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Reajuste na passagem intermunicipal impacta o bolso do trabalhador

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O trajeto de quem precisa viajar para outra cidade diariamente para trabalhar ou estudar ficou mais caro em Juiz de Fora. Oito das nove empresas que atuam no Terminal Rodoviário Miguel Mansur reajustaram as passagens para destinos intermunicipais. O aumento não era feito desde 2019 e impacta, principalmente, pessoas que necessitam do transporte para realizar atividades essenciais fora do município de residência. A majoração está em vigor desde 17 de agosto.

As linhas do padrão convencional, operadas com veículos rodoviários, tiveram reajuste médio de 5,82%. Já nos serviços de padrão comercial, que são operados com veículos urbanos, a correção média é de 3,55%. O ajuste não inclui taxas de embarque em rodoviárias ou pedágios.

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Quem precisa viajar para outra cidade para estudar ou trabalhar percebeu a majoração das tarifas, que faz diferença no orçamento doméstico ao final de cada mês (Foto: Fernando Priamo)

As passagens saindo de Matias Barbosa para Juiz de Fora, por exemplo, subiram de R$ 6,40 para R$ 6,65, um aumento de R$ 0,25. O trecho para Santos Dumont teve um reajuste de R$ 0,45. Antes os passageiros pagavam R$ 12,55, mas o valor subiu para R$ 13.
Para quem precisa pagar esse valor todo os dias, o impacto pode ser maior. Vanilda da Costa, moradora de Matias Barbosa, trabalha de segunda-feira a sábado em Juiz de Fora, como auxiliar de dentista. O trajeto é o mesmo há dois anos, mas o preço nunca esteve tão alto.

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Antes do reajuste, ela pagava, por mês, R$ 332,80. Agora, o valor subiu para R$ 345,80. “Às vezes a pessoa que está de fora olha e acha que não é nada, mas para a gente, que vem todos os dias, o ano inteiro, é muito dinheiro. É um dinheiro que a gente quer comprar alguma coisa diferente ou guardar.” Ela mora com o filho e teve que trabalhar em Juiz de Fora porque não conseguiu emprego em Matias Barbosa.

Esse também é o caso de Thayane Aquino, que mora em Santos Dumont e trabalha em uma creche em Juiz de Fora. Com a paralisação das atividades escolares presenciais, ela precisa se deslocar para a cidade dois dias na semana. Antes do reajuste, ela pagava R$ 160 por mês neste trajeto. Agora, o valor subiu para R$ 212,80 uma vez que o valor diário com a passagem de ida e volta soma R$ 26. Quando as aulas retornarem e o deslocamento tiver que ser diário, ela poderá pagar até quase R$ 600 para ir ao trabalho de segunda a sexta durante um mês. Esse valor equivale a mais da metade (54,5%) do salário mínimo, que atualmente é de R$ 1.100.

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Reajuste contribui para o aumento da inflação

O reajuste anual nas tarifas de viagens intermunicipais foi feito pela última vez em dezembro de 2019. Segundo a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra), o reajuste de 2020 foi adiado para 2021 para não onerar os usuários do transporte, principalmente por conta da pandemia de Covid-19. O aumento da tarifa referente a esse período foi de 5,82%.

Segundo o professor de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Weslem Faria, o reajuste nos preços das passagens é mais um fator que impacta a inflação. “A gente está vivendo um aumento de preços nos combustíveis e na energia elétrica. Alguns produtos alimentícios também estão com preço bem alto em relação ao período pré pandemia. Há vários fatores e preços acumulando, que estão contribuindo para essa elevação (da inflação).”

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Em relação ao impacto no bolso, ele explica que está diretamente associado à renda do trabalhador. “Se a gente considerar que esse trabalhador ganha como base um salário mínimo, que hoje é R$ 1.100, esse aumento de 6% pode pesar bastante no bolso. Se o preço da passagem é menor, esse reajuste acaba sendo menor. Mas se o preço for maior, esse reajuste, certamente, pesa mais.” O professor ainda ressalta que nem sempre trabalhar em outro município é uma opção. “Se não há emprego na cidade em que reside, a escolha seria ou ficar parado e não ter renda nenhuma, ou vir pra Juiz de Fora e conseguir um pouco de renda. Certamente, vale muito mais ter essa renda, mesmo que o custo de transporte esteja pesando bastante, do que não ter renda nenhuma.”

Mobilidade pendular

Diariamente, 470 passageiros circulam no Terminal Rodoviário Miguel Mansur, segundo a Infracea, empresa que administra a rodoviária. Antes da pandemia, a média diária era de 1.900 pessoas embarcando ou desembarcando no terminal. Ainda de acordo com a administração, durante a semana, os destinos mais procurados são as cidades de Muriaé, Barbacena, Santos Dumont, Ubá e Viçosa.

A empresa Paraibuna Transportes afirma que o destino mais procurado durante a semana é Matias Barbosa, que fica a 19,7 quilômetros de Juiz de Fora. São necessários 96 horários de ônibus por dia, para atender a demanda: 48 saindo de Juiz de Fora para Matias Barbosa e 48 saindo de Matias Barbosa para Juiz de Fora.

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Já segundo a empresa Transur, o trecho que concentra o maior número de passageiros de segunda a sexta é o de Juiz de Fora a Santos Dumont, que fica a 49,5 quilômetros de distância. São 37 linhas, contando ida e volta, disponíveis durante a semana.

Essa mobilidade de curta duração é chamada de mobilidade pendular. Ela acontece quando há uma cidade que se destaca no contexto regional e centraliza grande parte das atividades econômicas, escolas e indústrias, entre outros. Isso faz com que a população no entorno procure essa cidade para atender suas demandas diversas, principalmente de ensino e trabalho.

Como explica o professor de Geografia da UFJF Wagner Batella, “no caso de Juiz de Fora, essa mobilidade acontece porque a cidade se destaca por uma posição geográfica muito estratégica. Ela está em uma posição favorável entre Rio, São Paulo e Belo Horizonte e, ao mesmo tempo, tem um tamanho demográfico que faz com que ela seja centro regional de uma extensa área. Sem contar que aqui é um importante polo de saúde e educação”.

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Devido a essa alta interação populacional entre municípios polo e cidades próximas, o próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) adotou o conceito de arranjos populacionais, que é um conjunto formado por duas ou mais cidades onde existem interações econômicas. “O cotidiano das pessoas que vêm de fora é tão intenso que fica difícil você definir que Juiz de Fora é uma cidade única. No caso dos arranjos populacionais, há um em Minas Gerais chamado arranjo populacional de Juiz de Fora, que aglutina Juiz de Fora, Chácara, Ewbank da Câmara, Matias Barbosa e Simão Pereira.”

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