Boas expectativas movem a economia juiz-forana para o segundo semestre de 2023. Passado o período de recuperação pós-pandemia, os setores produtivos consultados pela Tribuna afirmaram atingir certa estabilidade, mas sem alcançar o faturamento que tinham antes da Covid-19. Seja no comércio, na indústria ou nos serviços, em Juiz de Fora, a projeção para a segunda metade deste ano é de maior crescimento, isso se os indicadores macroeconômicos colaborarem.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a inflação apresenta queda desde fevereiro. Na última atualização, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estava em 3,94%, referente aos últimos 12 meses a contar de maio. A expectativa é que essa queda possa estimular a redução da taxa básica de juros, a Selic, no segundo semestre do ano.
Conforme explica a economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carla Beni à Tribuna, a Selic, atualmente em 13,75%, aponta para juros real próximo a 7% ao ano. “Essa é uma taxa que impacta fortemente no crédito e nos investimentos do setor privado. Quando está alta, ela contrai o consumo das famílias, os investimentos e, consequentemente, puxa o Produto Interno Bruto (PIB) para baixo.”
A economista afirma que, se a Selic começar a cair de fato, assim como sinaliza o Banco Central, será possível proporcionar certo alívio no custo do crédito. “Esse será o melhor dos cenários para que a gente possa atingir uma certa normalidade. Porque os juros cobrados atingem, por exemplo, o financiamento de uma televisão, de uma geladeira, a divisão das parcelas no cartão de crédito, a entrada em um cheque especial. São juros extorsivos que levam a acelerar o motor da inadimplência.”
Com a diminuição do preço dos insumos, facilidade no crédito e políticas de incentivo do Governo, Carla projeta um futuro positivo para a economia nos próximos meses. “Políticas econômicas que foram implementadas, como a correção do salário mínimo com ganho real, são extremamente relevantes para a população. O auxílio emergencial e o bolsa família com adicionais também ajudam a dar uma estabilidade maior para composição da renda familiar.”
Preços mais baixos, comércio mais forte
Historicamente, conforme o presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio-JF), Emerson Beloti, o segundo semestre do ano é mais lucrativo do que o primeiro. Isso porque as principais datas comemorativas e com apelo de vendas se concentram nesse período. “O Natal, que é nossa melhor data, é no segundo semestre, e também estamos esperando o Dia das Crianças e a Black Friday, que também são agentes motivadores para o faturamento.”
O aumento das vendas implica na necessidade de contratação de novos funcionários. As chamadas contratações temporárias tendem a acontecer já em novembro e, segundo Beloti, geralmente incorporam de 30% a 40% dos funcionários ao quadro efetivo da empresa. “A gente espera que, além de vender mais, os lojistas tenham condições de contratar. As pessoas só consomem se estiverem empregadas. É uma engrenagem essencial na economia.” Sobre uma possível diminuição nos preços, o presidente afirma que a tendência é que o comércio repasse o desconto, sempre que possível, ao consumidor final. “Com preços mais baixos, o consumo é maior. Se isso acontecer é possível que os lojistas tenham margem para investir em mais promoções e incentivos para atrair o cliente.”
Bares e restaurantes pretendem sair do prejuízo
Outro setor da economia que projeta avanços no segundo semestre é o de bares e restaurantes. Conforme a presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes da Zona da Mata (Abrasel), Francele Galli, os estabelecimentos apostam nas confraternizações de fim de ano, tanto familiares, quanto corporativas, e em eventos gastronômicos, como a Festa Alemã e o JF Sabor.
A intenção é, pelo menos, diminuir a margem de empresas que estão operando no prejuízo, estimada em 27% conforme a associação. A presidente afirma que, desde o fim da pandemia, o setor está trabalhando para recompor as perdas. “Conseguimos no segundo semestre de 2022 recompor parte dos preços ao consumidor, que estavam sem reajuste por conta da pandemia. No entanto, este ano está mais difícil, no máximo os estabelecimentos estão repassando a inflação.”
Para bares e restaurantes, segundo a Abrasel, a inflação acumulada é de 2,94% no ano, muito próxima ao índice geral. “Isso mostra que, em 2023, os estabelecimentos estão apenas recompondo os preços do cardápio conforme a inflação.” Essa recomposição, até agora, não tem sido suficiente para reduzir o número de estabelecimentos que operam no prejuízo, que é considerado alto.
