Com a proximidade das festas de fim de ano, cresce a corrida dos consumidores para garantir os itens da ceia de Natal – e, junto com a lista de compras, vem a busca por preços mais baixos. Entre carnes tradicionais, bebidas, itens importados e produtos típicos da época, como panetone e frutas secas, o valor final pode variar bastante de um estabelecimento para outro, o que tem levado muitos a antecipar a ida ao comércio, comparar ofertas e até substituir produtos para manter a celebração dentro do orçamento.
Pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) revela que 98% dos brasileiros devem celebrar o Natal. A avaliação é que o consumidor pretende desembolsar, em média, R$ 338 com os preparativos da ceia e/ou do almoço. No entanto, esse valor pode não ser suficiente: de acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a cesta típica composta por dez itens – aves natalinas, azeite, caixa de bombom, espumante, lombo, panetone, pernil, peru, sidra e tender – foi calculada em R$ 351,80, R$ 5,97 acima dos R$ 345,83 registrados em 2024.
O vice-presidente da Abras, Marcio Milan, avalia que o movimento é esperado, já que se trata de produtos “altamente sazonais”, com a demanda mais pressionada, custos logísticos maiores e, em alguns casos, dependência do câmbio, como ocorre com o bacalhau.
Bacalhau e aves encarecem a celebração
Ainda segundo Milan, é comum que chester, peru, tender e cortes especiais registrem aumentos acima da média. Para ele, a projeção de alta de 5,8% para essas proteínas, informada pelo setor, “está alinhada ao padrão histórico do fim de ano”.
Levantamento da VR, que analisou mais de 13 milhões de notas fiscais escaneadas entre 2024 e 2025, aponta que o bacalhau liderou a alta no período: passou de R$ 61,59, em novembro de 2024, para R$ 113,36, em novembro de 2025 – avanço de 84%.
Além do peixe, outras proteínas também ficaram mais caras. O lombo suíno subiu de R$ 37,56 para R$ 44,33 (18%), enquanto aves festivas, como Chester e Fiesta, foram de R$ 91,67 para R$ 107,18 (16,9%). Já o tradicional peru teve variação mais moderada, de R$ 112,31 para R$ 114,99 (2,4%).
Apesar da pressão no orçamento, alguns cortes registraram queda e podem se tornar alternativas para a ceia. O tender recuou 11,3% (de R$ 50,44 para R$ 44,73) e o pernil teve ligeira redução, de R$ 31,80 para R$ 31,17 (-1,9%).
Doces e frutas típicas em alta
O levantamento apontou, ainda, que o panetone e o chocotone passaram de R$ 14,40 para R$ 15,32, o valor médio. Apesar do encarecimento, o varejo segue apostando nesses itens: segundo a Abras, panetones, chocotones, biscoitos especiais e chocolates registraram alta de 13% no volume de encomendas, ou seja, os supermercados ampliaram os pedidos para reforçar o estoque neste período.
Além dos panetones, outros produtos típicos da ceia também ficaram mais caros. De acordo com a Abras as maiores variações de preços neste Natal ocorreram em nozes e castanhas (7,7%), frutas especiais e importadas (6,7%), frutas secas (6%) e frutas nacionais da época (4,5%), grupos que costumam ter forte procura em dezembro.
No recorte da VR, uma das altas mais expressivas apareceu na azeitona verde, cujo preço médio passou de R$ 16,67 para R$ 20,85 (25,07%). As uvas-passas também encareceram, saindo de R$ 6,95 para R$ 7,48 (7,6%).
Queda do azeite contrasta com outras altas
Dos 26 produtos típicos de Natal pesquisados, 14 registraram queda nos preços em 2025, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Fundação IPEAD). Entre os itens que ficaram mais baratos, a redução média foi de 5,59%, indicando que, apesar da pressão em alguns grupos, parte da cesta natalina teve discreto alívio ao consumidor.
Entre as maiores quedas, o principal destaque foi o azeite de oliva, que passou de R$ 30,24 para R$ 23,84, redução de 21,16%. O produto aparece entre os cinco com maior recuo no levantamento e ajuda a compensar, ao menos em parte, o aumento observado em outros itens tradicionais da ceia.
De acordo com a VR, a retração acompanha a normalização do mercado internacional de azeites após a quebra de safra no Mediterrâneo entre 2022 e 2023, além do efeito da desvalorização do dólar. Já a Abras acrescenta que, após a extinção da tarifa de importação em março de 2025, com redução do imposto de 9% para zero, os preços do azeite recuaram ao longo do ano, levando a uma queda média de 18% no produto.
Vinhos e espumantes têm variação moderada
Conforme a Abras, as encomendas de bebidas cresceram 13%, com reajuste médio de 5,4%. Entre as menores variações aparecem sucos (2,3%) e bebidas destiladas (3,2%), enquanto cervejas e vinhos nacionais tiveram alta semelhante (4,6%); na sequência vêm refrigerantes (6%), espumantes e frisantes (7,1%) e vinhos importados (9,6%).
Tradição se mantém, mas com adaptações
Levantamento da CNDL e do SPC Brasil indica que a celebração do Natal deve seguir, majoritariamente, dentro de casa. No total de 46% dos entrevistados pretendem comemorar na própria residência, 17% na casa dos pais e 15% na casa de outros parentes. Ainda assim, uma parcela relevante planeja passar a data fora: 20% afirmam que pretendem viajar para a comemoração.
Para viabilizar a confraternização sem pesar no bolso, também ganham espaço formatos de partilha da ceia. A pesquisa aponta que 31% dos entrevistados pretendem adotar o modelo em que cada pessoa ou família leva um prato, enquanto 28% planejam dividir as despesas, com cada grupo contribuindo com um valor. Outros 13% afirmam que pretendem arcar sozinhos com todos os custos da comemoração.
Já pesquisa da MBRF, que inclui as marcas Perdigão e Sadia, mostra que o perfil “tradicional” segue predominante entre os brasileiros (42%) – grupo que faz questão de manter o espírito natalino, reunindo a família em casa ao redor de uma mesa com pratos típicos da época. Segundo o estudo, esse consumidor é sobretudo jovem, concentrado entre 18 e 24 anos, e foi o que mais cresceu desde a pandemia, com avanço de mais de oito pontos percentuais entre 2019 e 2024. O levantamento também identifica outros comportamentos: os “inovadores” (30%), em sua maioria de 25 a 40 anos, alternam a comemoração entre família e amigos e mesclam pratos tradicionais com opções como churrasco ou lasanha; já os “simplificadores” (28%), principalmente a partir dos 41 anos, mantêm a nostalgia da data, mas preferem encontros menores e cardápios mais enxutos, por praticidade.
Esse rearranjo de hábitos ocorre em um contexto de orçamento ainda pressionado, especialmente pelo custo da alimentação. A Pesquisa Nacional da Cesta Básica, do Dieese, ajuda a contextualizar por que a ceia tem sido mais planejada ao mostrar que, entre novembro de 2024 e novembro de 2025, a cesta básica aumentou em 14 das 17 capitais onde há comparação direta, elevando o peso dos alimentos no dia a dia e tornando gastos extras de fim de ano mais sensíveis ao bolso.
*estagiária sob supervisão da editora Fabíola Costa

