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Economia solidária se consolida em Juiz de Fora e região

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A Economia Solidária tem oferecido uma nova perspectiva de trabalho para dezenas pessoas de Juiz de Fora e região. Por meio das pequenas produções, artesãos, agricultores, artistas e cozinheiros, mantêm suas subsistências e ainda subvertem a lógica de mercado, amparados pela cooperatividade. Dentro dessa perspectiva e atividade econômica, são os próprios produtores os responsáveis pela produção, distribuição e comercialização de seus produtos, por meio da autogestão. Em Juiz de Fora, esse trabalho é possibilitado pela Associação dos Artesãos da Feira de Economia Solidária de Juiz de Fora (Fecosol) e da Cooperativa da Agricultura Familiar de Lima Duarte e Região (Coopafalder). Atualmente, ambas as cooperativas contam com dezenas de produtores.

A Tribuna conversou com alguns deles, que compartilharam sua rotina de trabalho. Em comum, todos eles, com suas distintas mercadorias, além da forma de trabalho, são apaixonados pela possibilidade que têm de contato mais próximo com os clientes. Para eles, participar e promover a economia popular solidária é fundamental para manterem o fluxo de produção, independência financeira e subsistência de suas famílias, além de contribuírem para que consumidores tenham acesso a produtos locais e de maior qualidade.

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Feira da Economia Solidária

A economia solidária contribui para que pequenos produtores mantenham o fluxo de produção, a independência financeira e a subsistência de suas famílias, além de garantir aos consumidores o acesso a produtos locais e de maior qualidade (Foto: Divulgação/Coopafalder)

No Centro de Juiz de Fora, não há quem já não tenha notado a feira da Fecosol. No local, o Parque Halfeld e a Praça Doutor João Penido acolhem os feirantes que, em troca, atraem consumidores que desfrutam destes espaços urbanos e contribuem como a economia local. É esse fluxo que dá aos comerciantes a possibilidade de viverem a partir da comercialização dos produtos que eles mesmos produzem. A Fecosol foi inaugurada em 2011, sob a lógica da Economia Solidária, que prioriza uma relação de horizontalidade. Essa forma de cooperativismo começou a juntar adeptos e inaugurou a primeira feira, á época com seis barracas. Atualmente, a feira conta com dezenas de comerciantes. Inclusive, por causa deste crescimento, uma sede foi criada, na Rua Tiradentes 771, Centro.

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Segundo a presidente Eliza Bertildes Chaves, para participar da associação, o interessado deve ser encaminhado por meio da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). Ou, então, procurar a sede do local e preenches os pré-requisitos da cooperativa: solidariedade, cooperativismo, cuidado com o meio ambiente e o cuidado com o outro. “Para a Economia Solidária, mais importante que o capital é ser humano enquanto indivíduo”, afirma Eliza.

Emancipação feminina

A Fecosol busca atender a todos os comerciantes de pequena produção que não têm um local fixo para venderem seus produtos, os inserindo nas feiras. Apesar de ser aberta a todos, o perfil de feirantes associados é predominantemente feminino, revela Eliza Bertildes Chaves, presidente da associação.

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Cerca de 90% dos 82 associados atualmente, são mulheres. De acordo com Eliza, a predominância feminina se deve ao fato de que mais mulheres trabalham com artesanato ou com a produção de alimentos. Além disso, algumas delas são as provedoras de seus lares e criam seus filhos sozinhas, observa a presidente.

Aida Lisboa, 68, viu na feira uma potencialidade para continuar se transformando. Costureira, antes da pandemia trabalhava com vestidos de festa, mas por causa da instabilidade decorrente da crise sanitária, ela precisou se reinventar. Agora, faz roupas de criança, bonecas de pano e outros produtos voltados para a infância. Responsável por costurar, bordar e fazer crochê, sua única renda vem dos produtos que faz e vende na feira.

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Além de ajudar na independência financeira de mulheres, o trabalho exercido por elas na Fecosol ajuda a mantê-las com uma vida mais ativa, com a possibilidade de contato com outras pessoas. Leila Pires, 60, trabalha há 11 anos como feirante. Antes disso, ela era dona de casa. Ela faz pano de prato, capa para botijão de gás, puxa-saco e outros elementos para cozinha. Trabalhar fora de casa possibilitou a ela poder “arejar a cabeça”, como descreve a vendedora. Para ela, a fuga da rotina mantém sua alegria, mesmo nos dias em que as vendas são “razoáveis”.