Em Juiz de Fora, o percentual de empresas do setor que tiveram lucro foi de 40%, média superior à nacional, que foi de 37%, conforme a entidade. Já entre as empresas que trabalham em equilíbrio, a média da região é de 35%. “O setor tem utilizado ferramentas importantes para recompor as perdas e equilibrar as contas, apostando nas redes sociais, em festivais gastronômicos, datas especiais e delivery.”
Turismo espera mais de 200 eventos até o fim do ano
Com um desempenho 30% maior no primeiro semestre de 2023, em comparação ao mesmo período de 2022, o setor de turismo projeta manter o ritmo até o fim do ano. “A hotelaria local já comemora o Minas Láctea em julho e mais de dez eventos, somente em agosto, considerando todos os finais de semana com alguma realização”, afirma Thais Lima, presidente do Juiz de Fora Convention & Visitors Bureau.
Para ela, o ano tende a ser mais promissor que o passado, pois já começou sem a sombra da Covid-19, tão prejudicial ao setor de eventos. Segundo Thais, o que falta para o pleno funcionamento do turismo na cidade, voltado principalmente para os negócios, é incentivo público a outros ramos da economia que podem ser muito lucrativos, como a gastronomia local. “Produtos como cerveja, queijo e torresmo, por exemplo, são capazes de atrair o visitante e posicionar Juiz de Fora como destino gastronômico. Precisamos nos vender mais e melhor, apresentar nossas potencialidades e trabalhar juntos para fomentar o turismo.”
A reabertura plena do Museu Mariano Procópio é considerada um passo certo e importante para a consolidação da cidade na rota do turismo, avalia. “Precisamos, ainda, vender o destino externamente, abrir nossos atrativos nos finais de semana e fortalecer as parcerias pública e privada.”
Já o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Juiz de Fora (SHRBSJF), Rogério Barros, aposta na redução da taxa de juros como principal alavanca do setor e da economia. “No primeiro semestre, o desemprego e a taxa de juros frearam o maior desenvolvimento do segmento. Para o segundo semestre, a gente espera, a partir de agosto, redução na taxa de juros e que isso comece a movimentar um pouco a expectativa do consumidor.”
Para ele, com a recuperação dos empregos, as pessoas passarão a consumir mais, buscando um nível pré-pandemia. “A recuperação dos efeitos provocados pela pandemia ainda está muito lenta. Já voltou a normalidade, mas não alcançamos um nível pré-pandemia, em número de funcionários, movimento, consumo e tíquete-médio. A pessoa que saia para tomar dez cervejas, hoje consome, cinco, seis.”
Crescimento de até 5% na indústria
Um dos principais setores da economia que sofrem com a alta taxa de juros é o da indústria, por ser fator inibidor de financiamentos. Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil de Juiz de Fora (Sinduscon), Aurélio Marangon, o primeiro semestre foi de ligeira queda no faturamento, mas próximo a estabilidade.
“Já a previsão para o segundo semestre de 2023, não só em Juiz de Fora, mas em todo Brasil, é de uma ligeira elevação, coisa de 2,5% a 3%. Com isso, a gente considera que o ano vai ser positivo no resultado final. A tendência é essa, próxima a estabilidade, mas com um ligeiro crescimento.” Na cidade, Marangon avalia que a previsão de obras públicas até o fim do ano pode ajudar o setor a se recuperar do prejuízo acumulado durante a pandemia, quando os insumos para construção ficaram mais caros.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) Regional Zona da Mata, Heveraldo de Castro, também estima crescimento de 3% a 5% no setor para o segundo semestre. “Nossa esperança é que, com a queda da taxa de juros e da inflação, a gente recupere as vendas. Para a indústria é preciso que o comércio venda bem para que nós possamos repassar.”
De acordo com ele, no primeiro semestre a indústria reagiu bem e apresentou balanço positivo. “A gente esperava mais, mas acabou que foi um saldo positivo. Alguns setores se sobressaíram a outros, como o de carnes, por exemplo. Nossa principal dificuldade tem sido encontrar mão de obra”.
Conforme Heveraldo, as indústrias querem contratar, mas há uma dificuldade em achar pessoas que estejam dispostas e disponíveis para o cargo. “Nós estamos com problema de mão de obra, dificuldade em alguns setores para contratar, como os setores de alimentação, têxtil, malharia e fábrica de meias.” Conforme ele, a indústria trabalha para que 2023 tenha um resultado melhor do que o de 2022. Um dos fatores que podem contribuir para a melhoria desse cenário na economia são os incentivos do Governo. Ele destaca a política de descontos na compra de carros, que aqueceu o setor de montadoras no último mês. “Todo benefício a gente espera impacto positivo. É só saber aproveitar e reverter isso para o nosso setor.”