A juiz-forana AG Resinas Ltda., braço de reciclagens de garrafas PET do Grupo AG, foi vendida à Indorama Ventures Polimeros S.A., subsidiária da multinacional tailandesa Indorama Ventures Public Company Limited. O contrato foi assinado entre as partes em São Paulo (SP), na última segunda-feira (8). A aquisição concede à Indorama 100% do capital da AG Resinas. O valor de mercado da empresa antes da venda era de R$ 70 milhões. Em razão de termos contratuais de confidencialidade, entretanto, o valor da transação não foi revelado. Apesar da venda da planta de recicláveis, a AG Plast e o Expresso AG seguem sob o controle do Grupo AG, cujo proprietários são os irmãos Adriana Guimarães e Anderson Cardoso Guimarães. A Indorama Ventures Public Company Limited é a maior produtora mundial de PET 100% reciclável.
A AG Resinas tem capacidade de reciclagem de, aproximadamente, nove mil toneladas de material reciclável por ano. Embora Anderson deva continuar na diretoria da AG Resinas por mais um ano, a multinacional tailandesa já assumiu a operacionalização da unidade juiz-forana, conhecida, agora, como Indorama Ventures Soluções Sustentáveis Brasil Ltda. De acordo com diretor comercial do Grupo AG, Yuri Louzada Guimarães, a AG Resinas chamou a atenção da multinacional em razão da produção da produção de resina reciclável – conhecida, tecnicamente, como PET-PCR. “Há muito apelo sustentável. A Indorama já trabalha com a resina virgem, e nós produzimos a resina reciclada. E Juiz de Fora é um ponto muito estratégico para a Indorama por estar próximo ao eixo Rio de Janeiro-Belo Horizonte. Então, a empresa vai agregar muito para a Indorama.”
A produção de resina é realizada por meio de uma tecnologia austríaca intitulada Starlinger, que autoriza a utilização de 100% da resina para frascos de quaisquer gêneros alimentícios e medicamentos. “Nós compramos o material já utilizado pelo mercado de catadores e cooperativas de recicláveis, o reciclamos e ele entra no maquinário, virando a resina reciclada, que pode ser utilizada novamente em garrafas de alimentícios e outros produtos. O nosso equipamento é certificado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como grau alimentício. Podemos fazer resina, inclusive, para ser utilizada em alimentos, o que é um grande diferencial no mercado”, explica o diretor comercial. As negociações para a transação começaram ainda em agosto de 2019.
‘Patamar internacional’
De acordo com o presidente do Sindicato Intermunicipal da Indústria Química, Farmacêutica, de Material Plástico e de Cosméticos de Juiz de Fora (Sinquifar), Henrique Thielmann, a transação implicará em mais empregos e tributos para os cofres públicos. “Existem várias empresas nas cidades que nascem, crescem, e, a partir de um determinado momento, precisam de investimento de capital maciço. E o capital não está muitas vezes disponível no Brasil, mas, sim, no exterior. Então, há belas ideias, mas que precisam de capital. E o capital vem, vai gerar empregos, tecnologia, mais tributos e manter uma empresa de porte que vai fazer parte de um grupo multinacional. A realidade comercial sai do âmbito municipal, estadual e federal, e passa para um patamar internacional.”
Município e Estado acompanharam negociações
Conforme a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Agropecuária e Turismo (Sedeta), o Executivo municipal acompanhou as negociações, “fornecendo apoio institucional e informações estratégicas necessárias à realização do investimento no Município”, além de benefícios fiscais, já concedidos à planta reciclável. “A AG Resinas está localizada no Distrito Industrial, área de especial interesse Econômico do Município, e possui benefícios fiscais relacionados ao Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), Imposto Sobre a Transmissão Inter-Vivos de Bens Imóveis (ITBI) e de direitos a eles relativos, e Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), previstos em Lei Municipal.”
Em resposta à Tribuna nesta quinta (11), por meio de nota, a Secretaria de Estado de Fazenda (SEF) detalha que, durante as tratativas, foram realizadas reuniões entre representantes da Indorama e do Governo de Minas para discutir as potencialidades econômicas e os tratamentos tributários setoriais oferecidos pelo Estado aos segmentos econômicos nos quais o grupo atua mundialmente. “O tratamento tributário à Indorama Ventures será o mesmo que a SEF concede para o setor de resinas e garrafas PET.” Entretanto, questionada sobre a previsão de investimentos na região, bem como aumento de postos de trabalho, a secretaria pondera que, “por se tratar de um planejamento estratégico da empresa, a SEF não está autorizada a divulgar tais dados, pois as informações estão amparadas pelo sigilo fiscal previsto no Código Tributário Nacional – Lei 5.172/1966”.
A Indorama possui cerca de 24 mil funcionários em todo o mundo, com receita consolidada, em 2019, de US$ 11,4 bilhões – em Juiz de Fora, até o momento, são 40 quadros. A multinacional tailandesa está listada nos mercados emergentes da Dow Jones e nos índices mundiais de sustentabilidade. A Indorama tem ainda instalações de reciclagem em países como México, Estados Unidos, França, Holanda e na própria Tailândia, com perspectiva de inauguração de uma nova planta nas Filipinas em 2021. “Nesta conjuntura, a Indorama Ventures Soluções Sustentáveis Brasil Ltda. simboliza a nossa entrada no mercado brasileiro de reciclagem. Estamos felizes em dar as boas-vindas aos nossos colegas brasileiros (…). Em um estágio inicial como este, não somos ainda capazes de discutir futuros planos ou investimentos”, responde à Tribuna, nesta quinta, em nota, a Indorama Ventures.