Entre 2012 e 2021, o número de idosos que vive no Brasil aumentou 39,8%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). O levantamento mostra que esse público representava 14,7% dos brasileiros em 2021 e a expectativa é de que a população do país passe por um processo de envelhecimento ainda mais intenso nos próximos anos. Já em Juiz de Fora, a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística é de que a população com 50 anos ou mais seja de 133.373 mil pessoas – cerca de 23% da população total. Os dados, portanto, alertam para a necessidade de se investir em produtos que atendam às demandas dessa faixa etária, que é vista como parte de um mercado promissor. Nesse sentindo, surge o termo economia prateada ou economia de longevidade, cujo conceito refere-se a um segmento econômico que envolve todos os bens e serviços consumidos por pessoas com 50 anos ou mais. Na cidade, parte dos negócios já se volta para esse público.
De acordo com o professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Ricardo Freguglia, esse mercado movimenta cerca de R$ 2 trilhões ao ano no Brasil e está em franco crescimento. Para ele, em Juiz de Fora não é diferente, o cenário da economia prateada também é favorável e um bom investimento. “É importante que todos os produtores de bens e serviços se atentem a esse público, que já representa cerca de 30% dos consumidores e tende a crescer com a maior longevidade da população”, afirma o economista.
Ricardo é coordenador do Núcleo de Estudos em Trabalho e Economia Social (Nietes) e analisa que o setor de saúde, lazer, cultura, esporte, educação e outras áreas relacionadas às demandas de produtos e serviços para o público idoso serão ampliados, o que vai exigir dos negócios uma adequação dos seus serviços a esse público.
Aumento da expectativa de vida
O assistente social e gerontólogo José Anísio Pitico acredita que o aumento da expectativa de vida vai implicar na configuração de uma nova ordem social. “É um público demograficamente extenso, com um potencial de consumo muito forte e o mercado ainda não está preparado para atender essa faixa etária. É preciso entender e conhecer mais esse consumidor da chamada terceira idade.”
O gerontólogo explica que o maior envelhecimento da população tem tirado o estigma de que o papel social da pessoa idosa é estar dentro de casa. “O que as pessoas idosas hoje fazem, principalmente as mulheres, e os estudiosos estão chamando de os “novos velhos” ou “os novos idosos”, é investir no consumo daquilo que te dá prazer dentro daquele recurso financeiro que cada um possui, muitas vezes apostando em uma poupança ao longo da vida”, argumenta.
O especialista ainda ressalta que as áreas de consumo se diferenciam de acordo com a condição financeira dos idosos. “Os mais pobres acabam gastando com itens de sobrevivência, já os que possuem uma estabilidade financeira maior fazem o consumo através dos seus interesses.”
Saúde e bem-estar podem permear Economia Prateada
Seguindo essa tendência, é crescente o número de negócios que surgem dentro deste segmento. É o caso do Espaço Vitalidade, criado para oferecer serviços voltados para o bem-estar e saúde na terceira idade. Desde o início do negócio, em 2016, o foco do empreendimento se mantém em atender pessoas dessa faixa etária e que buscam aproveitar o tempo livre para cuidar do corpo e da mente. Hoje, a empresa atende mais de 50 pessoas, que frequentam as aulas de diferentes modalidades.
A professora de Educação Física e proprietária do Espaço Vitalidade, Gisele Giacoia, viu na economia prateada um mercado promissor. “Era necessário um local que entendesse essas pessoas e esse novo padrão de idosos. Diferentes do passado, hoje eles têm a preocupação com a saúde e bem-estar.” Para tirar essa ideia do papel, Gisele precisou entender o que esse público deseja, quais as prioridades, objetivos e onde querem investir seu dinheiro.
Hoje, o estúdio oferece pilates, treinamento funcional, yoga, alongamento e mobilidade articular, biodança, dança de salão, dança ritmos e meditação. Segundo Gisele, a atividade mais procurada é pilates. “Os serviços de saúde, inclusive serviços de exercícios físicos, são essenciais, na medida em que as pessoas com 50 anos ou mais estão vivendo vidas mais longas, saudáveis e produtivas. Os novos idosos querem saúde e bem-estar, mas também querem resultados estéticos. Não é porque uma pessoa passou dos 50, que não se importa com a aparência física”, diz a educadora física.
Além de oferecer atividades físicas, o espaço também incentiva a convivência, interação e amizade entre os alunos. “Sabemos que muitos idosos são sozinhos, e a pandemia ainda veio agravar esse quadro de isolamento e solidão. Por isso, o estúdio se importa com o acolhimento, com a receptividade e o respeito.” Para aumentar esses vínculos, a empresa realiza confraternizações, festas e bingos, com o objetivo de aproximar e divertir os clientes.
