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Crise dos Correios afeta entrega para juiz-foranos

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sr.ronaldo olavo
Sem usar internet, Ronaldo Dutra reclama dos atrasos constantes das contas e da forma como tentaram resolver o problema: Não uso internet e não concordo que transfiram o serviço dos Correios para mim (Foto: Olavo Prazeres)
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Com impactos por todo o país, a crise dos Correios também tem afetado a vida dos juiz-foranos. Atraso nas entregas, falhas no rastreamento de correspondências, dificuldades para registro de reclamações e ausência de retorno quando estas são formalizadas estão entre os principais problemas enfrentados. A empresa, que já foi referência pelos serviços prestados, agora é motivo de muitas queixas. Só no site Reclame Aqui eram mais de 60 mil até a última quinta-feira (10), o que a colocou em primeiro lugar no ranking nacional das mais reclamadas. No Serviço de Defesa do Consumidor da Câmara Municipal de Juiz de Fora (Sedecon), a estatal nunca foi motivo de muitos registros. No entanto, no ano passado, o órgão formalizou 11 queixas, número que já foi alcançado entre 1º de janeiro e 10 de maio deste ano.

O coordenador do Sedecon, Nilson Ferreira Neto, explica que o serviço dos Correios também está subordinado às regras do Código de Defesa do Consumidor (CDC). “Muitas pessoas não sabem que podem procurar os órgãos de defesa para formalizar as queixas neste tipo de situação, mas o consumidor paga pela prestação do serviço e deve buscar auxílio.” Ele diz que até sob o intermédio do Sedecon, a solução junto a empresa não tem sido fácil. “O serviço precarizou muito, principalmente a entrega. Para indenizar o consumidor, é uma luta.”

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Segundo Nilson, há registros dos mais variados problemas. “Recebemos pessoas que entraram em contato com a empresa por meio da Ouvidoria, mas dentro do prazo de cinco dias úteis dado pela empresa não tiveram respostas sobre o atraso de correspondências. Já vimos caso do consumidor tentar reclamar o não recebimento de uma entrega, mas ouvir que a reclamação só pode ser feita por quem fez o envio. Isto é um absurdo, é abusivo.” Ele conta que também há situações que são reflexo da crise dos Correios. “Há consumidores que não recebem faturas, boletos e ficam com as contas atrasadas.” Ele destaca que quem se sentir prejudicado financeiramente ou moralmente pode recorrer à Justiça.

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Uma professora, que preferiu não se identificar, conta que chegou a ter o nome incluído no SPC por conta do não recebimento de uma correspondência. “No início deste ano, decidi fazer o cartão de uma loja, e a compra que fiz naquele dia seria incluída na primeira fatura. Nunca recebi a correspondência. Entrei no site da marca para solicitar o envio da minha conta por e-mail, mas me pediam o número do cartão que eu não tinha. Decidi esperar mais um tempo, até que fui pessoalmente ao estabelecimento. Foi quando soube que meu nome já estava incluído na lista de inadimplentes. Eu expliquei que não havia recebido nada, e eles viram que o cartão, inclusive, não havia sido desbloqueado. Quitei a dívida pessoalmente, mas foi uma situação desagradável.”

Outra leitora diz que aguardava a carta da Previdência Social para saber se havia conseguido a liberação da aposentadoria, mas ela nunca chegou. “O valor já estava sendo depositado na conta do banco, mas eu não tinha acesso.” Ela checou as informações pela internet, imprimiu a autorização e apresentou à instituição financeira. “Foi assim que consegui acessar a minha conta, mas fico pensando na dificuldade das pessoas que não têm facilidade para lidar com a internet.”

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O aposentado Ronaldo Dutra Pereira afirma que não lida com internet em casa e, por isso, tem pagado as contas com atraso. “Chega tudo com 20 dias de atraso, e eu pago com multa. Tenho três contas de telefone, mas só recebi uma este mês. Isto vem acontecendo há um bom tempo, mas piorou nos últimos tempos.” Ele relata que tentou contato em uma das unidades dos Correios em Juiz de Fora, mas não conseguiu atendimento. “Fiquei mais de 40 minutos no telefone e nada. Da primeira vez que fui reclamar da situação, me pediram para usar a internet. Eu não uso, e não concordo que transfiram o serviço dos Correios para mim.”

Sindicato aponta déficit como causa de falhas

O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Comunicação Postal, Telegráfica e Similares de Juiz de Fora e Região (Sintect/JFA) aponta a falta de contratação e realização de concursos públicos como um dos fatores responsáveis pelos problemas ocorridos. A entidade estima que a Zona da Mata tenha um déficit de cerca de 300 funcionários na área de entrega dos Correios. “Em Juiz de Fora, contamos com cerca de 250 profissionais, quando, na verdade, precisaríamos de mais de 300 para realizar o serviço”, analisa o presidente João Ricardo Guedes. Ele denuncia que há unidades locais com superlotação de encomendas e cartas.

