Atualizada às 19h51
O protesto dos trabalhadores do transporte coletivo urbano realizado nesta quarta-feira (22), que durou quase duas horas, tumultuou o trânsito em duas das principais avenidas da cidade, retardou o horário dos ônibus e prejudicou, principalmente, os usuários que dependiam dos coletivos com trajeto pela Avenida Getúlio Vargas. A grande maioria dos juiz-foranos que amargava espera nos pontos reclamava do horário de realização do ato, perto do rush, e do fato de a passeata, realizada contra a alegada falta de avanço nas negociações salariais, prejudicar, na verdade, o usuário. A categoria não descarta deflagrar greve, caso as reivindicações não sejam atendidas.
O boato que circulava nos ônibus durante o dia foi confirmado no início da tarde pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transporte Coletivo Urbano (Sinttro). Segundo o presidente Vagner Evangelista, as negociações salariais tiveram início este mês, sem avanços. A categoria reivindica 15% de aumento, considerando reposição inflacionária, perdas acumuladas e ganho real. Já o sindicato patronal teria oferecido reajuste de 4,5%. De acordo com o presidente, a contraproposta não atende a classe. A decisão sobre o protesto aconteceu em assembleias realizadas pela manhã e à tarde.
O movimento começou pouco depois das 16h. A Polícia Militar (PM), que acompanhava a concentração, reforçou o efetivo e delimitou, com o uso de uma viatura e várias motos, o trajeto da passeata. A PM estimou em cem o número de participantes. Já o sindicato considerou número ainda maior – 150. Da concentração, na Praça do Riachuelo, os trabalhadores seguiram pela Avenida Rio Branco em direção à Getúlio Vargas. Com faixas cobrando respeito e apitos, a categoria seguiu pela pista de ônibus no sentido Manoel Honório – Centro até a Rua Afonso Pinto de Mota antes de acessar a Getúlio Vargas.
Motoristas de ônibus apoiavam o movimento, fazendo buzinaço. À medida em que ganhava corpo a retenção na pista de coletivos na Rio Branco, os pontos de ônibus ficavam lotados. Mesmo sem saber, a princípio, o motivo do protesto, usuários reclamavam do horário de realização do ato e do transtorno causado à população. A Tribuna recebeu reclamações de ônibus parados na altura da ponte do Bairro Manoel Honório, além de engarrafamentos também na Avenida Brasil. O tráfego de coletivos na Avenida Rio Branco, sentido Centro, foi liberado por volta das 16h30. A partir daí, o transtorno começou a se intensificar na Getúlio Vargas.
Reprovação e inconformismo de usuários
Na avenida, dezenas de usuários, inconformados com o ato, acenavam com sinais de reprovação. Houve vaias e gritos de “quero voltar para casa”. Em protesto, os trabalhadores sentavam no chão e gritavam “respeito”. Em dois momentos, os ânimos ficaram acirrados, mas não houve briga. Policiais circulavam entre a população e os manifestantes. Agentes de trânsito trabalhavam nas interseções, para ajudar a minimizar os transtornos no trânsito. Muitos usuários desistiram de esperar pelos coletivos e seguiram a pé até a Avenida Rio Branco. Os idosos apresentavam maior dificuldade para vencer a multidão. Por volta das 17h15, um ônibus furou o bloqueio e houve ameaça de tumulto. Pelo carro de som, no entanto, foi informado de que haveria um passageiro passando mal, o que serviu para acalmar os ânimos.
Por volta das 17h30, o tráfego foi liberado na Getúlio. Os manifestantes seguiram pela Rua Santa Rita até retornarem à Rio Branco, na pista de coletivos no sentido Centro-Manoel Honório. Em cerca de 15 minutos, os trabalhadores chegaram ao Parque Halfeld. Em frente à Câmara Municipal, cobraram apoio dos vereadores e voltaram a dizer que, se o pleito não for atendido, a categoria vai cruzar os braços, mesmo que seja na porta das garagens.
Cinturb
O Consórcios Integrados do Transporte Urbano de Juiz de Fora (Cinturb), por meio de sua assessoria, afirmou que foi surpreendido pelo protesto e que não concorda com a posição do sindicato de que não há avanços. O posicionamento é que foram realizadas quatro negociações e que nas reuniões “se avançou muito sobre o índice, chegando bem perto do INPC do período”. O reajuste oferecido foi de 4,5%, e o INPC acumulado é de 5,43%. Os consórcios se comprometem a manter as cláusulas do acordo anterior e a manutenção da data base (fevereiro), desde que o acordo seja firmado. Procurada, a Secretaria de Transportes e Trânsito (Settra) afirmou, por meio de sua assessoria, que agentes do Departamento de Fiscalização de Transporte e Trânsito acompanharam a manifestação com o intuito de diminuir os impactos causados em razão deste ato.
Reajuste da passagem de ônibus
Além de conviver com a ameaça de greve, os passageiros também devem começar a preparar o bolso. De olho na data em que começou a vigorar o último aumento das passagens de ônibus – dia 4 de abril de 2016 – e no trâmite necessário até a aplicação do reajuste propriamente dito nas roletas, aguarda-se, para início de março, a reunião do Conselho Municipal de Transportes que vai tratar do aumento da tarifa em Juiz de Fora. O valor da passagem, hoje, é de R$ 2,75.
Além da avaliação dos conselheiros sobre o valor apurado a partir da atualização da planilha de custos haverá, ainda, apresentação do documento em audiência pública na Câmara Municipal. Só depois existe sanção pelo prefeito, que oficializa o reajuste por meio de decreto. Via de regra, a definição acontece um mês antes de a majoração entrar em vigor. O Cinturb não quis se posicionar sobre o aumento das tarifas. Já a Settra limitou-se a dizer que “este assunto não está sendo tratado”.