Tempo para se dedicar a esportes
Há 22 anos, o empresário Eduardo Santos, 62, resolveu encaixar um tempo na agenda corrida do dia a dia para se dedicar à prática de esportes. Começou correndo alguns quilômetros e, hoje, pratica a corrida no mínimo três vezes por semana e já acumula seis maratonas. Além de treinar regularmente para as competições, Eduardo também pratica musculação e pilates. “Corro no meio de pessoas de todas as idades. A corrida é uma prática de esporte muito simples, você precisa apenas de um tênis, ela ainda te proporciona a oportunidade de viajar e conhecer lugares novos. Por isso, eu e minha esposa gostamos bastante e corremos sempre”, conta.
Eduardo é proprietário da empresa Camilo dos Santos e todo ano promove a tradicional Corrida Camilo dos Santos. No ano passado, o percurso principal foi de 8,3 quilômetros e mais de 2 mil pessoas participaram. “Eu acredito no esporte como integração, desenvolvimento para a saúde, educação e na sociedade como um todo. Há 13 anos, a Camilo dos Santos promove a corrida com muita satisfação. Hoje, em média, 2.500 pessoas de todas as idades participam, temos corrida de criança e adulto, e para nós é um motivo de muito orgulho”, conta Eduardo.
Busca por viagens aumenta
Há quase 25 anos, a agência de viagem Butterfly Tour atua em Juiz de Fora oferecendo pacotes para mais de 80 países. Embora a agência atenda todas as faixas etárias, atualmente a maioria dos clientes é de pessoas com 50 anos ou mais. Para o fundador da empresa, Otaciano Avidago, quando o assunto é viagem é necessário ter em mente três coisas: tempo, disposição e dinheiro para tirar o sonho do papel. “As pessoas acima de 50 anos geralmente reúnem essas três condições. Muitas vezes uma pessoa muito jovem tem dinheiro, mas não tem tempo, por exemplo. E esse público além de ter tempo e dinheiro, também está disposto a viajar, colocou com uma meta de vida conhecer mais lugares.”
De acordo com o agente de viagem, esse público busca mais comodidade e segurança na hora de contratar o serviço. “É um público mais experiente e, consequentemente, mais exigente. Por isso, a nossa agência busca tomar cuidado com cada detalhe do pacote, desde o hotel escolhido até os passeios, porque isso vai atingir esse público.” Otaciano apostou no mercado voltado para o público de mais de 50 anos antes mesmo da ascensão da economia prateada. Ele enxerga isso como um diferencial da sua empresa principalmente para os próximos anos.
Gosto por viajar
Maria Helena Leal Castro, 77 anos, é cliente da Butterfly há muito tempo. O gosto por viajar sempre esteve com ela, mas quando se aposentou, em 2012, Maria decidiu aproveitar o tempo para realizar um sonho antigo: conhecer 50 países. Essa lista está quase completa. Até o momento, ela visitou o Japão, Peru, Estados Unidos, Islândia, Líbano e outros 38 países.
“Um dos lugares que mais gostei de conhecer foi Ushuaia, na Argentina. Fiquei encantada e emocionada com a relação de imponência da natureza. Quando você olha para aquele paredão de gelo, você vê o quanto o ser humano é pequeno. A Tailândia e o Japão também me impressionaram muito pela história”, relembra Maria Helena.
Maria tem o hábito de viajar sozinha, mas quando o destino é um lugar mais distantes, que exige maior planejamento, ela opta por investir em um pacote de viagens de agência. “Eu gosto de saber detalhes, antes de ir viajar prefiro saber onde vamos visitar, o que vamos fazer, ter esse serviço de planejamento e segurança é uma boa opção.” Além dessas duas maneiras de rodar o mundo, ela também costuma viajar com colegas da natação rumo a competições internacionais. Maria pratica o esporte no Clube Bom Pastor, já ganhou várias medalhas de ouro, prata e bronze em campeonatos nacionais e internacionais. “Já fui nadar no Canadá, Nova Zelândia, Uruguai, Argentina e é uma ótima maneira de conhecer novos lugares.”
Antes de se aposentar, Maria Helena dedicou sua carreira a instituições públicas, chegou a ser professora na Faculdade de Economia da UFJF e trabalhou na Prefeitura de Juiz de Fora. Além da sua experiência em economia, ela acredita, de acordo com a sua vivência, que o mercado tem começado a dar atenção para uma área pouco investida. “Agora que o idoso está sendo visto como parte de um mercado que vai além da farmácia. Hoje, a nossa expectativa de vida é maior e nós estamos vivendo com mais qualidade de vida porque estamos sendo mais orientados a praticar esporte, ter uma boa alimentação e investir no nosso lazer.”