresa foi procurada pela Tribuna e se restringiu a enviar o mesmo comunicado divulgado ao mercado financeiro. Após a aquisição da Piraquê por R$ 1,55 bilhão, a M. Dias Branco contratou, em outubro de 2018, consultoria especializada para “estudo de otimização de toda sua malha logística e industrial em âmbito nacional, incluindo a análise de viabilidade do empreendimento em Minas Gerais”, conforme o comunicado ao mercado e aos acionistas. Tal estudo concluiu pela “inviabilidade econômica e de mercado da instalação de uma unidade fabril em Minas Gerais no atual cenário, especialmente em razão da aquisição de plantas industriais no Estado do Rio de Janeiro”, localizadas nos municípios do Rio de Janeiro e de Queimados. Portanto, o ganho de mercado na Região Sudeste, inicialmente planejado com a instalação do parque fabril em Juiz de Fora, foi suprido com as plantas oriundas da malha industrial da Piraquê.

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A Prefeitura de Juiz de Fora foi oficialmente comunicada, por meio do secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária, Rômulo Veiga, e pelo gerente do Departamento de Fomento à Economia Local, Luiz Alberto Rodrigues Ribeiro, em reunião, nesta quinta, em Queimados, sobre a desistência. Conforme Rômulo, a justificativa de otimização da capacidade instalada que a M. Dias Branco já possui, apresentada pela empresa, é coerente, embora o rompimento do protocolo de intenções seja muito ruim para o Município. “Fizemos uma reunião, provocada pela Prefeitura, logo após a aquisição da Piraquê, para saber como o investimento planejado ficaria frente a uma nova aquisição, que vem acompanhada de uma infraestrutura industrial. Eles têm uma capacidade instalada, principalmente na Região Sudeste, que não só dá conta como permite eventuais ampliações. (…) Desde então, o mercado estabilizou até porque houve uma perda efetiva de poder de compra de até 30% de quem ganha dois salários-mínimos”, afirma.

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O Estado de Minas Gerais, por sua vez, recebeu a informação sobre a desistência do negócio em Juiz de Fora, nesta sexta-feira. “A secretaria (de Estado de Desenvolvimento Econômico) e a Agência de Promoção de Investimento e Comércio Exterior (Indi) sempre estiveram em contato com a empresa, viabilizando todo o investimento no Estado. Um protocolo de intenções foi assinado em dezembro de 2014, reforçando o comprometimento do Governo. A empresa decidiu em não dar continuidade aos investimentos pois adquiriu a Piraquê.” A expectativa da M. Dias Branco era concluir a unidade ainda em 2019 e iniciar as operações já em 2020. O complexo industrial incluiria uma fábrica de biscoitos, massas e farinha de trigo, um centro de distribuição e um moinho de trigo.

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Entraves burocráticos por acesso na BR-040

Uma das preocupações da M. Dias Branco em relação à instalação do parque fabril era a construção de um acesso de terreno comprado pela empresa até a BR-040. A primeira etapa, orçada em R$ 7 milhões, seria custeada com recursos da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig). Em agosto de 2017, a Codemig encaminhou os projetos viários entregues pela Prefeitura à Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop). A documentação estava em avaliação no Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DEER). Entretanto, as pastas de Desenvolvimento Econômico do Governo do estado e do Município negaram a relação entre o imbróglio e a desistência. O DEER não respondeu aos questionamentos da Tribuna.

“A decisão da mudança não teve interferência de pendências com o Governo”, afirmou, por nota, a secretaria estadual. “Isso já estava equacionado e, diga-se de passagem, o investimento de R$ 500 milhões que a M. Dias Branco faria era muito grande para uma discussão que envolve o investimento de R$ 7 milhões. A situação já tinha sido pacificada com a empresa em 2018. A metodologia que adotaríamos seria o balanço positivo do investimento. O investimento em obras de engenharia civil na ordem de R$ 500 milhões costuma render ao Município arrecadação próxima de R$ 20 milhões, por exemplo. Somente isso pagaria a obra e ainda sobraria, ou seja, faria sentido para o Município fazer o investimento. Durante as obras de instalação, faríamos, inicialmente, um investimento menor, para fazer uma estrada de acesso ao terreno, nos moldes de uma estrada vicinal, e, à medida que a obra caminhasse, faríamos o projeto para aprová-lo e pavimentar a estrada”, explica Rômulo. O cronograma físico-financeiro da obra estava pronto para ser executado, conforme Rômulo, mas, em razão da contratação da consultoria pela empresa, foi suspenso.

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Captação ativa
Indagado sobre como o Executivo reagiria frente à perda de uma empresa líder nacional do segmento de biscoitos e massas e de eventual geração de centenas de postos de trabalho, Rômulo pontuou que o Município tem uma captação ativa de empresas. “É importante enfatizar que a gente não paralisou a atração de indústrias por conta do estoque de indústrias que possuímos ou, então, por negócios que já estavam acertados. A principal porta de entrada de indústrias em Minas é o Indi, que tem sido um grande parceiro. Temos uma agenda de trabalho mensal com eles. Estamos em negociação com outras indústrias, mas, como são apenas negociações, não possa falar nomes nem setores, porque assinamos contratos de confidencialidade. (…) Percebemos que o setor industrial ficou letárgico nos últimos três anos. Era um cenário que estava hostil para captar novos investimentos, mas percebemos um aquecimento nos últimos seis meses.”

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