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A classe artística precisa ser mais unida? Produtor responde

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Para muitos artistas, o trabalho intelectual é marcado pela solidão. Senão individual na produção, faz-se em isolamento quando da entrega. Ainda que parta de uma visão romântica do artista encerrado em seu quarto sozinho, a imagem de tudo não foge da realidade. Longe de ser inimiga da cultura, a solidão é refúgio e também potência. Mas também é impasse, dilema e desafio. Num ano em que “ninguém solta a mão de ninguém” tornou-se grito de guerra no campo político, a ordem parece plena em sentido para a classe artística, crescentemente desestabilizada e desarticulada face a tantos e seguidos gestos de desvalorizações públicas.

Criado em 1977, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), que responde pela arrecadação e distribuição dos direitos autorais de músicos no país, pouco a pouco viu sua força se esvair após escândalos de corrupção, mas no ano que se encerra viveu um de seus maiores revezes após uma medida provisória extinguir a cobrança de direitos autorais pela reprodução de obras artísticas em quarto de hotéis e cabines de navio, o que reduziria em R$ 110 milhões sua receita. Considerada uma das principais organizações do tipo no Brasil, o escritório possui um similar, a Abramus – Associação Brasileira de Música e Artes -, que também faz gestão coletiva de direitos autorais, mas não possui representação em todo o país.

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Senão entidades, ao menos coletivos. Para o professor da Escola de Comunicação e Artes da USP Martin Grossmann, a união de artistas em “coletivos” ou “mutirões” é uma das formas pós-modernas de produção cultural. Em Juiz de Fora não são muitos os exemplares, mas são exitosos, como o JF Fotográfico, o Corpo Coletivo e o Vinil é Arte. O próprio crowdfunding, ferramenta cada vez mais adotada pelos juiz-foranos, é uma prova de que na coletividade é possível viabilizar determinadas ações.

Ao longo das quatro respostas para as perguntas propostas pela Tribuna na série “Cultura amanhã”, a mudança para a cena cultural passa, necessariamente, pela organização da classe artística. Na quinta e última pergunta, a questão ganha centralidade, e o professor, produtor e presidente de uma das mais fortes organizações de artistas na cidade (Apac), Cristiano Fernandes, propõe a coletividade como solução para aproximar palco e plateia.

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Como ser propositivo quando nos apresentamos como classe mas não nos unimos como grupo?

Cristiano Fernandes reponde

Professor, é graduado em letras e mestre em artes pela UFMG, pesquisando teatro na educação. Integrou o Grupo Teatral Arte e fundou e dirigiu, por dez anos, a Companhia Fazendo Arte. É fundador e diretor da Caravana de Histórias, que recentemente apresentou o espetáculo “Pédepoesia”. Coordenou da Biblioteca Delfina Fonseca Lima entre 2015 e 2019 e atualmente é supervisor de projetos de artes, cultura e cidadania na Secretaria de Educação. Representante da cadeira da Secretaria de Educação no Conselho Municipal de Cultura (Concult), é vice-presidente do órgão, além de presidente da Associação dos Produtores de Artes Cênicas (Apac) em Juiz de Fora, responsável pela organização da Campanha de Popularização do Teatro e Dança.

Jersy Grotowski já dizia que “o teatro é arte do encontro”. De fato, uma linguagem artística que é dialógica por natureza, que traz em sua gênese a imprescindibilidade das trocas, deveria nos provocar a criar e a valorizar mais as ações coletivas. Ações que nos aproximem como artistas, criadores, pensadores do mundo, mas que, ao mesmo tempo, não nos distanciem do propósito primeiro de nossas ações: o público (ou seria espectador?).
Temos enfrentado várias crises mundiais, em sua maioria por causas ideológicas, fruto dos extremismos. E a maior crise que nos afeta é a do afastamento do público. A violência urbana, a individualidade, os canais a cabo, entre outras razões, têm afastado as pessoas dos espaços culturais. E a nossa incapacidade de sermos pares tem contribuído para esse afastamento. As ações individuais são necessárias, mas têm sido suficientes? Quais estratégias serão mais importantes: a de formar público ou a de formar espectadores? O público longe da arte é uma questão urgente, cujas possíveis saídas deveriam ser debatidas coletivamente, pois afetam todos.
Em meio a essa sociedade tão espetacularizada, com tantos signos e estímulos, é natural encontrarmos resistência nos indivíduos em se relacionar com propostas artísticas que trazem outras vertentes de signos, com os quais esses indivíduos estão desaprendendo a conviver. E a partir do momento que esses signos não são reconhecidos, nem decodificados, tampouco serão passíveis de interpretação e, menos ainda, de sensibilização para a cocriação, fundamento primordial da existência da Arte para o espectador. Esta tríade indissociável é o que deveríamos perseguir como meta maior: Arte – proposições – espectadores.
E se “a arte existe porque a vida não basta”, como escreveu Fernando Pessoa, temos muito a amadurecer no nosso papel de provocadores de pensamentos. A necessidade de trabalharmos juntos por ações formativas de espectadores e não apenas formadoras de público, por exemplo, é uma real discussão a ser desenvolvida por nós. O que implica em artistas mais preocupados com os propósitos da Arte e não exclusivamente com sua arte.
E, sim, não acredito alcançar sucesso nas proposições de classe enquanto não nos unirmos como grupos.

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“Temos muito a amadurecer no nosso papel de provocadores de pensamentos. E não acredito alcançar sucesso nas proposições de classe enquanto não nos unirmos como grupos” – Cristiano Fernandes

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