Quantas pessoas têm sua senha da Netflix? Ou, por acaso, é você que usa a conta de um amigo? Segundo anúncio feito pela empresa nesta semana, essa dinâmica de compartilhamento vai ter fim. Agora, quem quiser dividir a senha vai ter que pagar taxa extra de R$ 12,90. A nova política vai permitir que a conta seja usada somente por pessoas da mesma residência.
Como isso vai funcionar? Conforme o comunicado, os usuários deverão estipular uma “residência Netflix”, ou seja, definir quem são as pessoas que compartilham aquela assinatura. “Uma residência Netflix é uma coleção dos aparelhos conectados à internet no local principal em que você assiste à Netflix. A residência pode ser definida usando uma TV. Todos os outros aparelhos que usam sua conta Netflix na mesma conexão com a internet que essa TV farão automaticamente parte da sua residência Netflix”, afirma a empresa.
A empresa afirmou que, para isso, serão utilizados endereços IP e IDs de aparelhos para definir se a conexão faz parte, ou não, da residência Netflix. Sendo assim, o assinante não sairia prejudicado caso quisesse acessar a conta em uma viagem, por exemplo, a menos que o fizesse em um aparelho com ID diferente. Nesse caso, pode ser preciso confirmar se aquele aparelho faz parte da sua residência.
A Netflix afirmou que, ao longo do próximo mês, vai enviar e-mails para seus assinantes, pedindo que eles definam os usuários de sua conta. O titular da assinatura poderá ver quantos aparelhos estão conectados com sua senha e desativar aqueles que não fazem parte da residência. Caso alguém ainda queira continuar assistindo os conteúdos da Netflix, há duas opções: solicitar um ponto extra mediante ao pagamento de R$12,90 ou transferir o perfil e pagar uma nova assinatura. É importante ressaltar que só o titular pode solicitar o usuário extra, e os assinantes do plano básico, de R$ 18,90, não têm direito a esse recurso. O plano padrão permite um assinante extra, enquanto o premium permite até dois.
Mudança na rota
O fato é que os brasileiros não ficaram contentes com a notícia. Nas redes sociais, muitos afirmam que pretendem cancelar a assinatura. No entanto, foi com o objetivo contrário que a Netflix decidiu apostar nessa nova política. Conforme a empresa, entre janeiro e março de 2022, houve uma perda de 200 mil assinantes. Na época, a Netflix destacou o aumento da competição no segmento e apontou que tem perdido oportunidades de elevar o número de pagantes por conta de senhas compartilhadas. A empresa estima que cem milhões de usuários compartilhem senhas em todo o mundo.
Conforme o professor do Curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Estácio, Bruno Zonovelli, assim que chegou ao Brasil, a empresa incentivava o compartilhamento de senhas. Com a medida, o objetivo era ganhar terreno e conquistar o gosto dos usuários. “Depois que a Netflix se tornou a plataforma de streaming referência no mercado, ela passou a não incentivar o compartilhamento, mas também não fazia nenhuma crítica. Acontece que agora a empresa está tomando uma estratégia para capitalizar as assinaturas, principalmente devido a concorrência com outros streamings e a perda de assinantes. Então ela precisa gerar receita e essa é uma aposta adotada.”
No entanto, para o professor, essa medida pode não gerar o efeito esperado, visto que no Brasil há um movimento crescente de pessoas migrando para serviços alternativos ilegais, como TV Box não regularizadas. Esses aparelhos reúnem em um só lugar conteúdos que hoje estão disponíveis em diferentes plataformas. Eles são ilegais, mas disseminados com grande facilidade no país. “A concorrência entre os streamings tem sido um grande incentivador para o aumento de soluções piratas no Brasil. Recentemente houve uma mobilização da Anatel para bloquear o sinal desses aparelhos, mas enquanto isso não acontecer, é possível que haja uma grande migração para essas soluções. Isso já vinha acontecendo no país e com essa nova política da Netflix isso pode aumentar.”
Notificada pelo Procon
Na última quarta-feira (24), o Procon de São Paulo anunciou que notificou a Netflix acerca da nova política de compartilhamento das senhas. O órgão afirmou que tem recebido diversas reclamações e vai buscar entender como funciona essa dinâmica e se ela fere o Código de Defesa do Consumidor.