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Afirmando que a situação é “calamitosa”, João diz que os municípios da região estão enfrentando as mesmas dificuldades. “É um absurdo o que esta direção está fazendo com a gente. Nós não somos ouvidos, somos completamente ignorados. Nós só queremos ter um serviço com trabalho eficiente, que não prejudique os trabalhadores e a população.” Ele afirma que tem sido recorrente as horas extras dos funcionários. “Jamais aconteceu tantos trabalhos aos domingos e feriados. Isto era previsto em uma situação excepcional, agora está acontecendo para cobrir falta de pessoal, problema desta administração.” No último feriado, 1º de maio, os carteiros trabalharam em Juiz de Fora.

Greve

Entre os dias 8 e 14 de março, os funcionários dos Correios realizaram greve em todo o país. A proposta principal da mobilização era lutar para garantir o plano de saúde nos moldes como foi definido em acordo coletivo. Após a decisão dada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) de alterar as regras do benefício, autorizando a cobrança de mensalidades para funcionários e dependentes, o movimento foi encerrado.

Correios negam problemas em JF

Procurada pela Tribuna, a assessoria dos Correios informou, em nota, que ” a empresa monitora diariamente a distribuição domiciliária, sendo que no município de Juiz de Fora as entregas estão operando dentro da normalidade”. Ainda destacou que, “para que sejam apuradas com precisão inconformidades apontadas por clientes, é fundamental o fornecimento de informações básicas, como a identificação do logradouro do manifestante, bem como a sua numeração (no caso de objetos simples) ou o número do registro no caso de objetos qualificados”.

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O texto diz ainda que, “no caso de objetos postais simples, devido ao fato de não possuírem número de registro, os mesmos não são passíveis de rastreamento. Como tais objetos não necessitam de recibo no momento da entrega e geralmente são dispostos em portarias ou caixas receptoras de correspondências, a data em que o destinatário toma ciência do objeto nem sempre corresponde à data em que o mesmo foi entregue no domicílio”

A estatal também negou que a cidade enfrenta déficit de pessoal. “Sobre a alegação do Sindicato de que o suposto problema tem ocorrido devido à falta de profissionais para fazer o serviço, os Correios informam que o dimensionamento de empregados é realizado através de ferramenta técnica, aplicada em todas as cidades do país, periodicamente, sendo que o número de empregados apontados por tal ferramenta vem diminuindo ao longo do tempo, em virtude do processo de transformação que os Correios atravessa, em que se verifica uma queda acentuada (de quase 40% nos últimos 4 anos) da atividade postal, de natureza monopolística.”

O uso da realização de horas extras foi confirmado pela empresa, porém em outras circunstâncias. “Caso seja necessário reforçar a equipe de distribuição, seja por picos de carga ou insuficiência momentânea de efetivo (em razão de férias ou problemas de saúde de empregados, por exemplo), a empresa utiliza hora extra, operações em finais de semana, movimentação de empregados entre unidades, entre outros.”

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Futuro dos Correios ainda é incerto

As informações divulgadas pelos Correios, na última semana, trazem incerteza sobre o futuro da estatal, que convive há um bom tempo com a possibilidade de privatização. No dia 6 de maio, em entrevista ao jornal “Estadão”, o presidente interino Carlos Fortner informou que a diretoria e o conselho administrativo aprovaram o fechamento de agências e o corte de funcionários em todo o país a partir do segundo semestre. Três dias depois, em 9 de maio, a empresa divulgou balanço relativo ao ano de 2017 com números positivos, a primeira vez desde 2013.

De acordo com a assessoria dos Correios, o ano de 2017 fechou com resultado positivo de R$ 667 milhões. Em 2016, havia sido negativo em R$ 1,48 bilhão, e em 2015, tabém negativo em R$ 2,12 bilhões. “Entre as medidas estão a revisão de contratos, racionalização de custos com pessoal e de encargos sociais e a revisão do custeio do plano de saúde, além da otimização da rede de atendimento, com foco nas necessidades dos clientes e aderente aos novos mercados e serviços.” Diante do balanço, o Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, afirmou que a possibilidade de privatização foi afastada.

Desconfiança

Na avaliação do presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Comunicação Postal, Telegráfica e Similares de Juiz de Fora e Região (Sintect/JFA), João Ricardo Guedes, as informações mostram “irresponsabilidade” por parte da administração. “A empresa estava no vermelho até novembro do ano passado. Parece uma tentativa de marketing positivo, mas se for real, iremos exigir a participação nos lucros, que não recebemos há muito tempo.” Sobre o afastamento da possibilidade de privatização, ele desconfia. “A verdade é que se quiserem privatizar, irão fazê-lo. Isto já aconteceu no nosso país com outras empresas.”

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