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Mercedes pode reduzir atividades em Juiz de Fora

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Montadora afirma que unidade será mantida mesmo com a transferência da produção de caminhões para SP e a possibilidade de levar desembaraço das sprinters para o ES

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Sprinters devem ser desembaraçadas no Espírito Santo; e caminhões serão produzidos em São Bernardo (Foto: Fernando Priamo)
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A Mercedes-Benz confirmou que estuda a possibilidade de levar o desembaraço das sprinters para o Espírito Santo, conforme antecipou a coluna Painel, da Tribuna. Atualmente, os veículos são produzidos na Argentina, seguem pelo Rio de Janeiro e chegam à fábrica de Juiz de Fora, onde passam por pre-delivery inspection (PDI), um conjunto de ações necessárias para adequar os veículos importados à legislação brasileira ou à demanda de mercado antes da entrega para as concessionárias. A montadora também está prestes a transferir de Juiz de Fora para São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, a produção do caminhão Actros. A informação traz insegurança aos 1.130 funcionários que trabalham na planta local, que temem pela redução das atividades e o corte de empregos.

Nos bastidores, a informação é de que o principal atrativo para a montadora é a carga tributária mais baixa oferecida pelo Estado do Espírito Santo em comparação com a de Minas Gerais. Outro aspecto que poderia ser considerado na decisão é o imbróglio envolvendo o Porto Seco de Juiz de Fora, que ainda funciona à base de liminar. O contrato da permissionária Multiterminais Alfandegados do Brasil S/A junto à União venceu em abril de 2017 e, desde então, o prosseguimento do desembaraço via aduana segue em caráter provisório. A Tribuna entrou em contato com a assessoria da Mercedes que, por nota, se limitou a dizer que “avalia a possibilidade e se manifestará quando tiver uma decisão.”

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A expectativa é que uma reunião entre representantes da empresa e do Governo do Espírito Santo ocorra ainda nesta semana. Sobre a transferência da produção do modelo Actros para o ABC Paulista, a montadora destacou que a decisão foi anunciada há quase cinco anos. “Não é uma novidade. Em 2014, informamos que a nossa proposta era concentrar a fabricação dos caminhões em São Bernardo, e a produção de cabinas e pintura dos veículos ficaria na fábrica de Juiz de Fora, que continua sendo muito importante para nós. É uma decisão estratégica que pretende aumentar a sinergia entre as duas unidades”, informou, via assessoria.

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A administradora do Porto Seco também foi procurada, mas o responsável por falar sobre o assunto não foi localizado.

Transferência dos caminhões Actros para o ABC Paulista vem sendo especulada desde 2014 (Foto: Fernando Priamo)

Trabalhadores temem desemprego

Entre os funcionários da Mercedes, o clima é de preocupação. Desde 2014, com a retração vivida pelo setor automotivo, a empresa passou por várias adaptações que impactaram diretamente a empregabilidade. As demissões em massa na fábrica de Juiz de Fora ocorridas naquele ano foram tema de audiência pública na Câmara Municipal. Depois de muitas negociações, o Sindicato dos Metalúrgicos firmou acordo com a montadora para a manutenção dos empregos. Nos anos seguintes, várias medidas de contenção foram adotadas na tentativa de evitar os cortes, como férias coletivas, redução de jornada e lay-off (suspensão temporária de contratos).

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Em 2018, a Mercedes voltou a contratar, dando início ao processo de recuperação das vagas. Em entrevista concedida à Tribuna em setembro do ano passado, o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos, Fernando Rocha, afirmou que as contratações trouxeram um clima de otimismo. “Depois de anos convivendo com a insegurança do desemprego, o cenário é outro. Os trabalhadores estão mais animados. As novas vagas aumentam a demanda de terceirizadas e criam um ciclo econômico positivo.” No entanto, cinco meses depois, a possibilidade de demissões voltou a preocupar os funcionários.

“Não conseguimos estimar os impactos, mas transferir os caminhões e as sprinters significa reduzir as atividades na fábrica, o que pode gerar demissões”, avalia o também diretor do Sindicato dos Metalúrgicos, Antônio Carlos do Nascimento Souza. Ele explica que a situação já foi comunicada à Prefeitura, e agora o sindicato tenta agendar uma reunião com o governador Romeu Zema (Novo) para discutir o assunto. “A redução das atividades na fábrica de Juiz de Fora significa menor arrecadação para o município e para Minas Gerais. Sabemos que, no caso das sprinters, é uma situação de guerra fiscal, o Governo do Espírito Santo possui uma tributação mais competitiva.”

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As sprinters atualmente são fabricadas na Argentina (Foto: Fernando Priamo)

PJF vai intermediar conversa com Estado

O secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, Rômulo Veiga, informou que a Prefeitura de Juiz de Fora tem total interesse na manutenção das atividades da Mercedes-Benz e, por isso, irá buscar intermediar uma conversa entre representantes da montadora e do Governo de Minas. “Sabemos que existem variáveis internas que são consideradas na tomada de decisões da empresa. Também sabemos que os estados do Espírito Santo e de Minas Gerais vivem realidades diferentes, mas cabe a nós tentar intermediar uma conversa entre as partes para tentar uma contraproposta.”

Afirmando que a Prefeitura está ciente da possibilidade de transferência das sprinters por meio da imprensa, Rômulo acredita que a empresa ainda não tenha uma definição sobre o assunto. “Embora a Mercedes não tenha obrigatoriedade de informar à Prefeitura sobre suas decisões internas, ela o faz por conta do bom relacionamento que temos. Nós sabemos da importância de manter a fábrica em plena atividade e, por isso, faremos o que estiver ao nosso alcance para que o cenário também continue sendo favorável para a empresa.”

De acordo com o secretário, a Mercedes está entre as dez maiores atividades industriais do município. A arrecadação é feita de forma indireta, por meio do recolhimento de ICMS junto ao Estado, responsável por repassar parte desta receita para Juiz de Fora. “Além disso, temos uma massa salarial maior em comparação com outros setores da nossa economia, como comércio e serviços. A redução das atividades traz impacto na nossa economia, pois diminui a receita do município e pode acarretar em demissões que irão representar redução de renda e consumo.”

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Procurada pela Tribuna, a assessoria do Governo de Minas não se posicionou sobre o assunto.

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