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O que os juiz-foranos podem esperar para a cultura em 2018

teatro paschoal carlos magno

(Foto: Olavo Prazeres)

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No Centro da cidade, Paschoal Carlos Magno está pronto, aguardando vistoria dos Bombeiros. Espaço é composto por um teatro com 400 lugares, galeria de arte, anfiteatro, café e sala de reuniões e ensaios (Foto: Olavo Prazeres)
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A expectativa é que, ao menos, o próximo ano não seja continuação da atual realidade. Entre a página em branco e o risco ilegível, 2017 chega ao fim como a imagem de um ano sem grande legado. Para 2018, o que se projeta é de pouca esperança. Principal financiador da produção cultural em Juiz de Fora, o Poder Público adota tom contido após meses de contingenciamentos. Com alguns eventos ausentes no cronograma ou bem mais enxutos do que em edições anteriores, a Funalfa enfrenta o futuro com previsão pouco alterada. “O orçamento para 2018 está enxuto em algumas áreas, como na questão do carnaval. Temos um gasto muito alto no final de ano e uma maior dificuldade do fechamento das contas públicas. No início do ano, o município se recupera, com uma injeção financeira com IPTU e outros impostos, mas o carnaval deste ano é muito antecipado. O carnaval de desfiles seria no início de fevereiro, e o sistema financeiro da Prefeitura abre no dia 20 de janeiro. Então, o tempo de execução ia ficar muito esmagado. Com exceção disso, temos um planejamento orçamentário muito próximo do que foi o de 2017. Dentro do Plano Plurianual, fizemos estimativas próximas da que foi feita no ano que passou”, lamenta o superintendente Rômulo Veiga, confirmando a realização do Corredor da Folia e da Lei Murilo Mendes, que, cancelada no ano passado, está programada para o primeiro semestre, ainda com valor indefinido.

“A questão não é ter ou não dinheiro, mas a maneira como encaixamos a receita nos gastos previstos”, comenta o gestor, publicitário responsável pela última campanha política do prefeito Bruno Siqueira. Questionado sobre sua possível saída para acompanhar o prefeito numa especulada candidatura ao Congresso federal, Senado ou Câmara dos Deputados, Rômulo afirmou manter-se no cargo. “Trabalho na perspectiva de ficar os próximos anos. Não penso no imediatismo, não gosto de nada só por agora. Tudo o que tenho feito é a médio e longo prazo, o que significa meu entendimento de que minha estadia dura, pelo menos, os próximos três anos.”

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Há mais de um ano com os patrocínios culturais suspensos, os Correios permanecem atuando apenas com a cessão de seus espaços, o que reduziu, significativamente, a reconhecida sofisticação de suas produções. Para o próximo ano, o endereço recebe as exposições aprovadas no edital de 2016 “Visões de um futuro”, de Ivan Domingues (em janeiro) e “Williamsburg: Paisagem em transformação”, do carioca Caíque Cunha (em fevereiro). Canceladas pelos proponentes, “Passageiro do tempo presente”, do paulista Marcos Amaro, e “Formas livres do lápis sobre o papel”, de Rodolpho Rodrigues, não chegam ao espaço, deixando a agenda indefinida a partir de março. De acordo com a responsável pelo Espaço Cultural dos Correios em Juiz de Fora, Ana Lúcia Magalhães, alguns projetos estão em análise, e existe a expectativa de que a instituição lance edital de ocupação no próximo semestre.

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Prestes a divulgar o resultado final da ocupação do Cine-Theatro Central e seu projeto Luz da Terra, para artistas locais, a Pró-reitoria de Cultura da UFJF, que gerencia o espaço, espera lançar, nos próximos meses, um inédito programa de bolsas de iniciação artística, o Pibiart, além de abrir a Escola de Artes Pró-Música. “Apesar das dificuldades do cenário político-econômico atual, que repercutem negativamente nos investimentos em projetos culturais, a Pró-reitoria de Cultura fechou o ano com resultados positivos em seus vários órgãos. Temos conseguido realizar alguns de nossos principais compromissos e assim pretendemos prosseguir em 2018. A saída tem sido trabalhar dentro das possibilidades, adequando as ações aos recursos disponíveis, mas preservando a qualidade e o conceito das propostas”, afirma a pró-reitora Valéria Faria.

