O segmento dos food trucks, ou cozinhas móveis, tem se mostrado um modelo de negócio em expansão, com possibilidades para consumidores encontrarem o que comer e beber em locais variados. Segundo Tarcísio Fagundes, analista técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a alimentação sob rodas, em seus diversos formatos, ainda segue sendo uma grande tendência para o setor de alimentos e bebidas.
Mestre e doutorando em Economia, Igor Machado destaca que a presença de food trucks na cidade cumpre papel importante no estímulo à economia local. “Esse modelo de negócio, na verdade, toca em diversos setores. Não estamos falando apenas de comida: eles impulsionam fornecedores de alimentos, as pessoas que cuidam da manutenção dos veículos, aquelas empresas especializadas em adaptar um veículo comum para esse fim culinário, além do emprego que é gerado”, afirma.
Outro fator atrativo, de acordo com o economista, é a possibilidade de redução de custos operacionais, permitindo que empreendedores com menos capital inicial entrem no mercado e passem a concorrer. “Não ter que investir em um ponto fixo, pagar aluguel mensal ou lidar com as despesas de manutenção de um estabelecimento físico pode representar economias significativas. Claro, como em qualquer empreendimento, existem despesas exclusivas, como combustível e cuidados com o veículo. No entanto, quando colocamos na balança, a economia realizada ao optar por um foodtruck é notavelmente maior”, destaca.
Culinária familiar em novo formato
Proprietário do Mohamed’s Kebaberia, Omar Mohamad conta que o negócio apareceu em sua vida há 6 anos como sinônimo de oportunidade em um período de incertezas. Seus pais, de origem árabe-libanesa, decidiram passar o ponto onde ficava o longevo e tradicional restaurante da família, no Bairro São Mateus. Depois que os investimentos em um novo ramo não prosperaram, foi em um evento de food truck que Omar teve a ideia de resgatar a culinária familiar neste novo formato. “Minha mãe ficou por conta de cozinhar e eu com todo o resto, insumos, divulgação, até o desenho do trailer que mandamos fabricar foi eu quem fiz”, conta.
O primeiro ponto do food truck foi em um posto de gasolina no Bairro São Pedro. Após um ano, eles se mudaram para outro posto no São Mateus, bairro que a família cultivou a clientela do antigo restaurante. Desde a pandemia, o ponto fixo, que funciona nos dias de semana, passou a ser na garagem de sua casa no Bairro Aeroporto. Aos sábados e domingos, o trailer sai para eventos diversos. Para Omar, o destaque de se trabalhar com food truck está nos benefícios de mobilidade do empreendimento. “Por não ser preciso loja fixa, conseguimos adaptar o trailer em vários ambientes. Temos mais oportunidade de divulgar a marca de maneira rápida, porque a gente vai rodando, as pessoas vão vendo, nos conhecendo, pedindo cartão e entrando na página do Instagram”, comenta.
Desafios
Se as vantagens são um atrativo, alguns desafios também estão presentes na rotina de quem trabalha sob rodas. Heloísio Vitoi é dono do Roliço Espetos há 5 anos, inicialmente, a função do food truck era a de garantir uma renda complementar, mas já faz quase 3 anos que o empreendimento ganhou outro significado. “Superamos as diversas dificuldades da pandemia, depois o food truck foi aumentando e passou, então, a ser minha fonte de renda principal”, conta.
A especialidade de seu negócio itinerante é, como o próprio nome revela, o espeto. São 11 tipos diferentes, para além das outras opções, como hambúrguer artesanal e batata frita, o famoso pão de alho e o sanduíche, ambos recheados com os sabores do espeto. O food truck, que já teve ponto fixo no Cascatinha, atualmente arua de forma itinerante em eventos na cidade e região. Para Heloísio, a variação na frequência de eventos e nos preços dos alimentos corroboram diretamente com a instabilidade financeira. “Tem meses do ano de muito movimento, mas tem outros que são mais fracos de eventos. É um segmento que não te dá segurança de renda fixa mensal, então é preciso ter reserva. Além disso, o preço dos produtos influencia, e é um desafio repassar o valor sem desagradar o cliente e sem ficar no prejuízo”, conta.
Na visão de Luiz Henrique Fernandes, dono do Golem Beer Truck, que trabalha com chopp artesanal da marca, além das especiais “torneiras convidadas”, que trazem chopps de outras marcas, a atuação do ramo em Juiz de Fora encontra barreiras em termos de valorização. “A demanda ainda é muito reprimida, e as pessoas ainda não reconhecem tanto. Sinto que é um mercado que ainda tem muito o que aflorar”, diz.
Negócio no campus
Recentemente, a UFJF lançou edital para credenciar food trucks no campus como alternativa alimentícia, especialmente em áreas destituídas de cantinas. Segundo o economista Igor Torres, a decisão da UFJF reflete uma visão moderna e mais antenada às tendências atuais. “A Faculdade de Economia tem carecido de uma cantina desde 2018, obrigando os alunos a fazerem deslocamentos consideráveis até pontos de alimentação bem distantes. A chegada dos food trucks alivia essa demanda reprimida, tornando o acesso a alimentação mais conveniente e diversificado”, explica.
A Associação juiz-forana de Trailer, Food Truck e Beer Truck, formalizada há um mês na cidade, que já conta com mais de cem estabelecimentos inscritos, encara como positiva a iniciativa, mas atesta para algumas ressalvas quanto a viabilidade do projeto, como taxas e preços mais acessíveis. Na avaliação da associação, é importante uma avaliação criteriosa por parte do interessados.
Legenda: FORMALIZADA há um mês, Associação do segmento já conta com mais de cem negócios incritos
Crédito: Luiz Henrique Fernandes