Estudantes brasileiros estão receosos diante de possíveis mudanças no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), programa do governo federal que repassa às instituições de ensino superior o valor da mensalidade, para que o aluno pague depois de formado, com juros mais baixos que os praticados no mercado. Diante dessa possibilidade, o mercado vem testando alternativas, como o crédito estudantil financiado por outras pessoas – uma modalidade de investimento de impacto social que promete retorno maior do que alguns produtos de renda fixa.
Entre as especulações sobre o programa estão o aumento nos juros, atualmente em 6,5% ao ano, e mudança no prazo de carência, de 18 meses, explica Sólon Caldas, diretor da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) Sólon conta que a exigência de uma pontuação mínima no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e renda mínima de três salários mínimos contribui para a desistência dos alunos. A porcentagem de financiamento disponível ainda passou a ser calculada de acordo com a renda, não chegando a 100%.
O Ministério da Educação confirmou, em nota, que será divulgado um novo Fies, porém, sem data específica, pois os estudos estão em andamento.
O preço das mensalidades subiu em média 6,2% no primeiro semestre ante igual período de 2016, segundo a plataforma Quero Bolsa. O aumento ficou acima do índice de referência usado para reajustar salários de docentes (INPC), que em 12 meses foi de 4,6%.
Diante de um financiamento restrito e ciente da dificuldade do estudante de passar pelo crivo dos bancos, a startup de serviços financeiros Biva lançou um projeto piloto com 107 alunos que financiaram um semestre de forma integral a uma taxa de 1% ao mês. “O próprio governo dá sinalizações de que vai privatizar o Fies, ou seja, de uma forma ou de outra vai ter de ter alternativas”, conta Jorge Vargas Neto, CEO da Biva.
Os estudantes foram selecionados de acordo com nota do Enem e com a faculdade em que foram aprovados. Na hora de contratar, será preciso um fiador. Para diminuir o risco de calote e ajudar o estudante a conseguir um emprego, a Biva também oferece uma espécie de mentoria.
Os investidores têm um retorno de 1% ao mês, que pode ser maior do que no Tesouro Direto, e têm a oportunidade de experimentar o investimento de impacto social em tempos de alternativas à renda fixa tradicional, pela trajetória de queda da taxa básica de juros. Cerca de 170 investidores começaram com um aporte inicial de R$ 5 mil e um prazo de 12 meses.
Apesar do modelo aparentemente sustentável, Vargas Neto, da Biva, conta que ainda não sabe de que forma o financiamento coletivo vingará – se permanecerá nos moldes atuais, para um grupo pequeno, ou se será expandido. “Para garantir suporte a mais alunos, precisaria estar atrelado a alguma das instituições de ensino, que já entraram em contato.”
O modelo é parecido com o da Prodigy Finance, plataforma americana que oferece empréstimos para estudantes financiados por uma comunidade de ex-alunos, investidores institucionais e investidores privados.
Assim como a Biva, a Prodigy, fechou parceria com a Fundação Estudar, organização sem fins lucrativos criada pelo empresário Jorge Paulo Lemann. Segundo o diretor Thiago Mirtraud, a instituição tem buscado outras formas de ajudar os alunos, e uma delas é direcioná-los para financiamentos alternativos, para que não deixem de estudar.
Dificuldades
Apesar de não acreditar que haverá mudanças mais restritivas no Fies, Elizabeth Guedes, vice-presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup), defende o fim da carência para começar a pagar o financiamento. “É importante que o aluno se acostume com a ideia de que é um financiamento e não uma bolsa”, diz. Para Elizabeth, parte do calote vem do esquecimento do aluno, que não está habituado ao pagamento do financiamento. Por isso, ela aconselha que o primeiro passo deve ser a negociação de descontos direto na mensalidade.
Sônia Amaro, advogada da Proteste, alerta que o estudante deve se certificar de todas as taxas e dos valores, tanto das parcelas quanto do total, para não ter surpresas. Caso fique inadimplente, a recomendação é tentar negociar a dívida imediatamente ou procurar os órgãos de proteção ao consumidor para orientá-lo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.