Se, antes, a maneira mais comum de ensinar educação financeira para crianças e adolescentes era incentivá-los a juntar moedas em cofrinhos, agora o debate que vem dividindo opiniões é a criação de conta bancária e cartões para esse público. Mas, afinal, existe um jeito certo de ensinar finanças para os mais jovens?
A frase “com a liberdade vem a responsabilidade” nunca fez tanto sentido como agora, mediante a ampla oferta de produtos bancários criados especialmente para crianças e adolescentes. As contas digitais gerenciadas por aplicativo, por exemplo, não exigem idade mínima para sua abertura. Basta ter documentos, como carteira de identidade (RG) e Cadastro de Pessoa Física (CPF). Os serviços oferecidos são muitos e contam até com a possibilidade de inserção de desenhos infantis nos aplicativos, tudo para tornar o produto mais atrativo.
De acordo com o economista e coordenador do Curso de Administração da Estácio, Bruno Dore, as contas e os cartões para jovens contribuem para a independência deles. “Os produtos bancários para menores oferecem vantagens, como maior liberdade de gerenciamento de finanças pessoais e segurança por não andar com recursos financeiros em mãos.”
Para que as crianças se tornem adultos responsáveis financeiramente, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) alerta que o caminho vai além do acesso a produtos financeiros: a educação financeira precisa ser apresentada e trabalhada, dentro e fora de casa. A administração da tradicional mesada é um primeiro passo para que a criança se inteire sobre o dinheiro e a importância de estabelecer prioridades no seu uso, sempre contando com o auxílio de um adulto nesse processo.
Os limites, mais do que nunca, são bem-vindos, esclarece o economista Bruno Dore. Falar “não” torna-se fundamental nesse processo, valendo, inclusive para o acesso a cartões, caso o responsável considere que não é o momento oportuno. “É preciso ficar atento, pois embora os cartões costumem ser de débito ou pré-pago, os responsáveis precisam ter alguma forma de controle dos gastos, principalmente, de forma on-line. Há muitos jogos e aplicativos que têm como alvo crianças, então é bom ficar de olho onde e de que forma o cartão está sendo usado.”
Cuidado também com o consumismo
De olho no apelo crescente e nos danos que o consumismo desenfreado podem causar, o Idec destaca que a relação com o dinheiro vai muito além do que a criança tem, incluindo também o que ela vê, por isso, o exemplo a ser dado começa em casa. O mesmo vale para a visão de prosperidade econômica, que em vez de ser associada ao acúmulo pode ser apresentada de forma correlata à doação.
Para evitar problemas em casa, Dore propõe que a mesma dinâmica de consciência financeira adotada em relação à mesada (guardar o dinheiro para comprar depois algo que deseja) seja expandida para a administração da conta bancária. Quanto mais cedo, melhor.