A Quaresma é um período de 40 dias com importante significado para os fiéis da Igreja Católica. Durante esse intervalo, muitos optam por jejum e abstinência de carne como forma de penitência, tendo como referência, de acordo com a crença, a crucificação de Jesus Cristo. Em função da busca por alternativas alimentares à carne, tradicionalmente, há aumento no consumo de peixes, frutos do mar e ovos até o domingo da Semana Santa, que este ano cai em 31 de março, data da ressurreição. De acordo com levantamento feito pela Tribuna em peixarias de Juiz de Fora, o crescimento na venda de pescados durante a Quaresma pode chegar a 30%, tendo procura ainda mais aquecida às vésperas do feriado.
Apesar de, atualmente, a tradição não ser seguida à risca por todos os fiéis, há os que buscam cumprir, da sua maneira, o período de abstinência. É o caso de Maria Lúcia Oliveira, de 77 anos e aposentada, que procura cavalinha e sardinha para suas refeições durante a semana. “Não pratico todo ano, mas tento fazer quando posso. Fora da Quaresma é bem mais raro eu comer peixe”, conta. Ela procura esses alimentos para fazer fritos e conta que a tradição do almoço do domingo de Páscoa procura sempre manter em sua casa. “Nesse almoço sempre fazemos sem carne e compramos o peixe que estiver melhor”, revela.
Como observa Rayra Albino Pessoa, operadora de caixa no Supermercado Granjas Bellini, para quem trabalha com a venda de peixes esse é o “melhor período do ano”. Desde a primeira semana de Quaresma, como ela destaca, as vendas passam por um aumento perceptível: “Na terça-feira e na sexta-feira, que são os dias que chegam nossa mercadoria, vemos um aumento considerável. E isso dura durante toda a Quaresma, aumentando ainda mais na véspera da Semana Santa. Nos três anos que trabalho aqui, percebo que esse é o que apresenta resultado de vendas melhor”. Além de sardinha e cavalinha, que são peixes com preços mais populares, ela também revela que há grande procura por camarão e filé de tilápia.
Como percebem os comerciantes do setor na cidade, o aumento do movimento vai acontecendo de forma progressiva até a Semana Santa. No começo de março, Marcos Vinícius de Oliveira, proprietário da Marefish, já nota que o crescimento é de 30% nas vendas.
“A nossa expectativa é de que, daqui para frente, aumente ainda mais, chegando na quinta-feira antes do domingo santo, que é quando a venda é mais expressiva”, conta. Para atender a demanda da população, as peixarias também se organizam de forma diferente durante este período. “Nosso fornecimento aumenta durante a Quaresma, e buscamos trazer opções diferentes para a população”, diz.
Aumento dos preços na Quaresma
Pesquisa realizada pelo Mercado Mineiro, identifica aumento no valor do quilo de diferentes peixes. O filé de surubim, por exemplo, apresenta alta de 17,8%, enquanto a corvina, de 7,66% e o dourado, 11%. Os preços dos pescados fazem com que Maria Regina Oliveira, de 74 anos e aposentada, busque intercalar com outros alimentos durante a Quaresma. Ela realiza o período de abstinência desde que se lembra, e todo ano busca alternativas. “Acabei de escolher a cavalinha, que está na oferta. Assim é possível manter a tradição e a gente aproveita pra comer peixe, que não dá pra comprar o ano todo”, conta. Na ocasião, o peixe que ela levou estava custando R$10 o quilo.
Bacalhau também é procurado por clientes
O bacalhau, que é considerado peixe nobre e tem um dos preços mais altos desse setor, é também fortemente procurado nesse período. Como Marcos Vinícius de Oliveira destaca, há a preparação para as vendas desse produto, valorizado na Páscoa assim como no Natal. Em levantamento feito pela Tribuna, foi possível identificar que o quilo do bacalhau porto imperial é encontrado em preços que variam de R$ 180 a R$ 220 em peixarias da cidade, enquanto a média do bacalhau saithe ficou entre R$ 70 e R$ 80 o quilo.