As 18 feiras livres realizadas em Juiz de Fora atraem cerca de 30 mil pessoas semanalmente. Entre terça-feira e domingo, a atividade movimenta ruas de 15 bairros e da região central, incluindo a Praça Antônio Carlos – único local a receber uma edição noturna (ver quadro). Com a crise econômica, a atividade tem ganhado força como oportunidade de trabalho e renda para produtores e feirantes, oferecendo itens mais baratos aos consumidores. Apesar da ausência de números sobre a geração de negócios e empregos, a Secretaria Agropecuária e Abastecimento (SAA) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) afirmam que as feiras dinamizam a economia local e contribuem para impulsionar a agricultura familiar, afinal, ao menos 100 mil juiz-foranos movimentam o setor mensalmente.
A feira realizada aos domingos na Avenida Brasil, no Centro, é a maior em números. “São 286 feirantes cadastrados, 676 barracas e a média de público varia de dez a 15 mil pessoas”, diz o secretário de Agropecuária e Abastecimento (SAA), Bebeto Faria. Segundo ele, a receptividade também tem sido boa nas edições feitas nos bairros. “Recebemos, em média, 2.500 pessoas no Manoel Honório; 2.300 no Alto dos Passos; 1.500 no São Mateus; e 800 no Granbery e, também, no Jardim Esperança”, enumera. Nos locais são vendidas frutas, legumes, verduras e alguns produtos processados. Parte do abastecimento é assegurada pela agricultura familiar, e a venda é realizada por feirantes, que podem ser pequenos produtores ou não. “Nós priorizamos a participação de produtores rurais, que plantam e colhem os hortifrutis, ou que produzem o próprio queijo ou doce.”
De acordo com Bebeto, a atividade econômica ganhou mais força nos últimos tempos por conta da recessão econômica. “Estamos vivendo um momento de dificuldade, de muito desemprego. Enxergamos que as feiras podem ser uma alternativa para quem produz e, também, para os consumidores que buscam produtos de qualidade, fresquinhos e mais baratos.” Ele destaca, ainda, que as feiras criam oportunidades. “Na contramão do que vem acontecendo no país, temos feirantes que aumentaram a equipe de trabalho diante do crescimento da demanda de consumo.”
Este é o caso de Air Pires de Oliveira, dono da Barraca do Raí, que contratou quatro funcionários recentemente. Aumentar as vendas em meio à crise não é tarefa fácil e, para isso, ele tem uma rotina pesada, chegando a trabalhar quase 20 horas em alguns dias da semana. “Na quarta-feira, começo às 4h da manhã na feira de São Mateus e vou até 22h30 na Praça Antônio Carlos. Na quinta, estou no Manoel Honório, e na sexta, no Bairro de Lourdes. No sábado, é a vez de Santa Luzia e Jardim Esperança. Já no domingo, tenho dois pontos de venda na Avenida Brasil.”
Feirante com orgulho
Com ele, há uma equipe de dez pessoas que ajudam na montagem da barraca e na venda das frutas. “A realização da feira noturna me permitiu ter novas pessoas trabalhando comigo.” Apesar de formalizado, ele dispensa ser chamado de empresário. “Sou feirante, com muito orgulho. A minha profissão é pouco valorizada, mas sou muito feliz e me dedico ao máximo ao meu trabalho. A feira é de onde tiro o sustento para minha família, e é com ela que tenho conseguido crescer e ter uma vida confortável”, diz ele, que é pai de quatro filhos. “O mais velho divide o tempo entre a faculdade e o trabalho comigo”, conta orgulhoso.
Foi com o pai que Air aprendeu o ofício de feirante. “Aos 8 anos, ia com ele para a feira que era realizada na Rua José Calil Ahouagi. Fui aprendendo a importância de tratar bem os clientes, como era feita a organização do trabalho”, relembra. O feirante chegou a exercer outras profissões, mas nunca se distanciou da feira. “Quando trabalhei como motorista, ia com meu pai para a feira nas folgas de fim de semana.” Nos últimos sete anos, ele tem se dedicado de forma exclusiva ao mercado. “Meu pai continua comigo. Ele faz feira há 50 anos. Não é um trabalho fácil, nossa luta é diária. A jornada é cansativa, enfrentamos madrugada, noite, chuva, calor, mas é a minha vida. Ensino aos meus filhos que a gente é feliz trabalhando com o que gosta.”