Sujeito à história

Poço Rico – Tombamento de 50 casas pode ser alterado para legislação menos restritiva (Foto: Olavo Prazeres)

Se por um lado 2017 acresceu apenas um imóvel a sua lista com 186 bens tombados desde 1983, o ano tornou-se um marco na questão patrimonial pela amplitude dos debates, que ganharam vulto após 140 proprietários serem notificados no processo de tombamento de 50 casas no Bairro Poço Rico. Assunto em rodas triviais de conversa e também em audiência na Câmara Municipal, o tombamento provisório dos imóveis ganhou popularidade na cidade e deve, segundo o presidente do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Comppac) e superintendente da Funalfa, Rômulo Veiga, sofrer alterações no próximo ano. “A ideia é avançar na questão da Área de Diretrizes Especiais, criando esse mecanismo seja pelo Plano Diretor, seja por lei específica. É um instrumento de preservação menos restritivo. Precisamos ver se é possível substituir um processo de tombamento por um de ADE, com termos legais e validade jurídica. Os proponentes, todos (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFJF, ONG Permear, Instituto de Arquitetos do Brasil, Centro de Conservação da Memória da UFJF), concordaram que o mecanismo da ADE é melhor que o de tombamento nesse caso. Isso já pacifica a questão, já que o requerente dá anuência para essa troca”, observa o gestor. O conselho se reúne apenas em fevereiro, mas alguns conselheiros, segundo Rômulo, já sinalizaram o aceite da mudança no processo.

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Não ultrapasse a faixa

O complexo que carrega no nome o maior incentivador do teatro amador no Brasil, o teatrólogo carioca Paschoal Carlos Magno, ainda não tem data de abertura definida. Composto por um teatro com 400 lugares, galeria de arte, anfiteatro, espaço para reuniões e ensaios e café, situado logo atrás da Igreja São Sebastião, no Centro, ele precisa, contudo, vencer uma das etapas mais caras à produção cultural recente na cidade: a vistoria do Corpo de Bombeiros, que sugeriu a limitação de uso de outros dois gigantes na área em Juiz de Fora: o Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM) e o Cine-Theatro Central. “O Paschoal foi construído de acordo com as últimas normativas do Corpo de Bombeiros, então, terminada a obra, entraremos com o pedido de vistoria”, pontua Rômulo Veiga.

Utilizado para o JF Foto 17 e para o Ato (evento em substituição ao festival de teatro), o CCBM passou todo o ano de 2017 com seu segundo andar fechado. Já o Central não teve lotação no segundo e terceiro andares. “O que gerou nenhum tipo de legado esse ano foi esse processo de adequação do CCBM às políticas de combate à incêndio e pânico. Não temos resposta do Corpo de Bombeiros, cobramos, mas continua em análise”, lamenta Rômulo. “Falamos de um bem público e que suas restrições comprometem a atividade cultural da cidade. É um bem centenário, com uma relevância para a história da cidade, não só cultural, mas histórica e econômica, afinal, foi, durante muito tempo, a maior fábrica de tecelagem da região, que desenvolveu Juiz de Fora. É um marco para a cidade”, reclama, demarcando o potencial simbólico do lugar.

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Com obras agendadas para 2018, o Cine-Theatro Central espera reabrir seus segundo e terceiro andares – balcão nobre, camarotes e galeria – até o final de 2018, após passar por obras de adequação e reforma. De acordo com a pró-reitora de Cultura da UFJF Valéria Faria, o Teatro Pró-Música também deve ter sua reforma concluída em 2018, assim como está garantida a próxima edição do festival. “Podemos assegurar ainda a realização da 29ª edição do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, em julho”, afirma a gestora.

Som Aberto e repensado

Som Aberto tomou o campus da UFJF com sete edições e se consolidou em 2017 (Foto: Olavo Prazeres)

Num ano de agendas mais tímidas, eventos se consolidaram, como o Som Aberto, que tomou o campus por sete edições. “Infelizmente, dada a violência registrada em suas últimas edições, apesar do esquema de segurança mobilizado, vamos repensar o projeto para que ele retorne em 2018 em formato que preserve não só sua proposta democrática mas também a paz e a tranquilidade de público, artistas, produtores e expositores”, observa Valéria Faria, pró-reitora da Cultura da UFJF, referindo-se às sequências de assaltos notificados no lugar. Por outro lado, trabalhos como o do Coral da UFJF, que apresentou o concerto “Gerais & Milton” nesse dezembro devem ser aperfeiçoados, e uma turnê do grupo está prevista para 2018.

