Com baixa oferta e alta demanda, o preço do leite nos supermercados disparou nos últimos seis meses em Juiz de Fora. O aumento do valor do produto para o consumidor pode ser observado a partir de levantamento da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária (Sedeta) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). Conforme a pesquisa mais recente da cesta básica, divulgada em 2 de setembro, o litro do leite custava, em média, R$ 3,60 nos mercados da cidade. Esse valor representa aumento de 29,5% em comparação com a última pesquisa realizada antes da pandemia, em 19 de março, quando o preço do leite era de R$ 2,78 na cidade. No mesmo período de 2019, o litro do leite saía, em média, por R$ 2,95, de acordo com pesquisa publicada no dia 12 de setembro. Desta forma, o produto apresentou valorização de 22% no último ano.
Historicamente, o aumento no preço do leite é comum por conta do período da entressafra, entre março e setembro, quando há menor volume de chuvas no Brasil. Neste ano, entretanto, outros fatores podem justificar a alta nos preços, como o crescimento da demanda nos últimos meses. Conforme apontado pelo economista e pesquisador da Embrapa Gado de Leite Glauco Carvalho, um levantamento da Nielsen mostrou aumento de 5,3% na venda de produtos lácteos no país durante o primeiro semestre. O comportamento dos consumidores pode estar sendo influenciado pela pandemia do coronavírus e o regime de isolamento social. “As pessoas começaram a preparar mais alimentos em casa, e essa alimentação em casa acabou refletindo em venda de creme de leite, leite condensado e requeijão, produtos utilizados na culinária.”
Outro ponto que pode ter influenciado no aumento das vendas de laticínios está relacionado ao pagamento do auxílio emergencial pelo Governo Federal, que incrementou a renda de famílias em situação de vulnerabilidade. “Famílias em situação de extrema pobreza, com renda de R$ 11 per capita por mês, passaram a receber R$ 240 per capita com o auxílio emergencial”, exemplifica Carvalho. Por ter uma abrangência nacional, o impacto do auxílio emergencial é ainda maior, sustentando a demanda pelo produto.
Custos de produção também cresceram
Por conta da piora das pastagens no período da entressafra, a produção do leite acaba diminuindo, entretanto, os valores mais altos pagos pelos consumidores não significam, necessariamente, maior ganho para os produtores, conforme lembrado pelo titular da Sedeta, Lucio Sá Fortes. “Os custos de produção também aumentam nessa época. O gado precisa ter suplementação, como ração, e isso é caro.”
Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária da PJF, neste ano, é possível que a pandemia tenha agravado a situação, por receio dos produtores em fazer investimento. “As pastagens pioram, a produção diminui e essa produção menor faz com que o preço suba, agravado pela pandemia na incerteza dos produtores que, em alguns casos, diminuíram seu investimento”, explica. “A boa notícia para o Brasil é que o setor do agronegócio, como um todo, continuou indo bem, apesar de todos os problemas”, lembra.
Grande parte dos setores econômicos foram prejudicados durante a pandemia, entretanto, de acordo com o presidente do Sindicato Rural de Juiz de Fora, Domingos Frederico Netto, a agricultura e a pecuária no Brasil registraram um crescimento de 1,2% no primeiro semestre, apesar de dificuldades no setor. No caso da produção de leite, por conta da seca, a complementação alimentar dos rebanhos é feita com milho e soja. Ambos os produtos são commodities, cotados em dólar. “Esse aumento [do preço do leite] já era previsto há muito tempo, porque o produtor estava trabalhando já em vermelho. Mesmo com esse aumento, está apertado ainda para ele ter uma margem de lucro suficiente para se manter no campo. Na realidade, o leite não subiu, houve uma atualização de preço”, explica.
Valor deve desacelerar a partir de outubro
A expectativa é que ocorra uma desaceleração do preço do leite a partir de outubro. Isto porque, além da volta das chuvas, as importações do produto também vêm apresentando melhora. De acordo com o economista da Embrapa, Glauco Carvalho, a importação do leite teve recuo de 29% no primeiro semestre. “Se compararmos janeiro a julho deste ano, com janeiro a julho do ano passado, diminuiu 209 milhões de litros de leite de entrada líquida no Brasil”, aponta. “[A partir de outubro] vamos ter volume um pouco maior de leite. Com a importação aumentando e a oferta também crescendo, vai dando um peso e vamos colocando um teto nos preços. A tendência é que, de fato, eles comecem a desacelerar e parar de subir, e, possivelmente, tenham alguma queda.”
Para o presidente do Sindicato Rural de Juiz de Fora, Domingos Frederico Netto, é possível que ainda ocorram novos aumentos no valor do produto antes do término da entressafra por conta da alta procura pelos laticínios. “Tem muito laticínio que está passando apertado por falta de produto. É hora de o produtor ver se equilibra as contas dele, porque só trabalhar em vermelho é duro também. Mas não está fácil fechar por causa do custo [de produção]”, ressalta.
Amis manifesta preocupação com aumento da cesta básica
A Associação Mineira de Supermercados (AMIS) divulgou, nesta quinta-feira (3), uma nota oficial na qual manifesta sua “grande preocupação com o aumento de preços” de alguns itens que compõem a cesta básica, especialmente, arroz, feijão, leite, carne e óleo de soja.
Ainda conforme o texto, a elevação nos preços se deve ao crescimento das exportações desses produtos e sua matéria-prima e à diminuição das importações incentivada pela valorização do dólar frente ao Real. A Amis destaca que esses aumentos não representam lucro para os supermercados, porque eles não ampliaram suas margens, e que busca diálogo com outras associações, entidades reguladoras e fornecedores, visando a amenização da conjuntura.