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Real Digital: conheça a proposta da versão virtual da moeda brasileira

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Depois de lançamentos recentes de tecnologias no mercado financeiro, como o Pix, Open Finance, criptomoedas e outros, o novo projeto em discussão é o Real Digital. Apesar de ainda estar em fases iniciais de teste e desenvolvimento, o novo recurso do Banco Central do Brasil já gera expectativas, preocupações e confusões em relação às suas funções. Conforme especialistas, entretanto, os possíveis benefícios da versão virtual da moeda brasileira podem se sobressair.

O economista com PhD em finanças e coordenador do curso de Administração da Universidade Estácio de Sá Juiz de Fora, Bruno Dore, explica que o Real Digital é uma versão digital da moeda brasileira, criada pelo Banco Central do Brasil, que vai servir como extensão do real físico. “Vai ser emitido pelo próprio Banco Central e vai ter uma paridade com a moeda corrente que a gente tem; ou seja, um real físico vai equivaler a um real digital.”

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Bruno explica, também, que os motivos da criação do Real Digital estão relacionados ao uso da tecnologia virtual. “Como realizamos a maior parte das transações de forma on-line, desde o recebimento de salários até as diferentes modalidades de pagamentos – cartão, aproximação, Pix, entre outras -, já estamos inseridos no meio digital. A criação da nova moeda vai ser mais um artifício para o consumidor, com muito mais segurança do que temos atualmente, com a base da nossa economia sendo o real em papel moeda”, prevê.

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Em fase de testes

Anunciado pelo Banco Central do Brasil no início de março, o projeto-piloto para o lançamento do Real Digital vai se estender até o segundo semestre de 2024. O projeto vai tratar de transações envolvendo títulos públicos federais, Real Digital e Real Tokenizado – com foco em testes de infraestrutura e privacidade. A depender dos resultados obtidos nessa fase, outros ativos e protocolos podem ser incluídos na fase seguinte do piloto ao longo de 2024.

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A meta da iniciativa é atingir um nível de maturidade que permita dar acesso ao público à plataforma do Real Digital ao final de 2024. Entretanto, a decisão sobre os passos seguintes da iniciativa depende dos resultados dos testes que serão promovidos. Assim, segundo o Banco Central, ainda não há cronograma oficial para o lançamento da moeda. Ainda segundo a entidade, a fase de testes iniciais da nova moeda foi iniciada em setembro de 2022 e vai ter seus resultados publicados este mês.

Banco Central anunciou, em março, o projeto-piloto; proposta é considerada uma inovação em tecnologia da informação (Foto: Raphael Ribeiro/ BCB)

Diferença entre outras moedas digitais

Com o crescente surgimento de recursos digitais relacionados ao meio financeiro, existe a possibilidade de equívocos em relação a função de cada um. De início, o economista Bruno alerta para a possível confusão, por exemplo, da nova proposta com o Pix, que é um meio de transferência de dinheiro – e não uma moeda como o Real Digital. “O Pix é muito utilizado principalmente pelos custos baixos – uma medida muito acertada do Banco Central. Já o Real Digital é um ambiente totalmente novo, que vai ser usado como uma nova plataforma, na qual o Pix pode trabalhar dentro. Ele vai ser uma moeda, com todas as suas funções: meio de troca, reserva de valor, dentre outras mais que podem surgir no futuro no ambiente digital”, esclarece.

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Também há diferenças em relação a outras moedas digitais. “Outro ponto que causa confusão é a diferença para uma criptomoeda, como bitcoin. O Real Digital vai usar muito das estruturas semelhantes a elas, como a segurança com criptografia, transações entre partes com privacidades, além de outros funcionamentos como contratos inteligentes que podem ser executados no futuro; pagamento de salário direto, ordens de serviços, compras frequentes – tudo isso em ambiente digital”, exemplifica.

Dentro desse contexto, o economista afirma que o Banco Central percebe as mudanças no mercado e avalia que a instituição dá um passo à frente em relação a outros países. “A principal diferença para as criptomoedas comuns é que o Real Digital vai ser criado pelo Banco Central e vai ter como base uma moeda de um país – o real. Enquanto a criptomoeda não é criada por um órgão ou governo específico – ou seja, seu valor está associado somente à demanda das pessoas pela moeda -, o Real Digital vai ter relação com a economia do Brasil. Logo, é dependente do governo e do Banco Central, e isso traz estabilidade para o seu valor e fornece segurança, também por serem os bancos e instituições financeiras que vão fazer a custódia e a distribuição no mercado”, completa.

