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39% dos pais brasileiros têm hábito de dar mesada aos filhos, aponta pesquisa

mesada educacao financeira crianca pixabay
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A educação financeira, processo em que se aprende a lidar com o dinheiro de forma mais consciente, deve ser iniciada o quanto antes, recomendam especialistas. Uma das ferramentas mais conhecidas para promovê-la é a mesada. No país, no entanto, apenas 39% dos pais mantém a prática junto a seus filhos, conforme a pesquisa “Finanças para os filhos: dinheiro é coisa de adulto?”, realizada pela Serasa em parceria com o Instituto Opinion Box.

Ainda conforme o estudo, entre os pais que dão mesada aos filhos, o costume é maior para crianças de 6 a 11 anos (54%), seguido pela faixa etária de 15 a 18 anos (45%). A maioria dos responsáveis adota a frequência mensal (62%). O valor médio da mesada no Brasil é de até R$ 100, valor concedido por 74% dos entrevistados. Entretanto, 53% deles não conseguem disponibilizar valores acima de R$ 60. Essa quantia é destinada, principalmente, para comprar lanche na escola (33%) e para ensiná-los a poupar para o futuro (32%).

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A segunda intenção é particularmente interessante, já que os próprios adultos não têm esse comportamento na prática: 72% não fazem qualquer tipo de investimento ou poupança para os filhos atualmente. E, mesmo entre os que têm esse hábito, 50% admitem não ter uma conta específica para a finalidade, realizando a movimentação financeira na sua própria conta bancária. Inclusive, o estudo revela que 72% dos pais dizem não conhecer soluções financeiras voltadas para crianças e adolescentes.

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Mudança de mentalidade

A pesquisa da Serasa mostra também que a falta de hábito de falar sobre finanças em casa pode estar relacionada a um comportamento cultural. Isso porque 56% dos pais não lembram de, quando pequenos, terem conversado com seus pais a respeito de como lidar com o dinheiro. Esse indicador se sobressai entre as mulheres (65%) e nas classes D e E (64%).

Em cenário diferente, o estudo aponta que oito em cada dez responsáveis dizem conversar com os filhos a respeito do tema. Entre eles, 24% começaram a abordá-lo quando as crianças tinham até 5 anos e 23% com os pequenos na faixa de 6 a 8 anos. A introdução sobre educação financeira e finanças pessoais ocorre principalmente quando os pais esclarecem “quais produtos são caros ou baratos ou o que é possível ou não comprar” (41%), seguido por “mostrar a importância de guardar dinheiro” (40%).

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Hábitos de consumo dos adultos

O economista Rodrigo Miguel Pinto, assessor de investimentos da Futureinvest, ressalta a importância de tratar sobre o tema logo no início da formação das crianças. “É essencial a participação dos pais desde o início. Quanto mais cedo falamos sobre esse assunto, que o brasileiro trata com tanta marginalidade, maior será o nível de sucesso desses jovens, quando adultos, em suas finanças”, destaca. Ainda conforme Rodrigo, a lição dos pais para com os filhos acontece de diferentes formas. “A primeira é o exemplo, à medida em que as crianças observam os hábitos de consumo, como os adultos lidam com a administração financeira e a forma com que eles falam sobre dinheiro; a segunda, de forma mais direta, é ensinar os filhos a se organizarem e a ter consciência das ações nas finanças – renda e gastos, principalmente.”

Para o economista, quando os pais começam a inserir a mesada, permitindo maior liberdade financeira, é uma forma de provocar os filhos a pensarem na ordem de prioridade. “Assim, eles entendem que podem tudo – mas não de uma vez e necessitam de organização financeira. Além disso, em questões de escassez – quando o jovem gasta de forma errada e se arrepende -, os responsáveis não devem corrigir cedendo mais dinheiro. Essa é a principal lição: as crianças observarem, desde cedo, os malefícios caso não administrem bem os recursos. O caminho contrário, em casos de boa gestão financeira, também é válido: incentivar e elogiar.”

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Em relação a uma possível idade indicada para iniciar a educação financeira, Rodrigo avalia que cada criança tem um perfil de desenvolvimento diferente. “Acredito que, quando ela toma um grau de consciência sobre esse assunto, os pais devem aprofundar a conversa e inserir cada vez mais mecanismos em pequenas escolhas no dia a dia. Começa nos hábitos, evolui para as questões relacionadas a preço e valor e chega até o trabalho. Quanto mais cedo, melhor, à medida que os pais sentirem um grau de maturidade e entendimento sobre o assunto”, orienta.

Escassez é a primeira lição

O economista, inclusive, já vivenciou essa situação. “Eu, particularmente, quando iniciei com mesada para a minha filha, não esperava uma boa ou má administração do dinheiro dela. A primeira lição que queria que ela tirasse é a escassez. Ela errar em alguma compra por diferentes questões e, rapidamente, ter um choque de realidade. Assim, no futuro, quando precisar tomar decisões com valores maiores e que impactarão mais a vida dela, ela tenha consciência o mais rápido possível.”

Ícaro Renault, estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), também conta que recebe mesada desde os 11 anos. Segundo ele, no início, o intuito era sair com os amigos. Depois, passou a precisar gastar com, por exemplo, roupas para ele mesmo. “Além desse valor, ainda tinha um cartão de crédito que precisava pagar uma parte. Quando comecei a precisar gastar com mais coisas, me ajudou a ter maior responsabilidade financeira. Hoje em dia, faço estágio e recebo meu próprio dinheiro, mas tenho maior controle, já que, caso ele acabe, não receberei mais”, relata.

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(Foto: Arquivo pessoal)

Produtos financeiros para a meninada

Em resposta à Tribuna, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirma que a conta bancária é o primeiro passo para o responsável inserir na vida da criança ou do jovem a educação financeira. “Quanto antes esse menor se relacionar com os produtos e serviços dos bancos, mais facilmente terá uma relação saudável com o dinheiro e entenderá o funcionamento do sistema financeiro. Além disso, é uma boa oportunidade para aplicar, na prática, os conceitos de ganhar, gastar e poupar em um único local. E como são menores de 18 anos, as transações são controladas pelos pais, responsáveis ou tutor.”

Entretanto, a Febraban adverte para os cuidados prévios necessários. “A abertura de uma conta em nome do menor, entretanto, deve incluir conversas e orientações sobre organização financeira, risco do endividamento, poupança e investimentos. Investir tempo no aprendizado financeiro e econômico do menor é importante para garantir uma relação saudável com o dinheiro e com as finanças, obedecendo, claro, o nível de compreensão e a idade dele.”

A Federação explica que, ao abrir uma conta corrente, é possível ter cartão de débito e, em alguns casos, cartão de crédito, acesso a investimentos e, por meio da conta, exercer controle total das finanças. Alguns bancos já oferecem a possibilidade de realizar investimentos em renda fixa e até fundos de investimento. A abertura da conta é simples, rápida e, muitas vezes, gratuita. Diversos bancos oferecem possibilidades de produtos e serviços para o menor ao se tornar correntista. De acordo com o Banco Central do Brasil, é possível realizar a abertura de conta de depósitos, ou seja, tanto conta corrente quanto poupança, para a criança ou adolescente, no entanto, para o menor de idade, é necessário apresentação e identificação de um representante legal: pai, mãe, responsável ou tutor.

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* Bernardo Marchiori, estagiário sob supervisão da editora Fabíola Costa

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