Quem acompanha os preços no mercado tem notado há algum tempo a alta no preço do azeite de oliva. O produto ficou 32% mais caro nos últimos 12 meses, conforme aponta o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Isso significa, na prática, que uma garrafa que custava cerca de R$ 25 em dezembro do ano passado, teve aumento de R$ 8 e hoje está na faixa de R$ 33. A perspectiva para os consumidores não é otimista, já que a tendência é que o valor continue a subir. Com isso, o item que era parte da cesta básica das famílias brasileiras vai ficando de lado, dando espaço para substituições.
A Tribuna conversou com o professor do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro), Felippe Serigati, que explicou os motivos da alta e as consequências que ela gera nos hábitos de consumo do brasileiro.
Problemas na safra global
Conforme Serigati, a alta, que é a maior em sete anos, ocorre principalmente devido a problemas na safra global. Os países da Europa, que são os principais produtores de azeite, estão passando por uma intensa crise hídrica nos últimos meses, o que afeta a produção de azeitonas na região. As altas temperaturas também se somam aos fatores de redução da produtividade. Os fenômenos climáticos, intensificados pelo El Niño, atingem principalmente os países do Mediterrâneo, responsáveis por produzir cerca de 90% do azeite do mundo.
“As safras ruins em produtos de cultura permanente, como o azeite, causam impactos mais significativos do que os produtos de cultura temporária. Não se plantam oliveiras todos os anos para poder colher azeitona. A planta vai ficar lá por um tempo até que a produtividade dela caia e seja necessária uma reforma na plantação”, explica.
Essa má colheita já perdura desde o ano passado, a safra global de 2022 foi a pior da história, com queda de 26%, comparada ao padrão histórico. A expectativa era de melhora em 2023, mas isso não tem se confirmado. “Esse aumento não é apenas reflexo de uma maior demanda por conta das festas de fim de ano, é um problema na oferta e no preço do mercado internacional. Só em novembro foi observada alta de 6% no valor do azeite.”
Influências geopolíticas
A guerra entre Ucrânia e Rússia também é outro fator responsável pela dilatação do preço do azeite. Segundo Felippe Serigati, o conflito geopolítico do leste europeu, iniciado em fevereiro de 2022, foi um dos primeiros fatores para a disparada do preço, visto que Ucrânia e Rússia são os maiores exportadores de óleo de girassol do mundo, responsável por cerca de 80% da produção global. Com o conflito, a escassez do produto pressionou o preço dos demais óleos vegetais.
O Brasil, conforme o pesquisador, importa mais de 90% do azeite que é consumido no país. “Até existe produção de azeite nacional, mas ela não é suficiente para suprir a demanda interna.” Ele ainda explica que uma forte produção local não é o suficiente para fugir da flutuação dos preços internacionais. Com o valor do azeite em alta em todo o mercado mundial, mesmo se o Brasil fosse um forte produtor de azeitonas, os consumidores seriam atingidos por esse aumento.
Opção por óleos mistos
Uma tendência esperada no comportamento do consumidor brasileiro é a preferência pelos óleos mistos, ou seja, o azeite acrescido de outros óleos vegetais, como o de soja. “Comércio, restaurantes e padarias podem procurar as composições, ou seja, óleos mistos que vão combinar o azeite com óleo de soja ou outra oleaginosa. Você pode ter a substituição por um produto que não é 100% puro.”
Esse tipo de produto composto não deve ter aumento significativo de preço já que a safra de soja no Brasil foi recorde em 2023. Isso fez com que o preço internacional do insumo diminuísse, abaixando também o valor do óleo de soja. “É claro que, ao optar por um óleo composto, o consumidor adquire o que a gente chama de bem inferior, com uma qualidade abaixo do que ele estava acostumado. Esse tipo de movimento é comum quando o valor do item consome uma parcela significativa da renda daquela pessoa, e a substituição é a solução mais viável.”