Feira noturna vira atração turística
Criada no dia 24 de maio deste ano, a primeira feira noturna de Juiz de Fora é realizada toda quarta-feira, a partir das 16 horas, na Praça Antônio Carlos, no Centro. Inicialmente, a proposta da edição era oferecer uma alternativa de compra em um horário diferenciado, permitindo que pessoas que trabalham o dia todo tivessem acesso aos produtos vendidos na feira. A iniciativa também tinha o objetivo de ocupar o espaço público de forma planejada. “Em dois meses, percebemos o sucesso da feira, que se tornou uma atração turística. São cerca de seis mil pessoas, de diferentes bairros da cidade, que passam por ela toda semana”, afirma o secretário de Agropecuária e Abastecimento (SAA), Bebeto Faria.
Os preparativos começam por volta das 16 horas, com a chegada de produtores e feirantes para a montagem de 71 boxes que vendem frutas, verduras, legumes, hortaliças, queijos e doces. Também há um espaço que funciona como praça de alimentação. As atividades terminam às 22h30. “É um projeto que tem dado muito certo. A população aprovou a realização da feira à noite, que além das facilidades para o consumidor, trouxe mais segurança para a região neste horário. Temos recebido pedidos para que outras edições sejam criadas, mas é uma iniciativa que demanda tempo e estudo.”
Bebeto explica que antes da criação de uma feira livre é feito estudo de viabilidade para verificar os impactos da realização da atividade para a localidade. “É importante avaliar como o trânsito pode ser afetado, por exemplo. Além disso, precisamos de toda uma estrutura. A criação de uma feira demanda fiscalização, limpeza e o deslocamento de pessoal da Guarda Municipal para fazer a segurança.”
Impactos
O estudante Gabriel Loures, que reside na Rua Barbosa Lima, concorda que a movimentação da feira trouxe impactos positivos para a região. “É uma alternativa mais próxima para quem mora nos arredores da praça, e uma forma de ocupação que não traz insegurança, pois apesar de ser muita gente reunida, a maior parte é de famílias que estão ali para fazer compras.” Moradora do Bairro Ponte Preta, na Zona Norte, Aparecida Lima, conta que tornou-se consumidora assídua. “Saio do trabalho e quando passo por lá já está tudo montado. Sempre vejo se há algo interessante para levar, pois é mais fácil encontrar produtos fresquinhos e com um bom preço.”
Agricultura familiar movimenta R$ 1,3 mi
Idealizada há 36 anos, a Feira da Agricultura Familiar de Juiz de Fora tornou-se alternativa de trabalho e geração de renda exclusiva para quem mora no campo. Realizada às quintas-feiras, das 6h às 14h, no Parque Halfeld, a atividade movimentou R$ 1,3 milhão ao longo de 2016, conforme informações da Secretaria Agropecuária e Abastecimento (SAA), que é responsável pela organização em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater).
“Neste tipo de feira, há apenas a participação das famílias que produzem em suas propriedades”, explica o extensionista da Emater, Cândido Antônio Rocha da Silva. “Nas feiras livres, nós temos a figura do feirante, que pode produzir o que vende ou apenas abastecer o ponto de venda com a produção da agricultura familiar.”
Dentre os principais produtos vendidos estão o leite in natura e derivados. Também são comercializados mel, verduras, legumes, frutas, pães, bolos, biscoitos e doces. Um total de 27 famílias participam da feira. “É uma política pública municipal que deu certo, pois traz retorno econômico para quem vive no campo.”
Nos distritos
Na década de 1980, antes da Feira da Agricultura Familiar ser implantada, os produtores rurais perdiam parte da produção por não conseguirem comercializar. “A iniciativa ajudou a fortalecer a venda, a partir do uso de um espaço nobre da cidade e com o contato direto com o consumidor.”
Em Juiz de Fora, há cerca de 1.100 famílias que vivem em comunidades rurais e têm o sustento a partir da agricultura familiar. A maior parte destas pessoas está concentrada nos distritos de Rosário de Minas e Torreões. “Há predominância de mulheres e jovens nesta atividade econômica”, destaca Cândido.
Além da feira realizada no Parque Halfeld, as famílias encontram espaço para comercializar produtos em outros locais da cidade. Nas sextas-feiras, das 7h às 11h, há a realização de uma feira na Praça do Bairro Bom Pastor. Diariamente, das 9h às 17h, há pontos de venda no Santa Cruz Shopping, na Rodoviária e no Espaço Mascarenhas. Os dois últimos integram o Empório Rural, que tem organização da Associação dos Produtores Rurais da Agroindústria Familiar (Agrojuf).
De acordo com o secretário de Agropecuária e Abastecimento (SAA), Bebeto Faria, a proposta é ampliar esta iniciativa. “Realizamos edições na praça do Largo do Riachuelo, que tiveram uma boa receptividade. Queremos dar continuidade a esta edição.”