Com a Páscoa chegando mais cedo este ano, já é possível perceber lojistas correndo para preparar as vitrines, e os ovos de chocolate aparecendo nas prateleiras dos supermercados. O feriado, que geralmente é comemorado em abril, este ano cai no dia 31 de março. Há pouco menos de um mês para a data, a alta no preço do cacau projeta aumento no valor do chocolate e, principalmente, nos produtos temáticos de Páscoa.
Pesquisa realizada pela Horus, empresa de inteligência de mercado, identificou aumento no preço médio por quilo de chocolate em fevereiro de 2024, em comparação com o mesmo mês de 2023: de 11% em barras de chocolate; 10,7% em chocolates e bombons; e 1,8% em ovos de Páscoa.
O cenário tende a piorar, em parte, pelo aumento do preço do cacau. O custo da matéria-prima avançou 81,63% nos últimos 12 meses, conforme levantamento do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “A demanda por chocolate que está chegando no mercado agora está sendo atendida por um cacau que foi processado ainda no início do segundo semestre do ano passado. Naquela época, o preço ainda não estava tão alto quanto agora. É provável que a indústria que está colocando seu produto no mercado agora não tenha sido afetada naquele momento, enquanto se preparava para a Páscoa de 2024”, avalia o economista da fundação, André Braz.
Apesar disso, o economista afirma que a alta pode sim influenciar o preço ao consumidor nesse momento, principalmente no que diz respeito aos ovos de Páscoa. Conforme explica, o cacau mais caro tem impacto diferenciado no chocolate do dia a dia, pouco elaborado, visto que ele é resultado da composição de vários produtos. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FGV, o chocolate subiu 2,94%, abaixo da inflação geral que, de acordo com o mesmo índice, está em 3,59%. “Isso quer dizer que o chocolate praticamente não teve aumento real. Mas o ovo de chocolate, por ser um produto temático, pode vir com aumento de preço muito mais forte. Isso porque ele tem embalagem especial, alguns brindes, coisas que acabam se misturando ao valor dele. Devido a esses implementos, o aumento no valor dos ovos de Páscoa não se liga exclusivamente ao aumento do preço do chocolate, por isso fica um pouco difícil saber de onde vem esse encarecimento.”
Pesando no bolso do consumidor
A confeiteira Aline Porto está preparando o cardápio de Páscoa de 2024. Há sete anos ela trabalha no ramo da confeitaria e durante a pandemia começou a investir em produtos temáticos para a data. À Tribuna ela conta que percebeu aumento nos insumos de forma geral, não apenas no chocolate. “Hoje fui comprar açúcar e fiquei assustada. Um pacote de um quilo de açúcar está quase R$ 5, sendo que em dezembro eu comprei por R$ 2,89.”
Os números corroboram com o “susto” levado por Aline. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que o açúcar refinado teve aumento de 11,79% nos últimos 12 meses. Outros itens que também estão pensando no orçamento são as frutas. O morango, por exemplo, subiu 31,09%, e a uva, 17,76%. “A alternativa é fazer muita pesquisa, bater perna, correr atrás de promoção, pesquisar mesmo.”
Quanto à alta do chocolate, ela afirma ter notado um encarecimento da matéria-prima e tem pensado em alternativas na hora de montar o cardápio. “Para não deixar o cardápio tão “pesado” no chocolate, eu trabalho com outras opções, como o ovo de Páscoa com casca de brownie ou de cookie. Até mesmo para fazer frente com os ovos comerciais que estão disponíveis no mercado, a gente precisa trazer novidades aos clientes, além de seguir as tendências, claro.”
Conforme explica o economista da FGV, André Braz, os grandes produtores de ovos de Páscoa podem manipular a gramatura dos produtos, o ovo fica cada vez menor e mais fino. “Isso também confunde o consumidor, que pode achar que não houve um aumento de preço significativo, mas o produto em si mudou.”
As expectativas de Aline em relação às vendas em 2024 são boas. Ela acredita que o preço mais “salgado” dos ovos de Páscoa no supermercado pode ser um incentivo para que os consumidores apostem em produtos artesanais. “No mercado, eles compram mais para criança, já que o produto vem com um brinquedo, algo assim. O meu público é mais velho, acima dos 25 anos, que preza por uma experiência diferente. Já comeu muito ovo de Páscoa industrializado e hoje quer um sabor, uma textura, um recheio especial.”
Consumo pode aumentar até 15% na Páscoa
Pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) em fevereiro mostrou que o consumo no feriado de Páscoa deve aumentar entre 13% e 15%. Um dos motivos para o otimismo vem do calendário e dos recursos que serão injetados na economia até a data. Em 2023, a Páscoa foi comemorada no início do mês, no dia 9 de abril. Neste ano, em 31 de março, o feriado terá forte influência do pagamento do Bolsa Família e de outros recursos que serão injetados na economia no trimestre, avalia a entidade.
Conforme o levantamento, ovos de Páscoa com brindes lideram as encomendas do setor, 18,6% dos consumidores devem optar por essa categoria. Em segundo lugar ficam os ovos de chocolate de 100 a 185 gramas, com 17,9% das intenções de compra, e, por fim, os ovos maiores, de até 365 gramas, com 15,4% de procura.
A cesta para almoço de Páscoa deve ficar, em média, 15% mais cara com o aumento do preço do azeite, que está 24,7% mais alto em comparação ao mesmo período do ano passado.