Outra questão é a da “tokenização”, também envolvida no projeto do Real Digital. “O token pode ser definido como uma representação digital de um bem ou produto financeiro para facilitar as negociações virtuais. Basicamente cria uma série de algoritmos, códigos e processos que trazem segurança no ambiente digital para negociação de ativos. Então, a moeda não só vai agir em conjunto com o Pix, mas também vai servir para tokenizar artigos financeiros, ordens de pagamento, recebimentos de salário e outros. Assim, traz mais segurança e facilita as transações, além de, principalmente, reduzir os custos e a dependência dos bancos, dando mais liberdade e menos custos para o consumidor”, entende o economista.

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Expectativa é de mais agilidade para transações

Apesar de ainda ser um projeto recente e em fases de teste, o Real Digital já é aguardado pelos benefícios esperados. Segundo o economista Guilherme Ventura, a tendência é que a moeda promova mais eficiência nas transações pela inserção de tecnologias que vão permitir maior agilidade e menores custos em produtos financeiros. “Vai propiciar contratos financeiros inteligentes, rastreabilidade de transações financeiras, funcionando como uma plataforma aberta aos bancos, fintechs (empresas inovadoras em finanças de base tecnológica) e outros agentes, permitindo a disseminação de muita inovação financeira para a sociedade”, ressalta.

As vantagens são o principal fator que estimulam as associações do meio financeiro a ajudar o Banco Central a desenvolver o projeto do Real Digital, conforme avalia Guilherme. “No futuro, por exemplo, compras que envolvem registro poderão ser mais eficientes. Já existe em fase de teste uma moeda digital usada em um mercado on-line de compra e venda de veículos que faz a transmissão do bem assim que o pagamento é realizado, eliminando a necessidade de ir ao cartório”, exemplifica.

Entretanto, assim como todas as inovações, para além dos benefícios obtidos principalmente pelos novos recursos tecnológicos, existem também as preocupações dos especialistas da área – especialmente na maneira como pode afetar a sociedade. Nesse sentido, o desenho do Real Digital foi feito para minimizar os riscos, segundo Guilherme. “É importante lembrar que a mesma tecnologia do blockchain do mercado de criptomoedas, que faz com que a moeda seja muito difícil de ser rastreada, pode ser codificada para rastrear completamente a moeda, e este é o caminho que será seguido pelo Banco Central”, explica.

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Apesar disso, o economista Guilherme Ventura avalia a criação de uma moeda digital para o Brasil como “muito positiva”, por se tratar de uma tendência mundial. “O Brasil possui uma tecnologia de ponta voltada à economia monetária e ao sistema financeiro. O Pix é um sucesso reconhecido internacionalmente e a ideia é seguir avançando; o Real Digital é uma sequência nessa evolução.”

Febraban cria grupo de trabalho

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) anunciou, também em março, a criação de um novo grupo de trabalho para contribuir com o regulador para o início do desenvolvimento do projeto-piloto. Inicialmente, vão participar do grupo de trabalho cerca de 15 representantes de bancos associados. A Federação destacou que começou a avaliar os diferentes casos de uso do Real Digital em 2021.

Diretor executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Febraban, Leandro Vilain, explicou a proposta da instituição, em release enviado à imprensa. “Se você pensar em uma transferência bancária simples, o Pix já supre essa necessidade. A questão é que a tecnologia em blockchain abre um portal para outras transações mais complexas, que só se concretizam mediante a entrega de um serviço – você reserva um pagamento, mas só se efetiva quando o serviço da contraparte estiver feito”, destaca.

No ano passado, a Febraban também participou do Lift Challenge, projeto do Banco Central que reuniu participantes do mercado financeiro para avaliar casos de uso da moeda digital. A Federação apresentou um projeto de DvP direcionado a grandes transações no atacado. Nele, o dinheiro da transação sai da conta do pagador e permanece “em ambiente de blockchain” até que os negócios sejam efetivamente concluídos. A liquidação financeira só ocorre após a concretização de um evento no mundo real – neste exemplo a entrega do ativo financeiro.

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