Dentro do universo das criptomoedas, um termo que ficou conhecido nos últimos anos é o Token Não Fungível – mais conhecido como NFT. Celebridades, como Madonna, Paris Hilton e Neymar, chegaram a adquiri-lo da série Bored Ape Yacht Club (traduzido para Iate Clube do Macaco Entediado) e divulgaram a arte nas redes sociais e programas de TV. Entretanto, apesar de ter surgido como promessa para o mercado, tem sofrido grande queda.
De acordo com pesquisa realizada pela dappGambl, empresa especializada em negócios digitais, cerca de 95% das coleções de NFT não têm valor para investimento. No estudo, foram analisados 73.257 tokens; destes, 69.795 valem zero Ether (criptomoeda). Além disso, a estimativa é de que mais de 23 milhões de pessoas encaixam-se nesse cenário de perdas.
Outro dado divulgado na pesquisa que ilustra a queda do NFT é o valor negociado semanalmente em julho de 2023. Na ocasião, o total foi de cerca de US$ 80 milhões. Na época de alta, como em agosto de 2021, o valor atingiu US$ 2,8 bilhões. O mais recente representa menos de 3% do pico da data mais antiga.
O que é o NFT?
A Tribuna entrevistou os assessores de investimentos Bruno Ribeiro e Otávio Campos, ambos sócios da InvestSmart XP Investimentos de Juiz de Fora. De acordo com eles, um item fungível é um bem ou ativo que pode ser facilmente substituído por outro do mesmo tipo e valor. No caso dos NFTs, são tokens digitais únicos (não fungíveis) que representam ativos digitais ou reais específicos, registrados em uma blockchain. Ou seja, consistem em um registro digital da posse de determinado bem, que não podem ser replicáveis.
“Eles são criados usando contratos inteligentes, que são programas autônomos executados em uma blockchain, como Ethereum por exemplo. Eles contêm informações sobre o ativo digital, como propriedade, histórico de transações, datas e metadados relevantes. Quando alguém compra um NFT, recebe um certificado digital de propriedade exclusiva desse ativo digital específico, que pode ser desde arte digital até vídeos, músicas, artigos colecionáveis ou até mesmo propriedades virtuais em jogos”, explicam.
Queda e segurança para investir
Segundo os assessores de investimentos, a queda no valor dos NFTs pode ser atribuída a vários fatores. “Primeiro, após um período de rápida valorização e entusiasmo especulativo, é comum ocorrer uma correção de preço, onde se ajustam para refletir melhor o valor real dos ativos. Além disso, surgiram preocupações sobre bolhas de mercado, especialmente quando alguns NFTs foram vendidos por preços extremamente altos, muitas vezes sem uma base sólida para fundamentar seu real valor.”
Outro fator é a saturação do mercado, com um grande número de novos NFTs sendo lançados constantemente, o que, conforme Bruno e Otávio, pode ter diluído o valor percebido de cada um. Em relação à projeção para o crescimento futuro, outros pontos devem ser levados em consideração. “A evolução da tecnologia blockchain e a melhoria da infraestrutura para suportar NFTs podem facilitar sua adoção e aumentar sua utilidade. Outro ponto a ser considerado é o interesse contínuo de colecionadores e investidores, juntamente com a entrada de criadores e artistas de renome no espaço para impulsionar o crescimento”, destacam.
Por ser uma tecnologia nova, ainda é possível estabelecer uma perspectiva positiva sobre o tema. No entanto, Bruno e Otávio afirmam que é importante notar que o mercado de NFTs ainda é relativamente novo e pode enfrentar desafios, como questões de regulamentação e preocupações com direitos autorais e propriedade intelectual.
“Investir em NFTs pode ser arriscado, devido à sua natureza especulativa e à volatilidade do mercado. Os investidores podem enfrentar desafios adicionais, como falta de transparência, questões de segurança cibernética e potenciais golpes. É importante que conduzam uma análise cuidadosa antes de investir, entendendo os riscos envolvidos, realizando pesquisas sobre os ativos específicos em que estão interessados e considerando a diversificação de seus investimentos para mitigar os riscos”, finalizam.
‘Inverno cripto’
Apesar de o lado da compra, sobretudo para investimento, ser mais abordado, também há o lado da venda. O artista Fernando Priamo relata à Tribuna que, neste caso, não utiliza o mercado de moedas digitais para investir. Ele aproveita para divulgar sua arte e deixar que as pessoas invistam nela de outra forma, para além dos quadros em galerias, no intuito de comercializá-la e valorizá-la.
“Geralmente, as plataformas são utilizadas para a compra do token. Eu trabalho com arte, então a projeção artística das minhas obras foi transferida para o NFT. Foi uma forma de diversificar o mercado e criar coleções a partir de algumas imagens para ser inserido nesse contexto de moedas digitais. Foi uma possibilidade que encontrei de colocar minhas obras para o mundo”, explica Fernando, que afirma já ter divulgado entre 15 e 20 obras em duas plataformas diferentes.
Segundo o artista, desde sua entrada no mercado, algumas obras foram comercializadas e continuam gerando retorno financeiro. “Uma vez que alguém adquire sua obra, ela pode ser vendida novamente. Nesse processo, o artista continua recebendo uma espécie de comissão por essa venda, como uma cadeia.” Fernando conta que, diferente de algumas pessoas que pagaram milhões pelo NFT e tiveram prejuízo, adquiriu alguns, pois o valor era baixo.
“Pretendo continuar nesse mercado, mas preciso aguardar um pouco, pois ele passou pelo ‘inverno cripto’. Agora estamos saindo dele. Nesta última sexta-feira (19), por exemplo, aconteceu o halving do bitcoin. É um bom momento para o investimento.”