Incentivo ao trabalho

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Leila Pires, 60, destaca o papel social da feira, que possibilita a ela o contato com outras pessoas e a fuga da rotina (Foto: Pedro Moysés)

Para Edson Ferreira Martins, 51, a participação na Feira da Economia Solidária foi fundamental para dar incentivar seu trabalho. Apesar de já vender suas artes em casa, na internet e no comércio do Bairro São Benedito, Zona Leste, onde mora, ele conta que a visibilidade que ganhou ao ir vender na feira, promoveu o trabalho do artista.

Edson esculpe, em madeira, tábuas para corte de carne, suportes, bancos, cadeiras, jogo de xadrez e outros produtos artesanais. Ele prepara a madeira do bruto e as transformam nas peças. “A arte é assim, o que é industrializado tem pouca vida, dessa árvore tem vida”, conta Edson, sobre o processo de pegar madeiras que seriam descartadas e dar a elas uma nova oportunidade.

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Há 25 anos ele trabalha com artesanato. Na feira, ele afirma conseguir levantar parte de sua renda, o que o ajuda a poder viver da sua arte – uma realidade que ele identifica como difícil para quem geralmente faz parte desse ramo. O dinheiro que ele consegue ali, mantém 30% das despesas de casa, lugar onde vive com a esposa e o filho.

A existência da feira também foi o que incentivou Marlene Salermo, 69 anos, comercializar os pães que já fazia em casa. Agora, ela vende pão de canela, pão recheado com calabresa e biscoito de polvilho, cuja receita veio de sua avó. Natural de Pocrane, um pequeno município de Minas Gerais, ela atualmente é moradora do Bairro Santo Antônio, Região Sudeste de Juiz de Fora, e vive com o marido, filha e neto. Há um ano, Marlene decidiu comercializar os quitutes na feira. Uma oportunidade que surgiu a partir da necessidade de auxiliar na renda de casa.

Agricultura de subsistência

Em 2013, a Cooperativa da Agricultura Familiar de Lima Duarte e Região (Coopafalder) surgiu em Lima Duarte. De lá pra cá, a cooperativa foi ganhando adeptos e, hoje, é capaz de atender, além da própria cidade, Bom Jardim de Minas, Pedro Teixeira, Juiz de Fora, Olaria, Barbacena, Barroso e Santos Dumont.

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Isso, é claro, só se tornou possível pelas mãos das pessoas que todos os dias vão produzir os alimentos que são vendidos. São 35 produtores rurais envolvidos nos processos, que incluem o plantio, a colheita, o preparo do produto e a comercialização. A partir disso, são comercializados folhas e hortaliças, legumes, frutas, laticínios, mel, produtos manufaturados como bolos, biscoitos e doces, além de polpa de frutas.

Todos esses produtos são recolhidos nas propriedades dos agricultores e levados até o comprador, por meio da cooperativa. Os clientes costumam ser supermercados, bares, restaurantes e escolas. No caso desta última, a venda é feita por chamadas públicas, através da abertura dos editais de licitação.

A presidente da Coopafalder, Ediléia Alves Machado, enfatiza a procura para que os cidadãos possam prosperar com rentabilidade e sustentabilidade. “O nosso desempenho é pautado no crescimento e no desenvolvimento do pequeno produtor. Somos a ponte entre o produto que ele produz e quem compra. Fazemos a transação e repassamos a ele os valores referentes à venda”, afirma.

A agricultura familiar permite que os cooperados e as suas famílias tenham uma fonte de renda e bem-estar social. Esse meio de produzir é rentável e regado também pela sustentabilidade. A entrada na cooperativa faz com que prejuízos sejam evitados, por meio do devido escoamento e minimização de perdas.

Outra ferramenta cada vez mais atual e que também é possível pelo cooperativismo, é a visibilidade do produto no mercado e aumento da procura. A presidente da Coopafalder conta outras vantagens que a pessoa tem ao participar da associação, como emissão de nota fiscal e insumos para a produção ficar em um preço mais acessível.

Ela acrescenta, ainda, a importância do papel social que as cooperativas desempenham. “Ajudam a fortalecer as relações, fazendo com que todos ganhem e participem do negócio. Assim, entendemos que cumprimos com o ideal da Economia Solidária, pois o cooperativismo na agricultura familiar é uma das bases do desenvolvimento sustentável.”

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