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Gasolina dispara; litro esbarra na casa dos R$ 7 em JF

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A Tribuna esteve nas ruas de Juiz de Fora na tarde desta quarta-feira (20) e encontrou três postos com o preço da gasolina comum a R$ 6,97 o litro. O valor pago pelo combustível passou a pesar ainda mais no bolso dos motoristas desde o último reajuste anunciado pela Petrobras, no início deste mês, depois de 58 dias de estabilidade. Na semana seguinte, após o aumento nas refinarias entrar em vigor, os postos da cidade registraram alta de 4,7% no preço médio da gasolina, de acordo com o último levantamento feito pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) na cidade.

O IBGE apontou que a inflação da gasolina, acumulada de janeiro a setembro, chegou a 34,13%, quase cinco vezes maior do que a inflação média de outros bens (Foto: Fernando Priamo)

Os dados da ANP mostram que, entre os dias 10 e 16 de outubro, o preço médio da gasolina era de R$ 6,87 na cidade, enquanto, na semana anterior, o litro custava, em média, R$ 6,56, resultando em um aumento de R$ 0,31 por litro nos postos juiz-foranos. Com esse último reajuste, a cidade passou a ser a quarta com o preço médio da gasolina mais caro no estado de Minas Gerais.

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Conforme a Petrobras, esses ajustes garantem que o mercado permaneça sendo suprido e refletem parte da elevação internacional nos preços de petróleo. A estatal, que antes repassava para as distribuidoras a gasolina tipo A com custo de R$ 2,78, agora cobra R$ 2,98 por litro, reajuste médio de R$ 0,20.

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Segundo o professor de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Weslem Faria, os motoristas de Juiz de Fora sentiram um aumento maior no bolso por conta do alto ICMS cobrado pelo Governo estadual. “Minas Gerais tem um dos maiores ICMS de combustíveis no Brasil, 30%, é muito alto. Então, se o aumento no produto que sai da refinaria é de R$ 0,20 por litro, o aumento para a gente chega a R$ 0,31, porque, nesse preço final, são contabilizados os impostos. A alíquota cobrada não altera, ela permanece a mesma. O que acontece é que o Estado está arrecadando mais, porque o imposto é baseado no preço final. Como o preço final está aumentando, a arrecadação do Governo está sempre crescendo também.”

Aumento no barril do petróleo

Os combustíveis derivados de petróleo têm seus preços atrelados aos mercados internacionais, cujas cotações oscilam diariamente de acordo com a variação de custo do barril. Para Weslem, o que influencia diretamente no preço da gasolina é a variação entre a oferta e a demanda. “No ano passado, no início da pandemia, a demanda por combustíveis diminuiu no mundo todo, porque as pessoas estavam em casa cumprindo o isolamento social e não estavam usando transporte. Dessa maneira, houve uma queda muito forte nos preços do barril do petróleo no mercado internacional, que, no valor mais baixo, chegou a custar US$ 35. Com o passar do tempo e a retomada das atividades, o preço do barril começou a ser reajustado. Hoje ele já está custando US$ 84, sendo o maior preço nos últimos cinco anos.”

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Além disso, o professor afirma que a cotação do dólar é outro fator que faz com que o reajuste seja sentido mais intensamente no Brasil. “Como o valor do barril do petróleo é em dólar, e o Real sempre está desvalorizando diante dessa moeda, isso acaba pesando mais nos reajuste aqui no país.”

Pagando a conta agora

Para Weslem, os quase dois meses sem reajuste no preço dos combustíveis pela Petrobras estão refletindo agora no bolso do consumidor. “A tendência no mercado do petróleo já está sendo de alta, mas sabemos que repassar de forma muito frequente esses aumentos para o consumidor é muito impactante. Então a pressão do Governo federal, que detém a maior parcela das ações da Petrobras, é que esses reajustes não sejam tão frequentes. Mas esse reajuste sempre vêm, o acumulado é repassado completamente para o consumidor, mesmo que seja depois de um período de 30 ou 60 dias.”

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O economista ainda acredita que, nos próximos meses, o preço do combustível deve continuar em curva ascendente. “Mediante essa tendência de o mercado estar mais rígido, acredito que o cenário para os próximos meses seja sombrio para o mercado internacional de combustível. Mas a retomada das atividades econômicas deve ajudar a estabilizar o preço do barril do petróleo. Por enquanto, ainda tem bastante margem para termos mais aumentos.”

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação de produtos e serviços no país, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que a inflação da gasolina, acumulada de janeiro a setembro de 2021 no Brasil, foi quase cinco vezes maior do que a inflação média dos outros bens. O combustível acumulou alta de 34,13% nesse período, enquanto a inflação teve alta de 6,90%.

A Tribuna questionou o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro) a respeito do aumento dos preços no estado, mas ainda não houve retorno.

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Impacto também no gás de cozinha

O gás de cozinha (GLP) também teve reajuste feito pela Petrobras no início deste mês, saindo da estabilidade após 95 dias com preços fixos. O preço médio de venda da Petrobras para as distribuidoras passou de R$ 3,60 para R$ 3,86 por quilo, equivalente a R$ 50,18 por 13kg.

Em Juiz de Fora, de acordo com o levantamento feito pela ANP, entre os dias 10 e 16 deste mês, o gás de cozinha custava, em média, R$ 97,95, podendo chegar ao preço máximo de R$ 118. Isso representa um aumento de 3,7% em comparação à semana anterior, quando o preço médio do botijão era de R$ 94,37. Em 2021, segundo o IBGE, até o mês de setembro, o GLP teve um aumento acumulado de 28,63%.

Risco de desabastecimento

Um posicionamento divulgado pela Petrobras na segunda-feira (18) preocupou o mercado. A estatal afirmou que não vai conseguir atender a demanda por combustíveis para o mês de novembro. De acordo com a nota publicada, a empresa afirma que recebeu pedidos para o próximo mês muito acima dos meses anteriores e maiores do que a sua capacidade de produção. A petroleira ainda relatou que só conseguiria atender esta demanda, considerada atípica, com muita antecedência. “Na comparação com novembro de 2019, a demanda dos distribuidores por diesel aumentou 20% e por gasolina, 10%, representando mais de 100% do mercado brasileiro.”

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Entretanto, a ANP afirmou, também em nota, que não há indicação de desabastecimento no mercado nacional de combustíveis neste momento, e que segue realizando o monitoramento da cadeia de abastecimento. Ainda segundo a agência reguladora, se necessário, serão adotadas providências cabíveis para mitigar desvios e reduzir riscos.

Na semana passada, a Federação Nacional das Distribuidoras de Combustível, Gás Natural e Biocombustíveis informou que recebeu comunicados do setor comercial da Petrobras, informando uma série de cortes unilaterais nos pedidos feitos para fornecimento de gasolina e óleo diesel para o mês de novembro de 2021. “As reduções promovidas pela Petrobras, em alguns casos chegando a mais de 50% do volume solicitado para compra, colocam o país em situação de potencial desabastecimento.”

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