Fomentar e apoiar os produtores rurais, principalmente os que fazem parte da agricultura familiar, no setor de queijo e laticínios, é o objetivo do Arranjo Produtivo Local (APL) do Queijo Minas Frescal, para o qual a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) busca reconhecimento por parte do estado, visando auxiliar as demandas de comercialização dos pequenos produtores da cidade e região. Ao todo, existem cerca de 150 laticínios produtores de queijo regularizados com algum tipo de selo de inspeção na microrregião, que irá abranger os municípios pertencentes ao Circuito Turístico do Caminho Novo, como Juiz de Fora, Belmiro Braga, Matias Barbosa, Mercês, Santana do Deserto, Santos Dumont e Simão Pereira.
Dificuldades de comercialização dos queijos
A distância entre a Zona Rural e os pontos de entrega, as más condições das estradas, o alto preço dos insumos e combustíveis, além das dificuldades de acesso a crédito e até mesmo a comercialização dos produtos são alguns dos obstáculos enfrentados pelos pequenos produtores rurais de Juiz de Fora e região. Para a produtora Nathalie de Souza, um dos maiores problemas é a comercialização do produto. “Nós produzimos apenas com o leite obtido exclusivamente no nosso sítio. Então nossa margem é apertada. Nosso custo não é o mesmo de um laticínio que trabalha com 5 mil,10 mil ou 20 mil litros/dia”, explica.
Desde 2011, Nathalie produz queijo minas frescal (@queijosdadalt1) com a mão de obra exclusivamente familiar, produzindo cerca de 200 litros de leite por dia. Neste ano, Nathalie buscou a oportunidade de ingressar em uma cooperativa para ampliar as vendas. Hoje, sua família entrega queijos para merenda escolar, padarias e mercados e já pensa em ampliar a produção. “Mas ainda há muito o que fazer, muito a conquistar. O Queijo Minas está enraizado em nós, não existiria Minas Gerais sem o Queijo Minas. Tenho certeza que esse APL nos dará mais visibilidade e credibilidade.”
A presidente da Cooperativa de Economia da Agricultura Familiar da Microrregião de Juiz de Fora, Renata Montenegro, avalia que a dificuldade de escoamento da produção é uma preocupação constante dos produtores. Conforme Renata, a maioria das reclamações dos trabalhadores é em relação ao fato de ter mercadoria, mas não ter para onde vender ou precisar abaixar o preço dos produtos para conseguir fechar o negócio. “Por isso, a APL do Queijo tem dado muito amparo aos produtores tanto de Juiz de fora, quanto de outras regiões. Para nós, está sendo muito bom esse incentivo principalmente para a agricultura familiar. Isso tem motivado os produtores.”
A assessora de Setores Intensivos em Mão de Obra da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Inclusivo, da Inovação e Competitividade (Sedic), Adriana Freitas, confirma as demandas pontuadas pelas produtoras. “Suas maiores queixas são as dificuldades de escoamento em função das situações das estradas vicinais da área rural do município, a concorrência com a venda irregular de queijos sem inspeção e a falta de mão de obra no campo.”
A Prefeitura realiza a articulação e mobilização dos produtores por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER-MG), que mantêm contato diário, auxiliando na função de suas atividades de capacitação e assistência técnica contínua. Adriana explica que a maioria são pequenos produtores rurais familiares, por isso, a Secretaria de Desenvolvimento (SEDIC) e Secretaria de Agricultura (SEAPA) tem incentivado a criação de Cooperativas de Produtores Rurais Familiares, pois o cooperativismo na agricultura familiar é uma das bases do desenvolvimento sustentável.
Reconhecimento da política de APL
Para o APL ser reconhecido pelo estado, é necessário preencher um questionário que será encaminhado para a Secretaria de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais. A previsão é de que o documento seja entregue ao estado até o final de julho. Após a análise, o estado enviará uma equipe técnica para visitar os produtores de queijos e laticínios da cidade com o intuito de identificar uma Governança setorial e confirmar a existência de uma aglomeração de empresas que apresentem especialização produtiva e mantenham vínculos de setor econômico.
De acordo com a assessora da Sedic, o reconhecimento da existência do APL de Queijos e Laticínios garante o fortalecimento da atividade produtiva regional contando com o incentivo no desenvolvimento da capacidade de inovação e eficiência coletiva dos produtores rurais da região. Além disso, os produtores serão beneficiados com políticas estaduais de apoio, como a participação de editais da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e o acesso a financiamentos do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) com taxas diferenciadas. Além disso, o município pode ainda requerer a participação e apoio do Programa Rotas de Integração Nacional, do Ministério do Desenvolvimento Regional.
Seminário aborda estratégias para valorização de produtos
Nesta sexta-feira (8), a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) promoverá o seminário “A Tradição da Mata Mineira no Consumo de Queijo Frescal _ Encontro de Saberes e Sabores”, na sede do Moinho Zona Norte, a partir das 17h, para produtores rurais, estudantes e pessoas interessadas no tema. O evento faz parte das ações da PJF para o reconhecimento do APL por parte do estado.
O evento contará com a presença do palestrante internacional Ernesto di Renzo, que é antropólogo especializado em alimentação, e do chefe e professor Paulo Turziani, que irão discutir sobre a origem do gosto do queijo minas, o produto local e o desenvolvimento de estratégias de valorização destes produtos. Além das palestras, os produtores de queijo frescal da região poderão apresentar seus produtos para uma equipe de curadores. Algumas cervejarias da cidade também irão comparecer ao evento para representar o Arranjo Produtivo Local das Cervejas Artesanais, que já é reconhecido pelo estado. As vagas são limitadas e as inscrições, gratuitas, devem ser feitas por meio do link (linktr.ee/Sedic).
Além do seminário desta sexta, a Prefeitura irá apresentar, em parceria com a Epamig e Instituto Cândido Tostes, o projeto da APL de Queijos e Lácteos e o programa Proleite, que tem o objetivo de aumentar a produção de leite e de renda do produtor no município, no Minas Láctea 2022, que acontecerá nos dias 12, 13 e 14 de julho, no Expominas Juiz de Fora.
No final de julho, em comemoração a semana da agricultura familiar será realizada uma rodada de negócios entre os agricultores e agroindústrias familiares e a rede de hotéis, bares, restaurantes, buffets e padarias, com o intuito de incentivar a compra e o consumo de produtos da agricultura e agroindústrias locais. Os produtores de queijos e laticínios que estiverem com seus selos de inspeção em dia serão convidados a participar desse evento.
Ainda tem o Fórum de Produtores, que acontece no final de agosto. O encontro está sendo pensado em conjunto com o Sindicato dos Produtores Rurais, Emater, Senar e Sebrae.
A respeito das feiras, que seriam promovidas em regiões movimentadas da cidade, a Sedic informa que é necessário estabelecer um grupo de produtores que já estejam preparados para comercializar seus produtos de forma segura e organizada. Para isso, a Prefeitura deverá lançar um programa de apoio e capacitação para aqueles que aderirem ao APL.