As baixas temperaturas observadas nos últimos dias já impactam o bolso e a mesa dos juiz-foranos. A onda de frio que chegou ao país em julho, provocando geadas em algumas localidades, resultou na perda de parte da produção agrícola, o que interferiu diretamente na oferta e nos custos dos alimentos. Na unidade da Ceasa Minas em Juiz de Fora, há produtos que dobraram de preço. A preocupação é que, com os termômetros em queda, os efeitos se intensifiquem causando a alta da inflação e a possibilidade de desabastecimento dos hortifrútis.
A abobrinha foi o produto que mais encareceu. A caixa, que custava R$ 25 no início de julho, encerrou o mês sendo vendida por R$ 60, segundo dados da Ceasa Minas em Juiz de Fora. As verduras de folha também aumentaram de preço: as embalagens de acelga e alface dobraram de valor, passando de R$ 10 para R$ 20. Já o almeirão e a chicória subiram 50%, indo de R$ 10 para R$ 15. Dentre os legumes, o jiló, o pimentão, o quiabo e a vagem também ficaram mais caros. Na lista de frutas, estão o pêssego e o morango (ver arte).
Os hortifrútis mais sensíveis ao frio não resistiram à queda brusca nas temperaturas e às geadas que ocorreram em cidades da Zona da Mata e Vertentes. Propriedades localizadas em Barbacena, Tocantins e Piau, que abastecem Juiz de Fora, foram afetadas.
Com isso, os produtos tornaram-se escassos, o que, além de elevar os preços, trouxe dificuldades de abastecimento aos mercados. “Está difícil encontrar abobrinha, quiabo, vagem, pimentão, hortaliças”, enumera o proprietário do Box São Francisco, no Mercado Municipal, Carlyle Lopes. “O que a gente consegue vem em pequenas quantidades.”
Os reflexos do cenário têm chegado ao consumidor final, que pode observar o encarecimento dos hortifrútis de maneira geral, mesmo os que não foram afetados diretamente pela onda de frio. Isto porque, na tentativa de equilibrar os custos mais altos cobrados pelos fornecedores, a estratégia do comércio tem sido fracionar a alta entre diferentes itens.
Segundo Carlyle, a medida é uma forma de não sobrecarregar o bolso do consumidor e não prejudicar as vendas. “Não podemos dobrar o valor de alguns alimentos. É preciso distribuir esse custo e reduzir o lucro, porque ainda estamos numa pandemia.”
Abrangência
A situação observada em Juiz de Fora tem ocorrido nas diferentes unidades da Ceasa do país, conforme informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os boletins semanais de monitoramento da comercialização dos principais produtos nas Ceasas, divulgados em julho, mostram os impactos das baixas temperaturas.
Na primeira semana de julho, a oferta e os preços seguiam a variação esperada para cada cultura. A partir da terceira semana do mês, foram observadas alterações. “Houve queda na oferta de hortaliças, em decorrência direta das fortes geadas que atingiram importantes regiões produtoras no país. Com isso, ocorreu movimento altista de preços na maioria dos mercados”, informa a Conab. A comercialização de frutas também passou pelo mesmo processo. “As cotações aumentaram para grande parte dos produtos.”
Queda de temperatura deve pressionar a inflação
Especialistas apontam a possibilidade de que a onda de frio possa contribuir para alavancar a inflação. “É mais uma incerteza que a gente tem, porque ela pode afetar a safra de vários alimentos que têm peso na cesta básica”, alerta o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), André Braz.
A prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho ficou em 0,73%, conforme divulgação feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último dia 23. Os custos com habitação, transporte e alimentação foram, nesta ordem, os que mais pressionaram o índice até a metade do mês.
De acordo com o IBGE, no período analisado, foram registradas altas do leite, do frango, das carnes e do pão francês. Por outro lado, foi verificada a queda de preços da cebola, da batata-inglesa, das frutas e do arroz.
No entanto, com os reflexos das baixas temperaturas, a inflação dos alimentos deve ser maior. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), além do encarecimento de hortifrútis, o frio também impactou a produção de grãos, frangos e ovos.
No caso dos frangos, o reflexo é ocasionado pelo aumento das despesas. “Como a maioria das granjas possui ambientes controlados, o maior impacto está atrelado ao custo de produção, principalmente no que diz respeito aos insumos nutricionais”, explica a analista Juliana Ferraz.
Produtores devem realizar laudo sobre danos
A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), tem realizado o levantamento das propriedades atingidas pelas baixas temperaturas e geadas.
A orientação é para que os produtores realizem um laudo técnico comunicando a situação e os prejuízos para que soluções possam ser pleiteadas junto ao Estado. As informações para a elaboração do documento estão disponíveis no site da Faemg (http://www.faemg.org.br).
Em Juiz de Fora, que tem maior foco na produção leiteira, não foram registradas perdas significativas. “Tivemos entre 30% e 40% das áreas de pastagens ressecadas pelo frio, o que trouxe um transtorno aos produtores, que precisaram remanejar o gado”, explica a engenheira agrônoma Ana Helena Gonçalves Camilotto. “Mas, de modo geral, não tivemos perdas na produção de leite, além do que já é esperado no inverno.”