
O livro “Goianá — MG: origens ancestrais, lutas e conquistas”, organizado pelo historiador André Vieira Colombo, faz parte da comemoração dos 30 anos de emancipação política de Goianá. Apesar de o município ter se tornado autônomo de Rio Novo apenas em 1995, a história que guarda remonta à passagem dos séculos e contou com múltiplas perspectivas para ser narrada de maneira detalhada na obra. A publicação tem como objetivo apresentar as contribuições da região ao longo dos séculos do ponto de vista da arqueologia, da antropologia e da história, e para isso trouxe dezenas de pesquisadores que ajudaram a refletir sobre o passado, o presente e o futuro do município. Desde curiosidades até fatos centrais sobre Goianá, partindo da presença de povos originários e passando pelos primeiros colonizadores, e chegando até a construção do moderno Aeroporto Regional da Zona da Mata e à consolidação do Assentamento Denis Gonçalves, a obra busca aumentar o senso de pertencimento dos moradores e servir como ferramenta educacional na cidade.
Encomendado pela prefeitura da cidade, o projeto teve início quando André Colombo, que já desenvolve pesquisas sobre a região há mais de 25 anos, contactou outros especialistas para ouvir sobre os pontos que chamam a atenção na cidade. “Os primeiros passos da arqueologia brasileira ocorreram ligados à Caverna da Babilônia, que é um sítio arqueológico da fazenda Fortaleza de Sant’anna, que projetou mundialmente a região a partir de expedições e envio de acervos. Ela virou um ‘laboratório’ do império”, conta. Para ele, a vantagem de um livro tão diversificado é que pode abranger uma grande variedade de assuntos e pontos de vista, aumentando seu alcance coletivo.
Ele chama a atenção para o fato de que, neste aniversário de emancipação política, a cidade esteja reconhecendo que sua história é ainda muito mais antiga e começa nos registros das primeiras ocupações do território. “Isso é importante para que a cidade consiga perceber a riqueza da sua história — e que não é uma história de 30 anos, mas de mais de 200 anos”, destaca. O livro inclusive aborda questões que o organizador considera sensíveis, como a escravização dos povos africanos e a resistência que ofereceram a esse processo. “É uma oportunidade de rever a própria história a partir de olhares críticos e de pesquisas acadêmicas recentes. Também é um livro recheado de curiosidades que podem atrair os leitores”, diz.
Entre as histórias que podem ser descobertas pelos leitores a partir do livro estão, por exemplo, as que revelam que, desde o final do século XIX, Goianá foi um grande produtor e exportador de fumo — além de ter sido o primeiro lugar em que o milho híbrido foi criado no Brasil. A relação da família Mariano Procópio Ferreira Lage com a cidade também aparece em diversos momentos e sob várias perspectivas, que são detalhadas ao longo dos 22 capítulos. Além dos pesquisadores, o livro contou com a contribuição de instituições como o Museu Mariano Procópio, o Museu Nacional do Rio de Janeiro e o Movimento Sem Terra (MST).
Em busca de representatividade
A ideia de convidar vários pesquisadores, para André, teve como principal motivo a busca por trazer um retrato de dentro da própria comunidade. “O principal ponto foi uma tentativa de que a população se sentisse o máximo possível representada”, explica. A exemplo disso, ele conta que, se em um capítulo era feita uma explicação sobre um santo católico importante para a cidade, também era mostrada uma pesquisa que se aprofundasse sobre a longa tradição protestante de Goianá. A ideia era sempre balancear os pontos de vista, de uma maneira que diferentes pessoas pudessem se reconhecer e enxergar a cidade nas páginas do livro.
Para ele, esse aspecto era especialmente importante em virtude da dimensão pedagógica que o livro deve conter, podendo inclusive ser usado em projetos educativos — e principalmente na educação patrimonial do município.
Para pensar o futuro
Durante o marco dos 30 anos, a ideia não era apenas relembrar o passado, mas também pensar o futuro. Ao longo dos últimos anos, Goianá passou por fortes mudanças com a construção do Aeroporto Regional da Zona da Mata e a consolidação do Assentamento Denis Gonçalves. E esses foram assuntos que foram trabalhados ao longo dos capítulos: “Tínhamos a preocupação de refletir sobre o planejamento, a atualização de um plano diretor e ainda rever as normativas do aeroporto”, conta. Além disso, ele também conta que o assentamento se tornou um assunto importante e foi defendido que a experiência de Goianá servisse de exemplo para se pensar a reforma agrária no país.
