A Nvidia se tornou, na semana passada, a empresa mais valiosa do mundo, impulsionada por um avanço de mais de 2% de suas ações na Nasdaq – a Bolsa de Nova York onde estão listadas as grandes companhias de tecnologia. Com essa alta, os papéis da fabricante de chips – que se especializou agora em inteligência artificial (IA) – fecharam o dia com um valor de mercado de US$ 3,432 trilhões, ante US$ 3,378 trilhões da “empresa da maçã”.
A companhia se tornou o símbolo do boom da inteligência artificial, com a alta demanda por componentes para treinar os grandes modelos de IA. Isso gerou uma onda de negócios positiva para a companhia, que, nos últimos 12 meses, viu os preços de suas ações subirem mais de 200%.
Recentemente, Mark Zuckerberg, fundador da Meta, afirmou que a próxima aposta em IA da empresa (o modelo Llama) está sendo treinada por meio de um conjunto de GPUs (os chips especializados em IA) que é “maior do que qualquer outra coisa que já foi vista anteriormente”. A dona do Facebook e do Instagram é, justamente, um dos principais clientes da Nvidia – mas está longe de ser o único.
Além disso, a valorização da Nvidia ocorre em um contexto de alta generalizada das ações de empresas de semicondutores, que foram impulsionadas pela divulgação do Índice de Gerentes de Compras (PMI) de serviços dos EUA em outubro, medido pelo instituto ISM. O índice superou as expectativas do mercado, indicando um crescimento robusto do setor de serviços e reforçando a confiança dos investidores na economia americana.
Quase sem querer
Fundada há mais de 30 anos, a companhia do CEO Jensen Huang antecipou em algumas décadas o atual boom da tecnologia – quase sem querer. A partir de 1999, a Nvidia passou a desenvolver chips de processamento de vídeo (ou GPUs) para computadores e videogames. Essa tecnologia se tornou essencial para processar vídeos pesados na indústria de games (abastecendo consoles como Xbox e PlayStation), e depois indispensável em supercomputadores – que podem ser usados em sistemas de nuvem ou de mineração de criptomoedas, duas áreas em que a Nvidia se tornou a favorita há alguns anos.
Para qualquer inteligência artificial funcionar, é necessária uma quantidade enorme de dados. Estes, por sua vez, exigem uma infraestrutura de computadores de ponta para processar informações. É aí que entram os GPUs: criados para acelerar o processamento gráfico de forma paralela às CPUs (unidades de processamento central, que executam tarefas sequencialmente e com mais consumo de energia), esses chips evoluíram para abastecer as máquinas por onde rodam as redes neurais que turbinam a IA.
Esse processo ocorreu ao longo dos anos, quando especialistas passaram a otimizar as GPUs para algoritmos de IA. Estima-se que são necessárias apenas duas GPUs para realizar o mesmo trabalho em IA de mais de 10 mil CPUs.
Hoje, a Nvidia é líder global em chips gráficos – domina 70% do mercado, segundo a empresa de pesquisas Omdia, deixando para trás rivais como Amazon, Google, Intel, AMD e Qualcomm. A procura cresceu tanto nos últimos anos, em especial em 2023, que startups e outras empresas de tecnologia que querem entrar na corrida da inteligência artificial esperam até 18 meses para receber os sistemas da Nvidia, sem optar pela infraestrutura de computação de outras empresas, segundo empresários consultados pelo jornal New York Times. Isso é algo raro em um setor que tem tanta pressa em inovar.