Afetado com os cortes de gastos, o Museu de Arte Murilo Mendes perdeu seu protagonismo na cena cultural mas, ainda assim, alcançou um público de 12 mil espectadores, segundo informações da pró-reitoria de Cultura da UFJF, em mostras como a irretocável “Contemplação de Ouro Preto”, ainda em cartaz no museu, e sem dúvida uma das mais bem produzidas que a cidade viu em 2017, ao lado de “Embate ao fascismo – 80 anos de Guernica”, exposta no Espaço Reitoria, uma das mais inventivas e completas. Considerada a maior mostra de fotografia da região, o JF Foto 18 teve seu projeto inscrito na Lei Rouanet e está apto a captar cerca de R$ 290 mil com a iniciativa privada. Aposta da nova gestão da Funalfa, as propostas de incentivo fiscal esperam dar fôlego às atividades municipais.

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Potência e resistência da iniciativa privada

Quando as contas públicas se fizeram justas demais para honrar com o direito à cultura, a iniciativa privada encontrou espaço bastante para atuar, ainda que também refém de uma economia em incontornável crise. Parceiro e promotor de importantes ações na cultura em Juiz de Fora, o Sesc comportou-se, em 2017, como o relevante ator que é nas capitais do Sudeste brasileiro. E para 2018, segundo informações da assessoria de imprensa da entidade em Minas Gerais, manterá as sessões, todas as quartas-feiras, às 19h, do Cine Sesc, reservando junho para a Mostra Sesc de Cinema, com a produção estadual e, meses depois, a Mostra Nacional. Após ter completado duas décadas de existência em 2017, o programa Palco Giratório volta a aportar na cidade, com espetáculos teatrais entre os dias 17 e 19 de junho. Além de cursos, exposições e rodas de conversa, a instituição também planeja duas intervenções artístico-visuais em suas instalações durante 2018.

Palco do teatro, da música, de oficinas artísticas e até mesmo das artes visuais com sua pequena galeria, O Andar de Baixo, com o espaço Arteria, resistiu a um ano de reconhecido enfraquecimento na cultura. Produziu e sediou, acreditando numa cultura forjada a gana e alma. “Em 2017 trabalhamos com uma agenda semestral. Criamos um pouco e abrimos as portas para eventos. Agora temos um plano para 2018”, comenta Carú Rezende, uma das quatro coordenadoras do espaço, entre a esperança e o enfrentamento da realidade em 2018.

“Queremos abrigar outros artistas. Essa experiência foi incrível. As pessoas que passaram pel’O Andar de Baixo trouxeram trabalhos muito sensíveis, e isso nos ajudou a nos reconhecermos. O espaço uniu muito a galera que deseja crescer junto”, pontua a gestora e artista. “Ainda queremos permanecer um espaço acessível. E quanto mais ações fazemos, mais resposta temos. A constância dos eventos trazem sustentabilidade para o espaço. Para 2018, queremos dar um passo além, alcançando a sustentabilidade para o grupo”, acrescenta ela, integrante do Corpo Coletivo.

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À espera do teatro

Teatro Paschoal Carlos Magno – Teatro pode ser inaugurado em março (Foto: Olavo Prazeres)

Aguardado em 1981, 1982, 1983 e assim por diante, o Teatro Paschoal Carlos Magno conclui 2017 finalmente pronto. Sua entrega, no entanto, fica para março, segundo as previsões da Funalfa, garantindo sua inclusão no planejamento orçamentário da pasta para o próximo ano. “Ele tem previsão orçamentária, tanto de organograma, quanto de custeio, mas vamos trabalhar com a perspectiva de sustentabilidade. Hoje temos uma dimensão do custo completo e avaliamos o quanto é possível arrecadar com espaços que serão licitados, como o café que deve ter ali. Com isso, vamos definir o modelo”, comenta o superintendente Rômulo Veiga, pontuando que o formato de ocupação ainda será definido com o Conselho Municipal de Cultura.

“O que a classe artística reivindica, com razão, é um percentual para a atividade cultural local, que o teatro não seja todo ocupado com atividades externas e grupos e espetáculos de fora. O Paschoal Carlos Magno vai ter uma destinação de percentual de datas possíveis para a cidade. Vamos definir esse regramento para escolher um modelo, se por Organização Social (OS), direto ou parceria, sempre buscando sustentabilidade. O que perseguimos agora é o custo por tíquete médio, quanto custa cada cadeira pelo número de dias que ele estará disponível. Ele não é para gerar lucro, mas para equilibrar sua despesa”, assinala Rômulo.

 

 

 

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