O juiz-forano João Pedro Scaldini lançou, em agosto deste ano, o seu segundo livro, “Réquiem para um amor”: uma coletânea de contos autorais, fruto de um financiamento coletivo. Desde então, o escritor vem promovendo oficinas em escolas e instituições de Juiz de Fora, falando sobre a literatura, a partir de seu livro, mas também trazendo temas como escrita criativa.
“Réquiem para um amor” reúne contos sobre histórias de amor e relacionamentos. João diz que não foi uma escolha sortida. “Essas histórias vão desde algumas das primeiras que escrevi, até contos mais recentes pensados para o livro (…) Organizei o ‘Réquiem’ de forma que sete histórias centrais concentrassem na mensagem cerne da narrativa: amor é uma ideia universal, mas uma experiência única”, relata o escritor.
Literatura pelas escolas
Durante a etapa de financiamento coletivo e divulgação do projeto de lançamento do livro, foi dada a opção dos apoiadores comprarem livros para serem doados a escolas públicas e instituições da cidade, junto do oferecimento de oficinas gratuitas para as crianças e adolescentes destas instituições. Desta forma, antes e depois do lançamento de “Réquiem para um amor”, foram e estão sendo ofertadas oficinas nas escolas. O escritor afirma ainda que lugares serão contemplados neste ano e no começo do próximo. “Mas a ideia é continuar no ano que vem com um novo formato e permanecer com essas oficinas de forma recorrente e gratuita nas instituições”, completa.
Durante as oficinas, diversas atividades são propostas: desde a leitura em conjunto de contos selecionados do livro, até oficinas de escrita criativa para as crianças assumirem o papel de escritoras da vez. João ainda propõe a atividade de criação de zines (revistinhas independentes) literários nas oficinas. O objetivo destas atividades é aproximar as crianças e adolescentes da escrita e da leitura, oferecendo a elas o contato direto com a obra e com o autor.
Ele explica o projeto: “A ideia dos zines é produzir, em um formato rápido e barato, um material impresso para que os adolescentes tenham ao menos uma pequena percepção de como é o processo de publicação de um livro ou história. Também penso que é uma forma de estimular mais a escrita para eles ao dizer que foram publicados, mesmo que de um jeito independente. Futuramente, pretendo ampliar esse projeto dos zines e das publicações para ser maior e mais formal, com uma revista para isso”.
O projeto, no momento, está sendo direcionado a alunos dos 13 aos 18 anos. João ainda reitera que recebe apoio das instituições contempladas pelo projeto das oficinas, e que em alguns casos, inclusive, os professores e monitores acompanham a realização das atividades, mas que, de maneira geral, o grande responsável por todo o processo, desde a ideia à organização das atividades, até a sua execução, é ele próprio – mesmo processo que guiou a produção e o lançamento de “Réquiem para um amor”, lançado de forma independente.
Algumas instituições participantes são o Polo de Evolução de Medidas Socioeducativas (PEMSE), a Escola Municipal José Calil Ahouagi e a Escola Municipal Santos Dumont
Conheça João Scaldini
Nascido e criado na parte alta do Bairro São Pedro, João lança seu segundo livro aos 26 anos. O juiz-forano conta que sempre gostou de ler, e teve muito incentivo dos pais para mergulhar no hábito da leitura. Desde bem pequeno, devorava os livros com os quais era frequentemente presenteado. Consequentemente, por isso, Scaldini logo se interessou pela escrita e por seu vasto universo. Quando estava no final do ensino médio, começou a ver esse hábito com outros olhos, para além de um hobby, e considerá-lo também como uma possibilidade profissional.
Foi quando em 2018 escreveu seu primeiro livro, “A pergunta no espelho”, que narra a história de Carlos, um desempregado passando por uma crise existencial, que se vê em uma vida de crimes para encontrar emoção. Ao encontrar o jovem Saulo Cícero, a dupla recém-formada passa a elaborar um grande plano para transformar a vida dos dois.
Ainda nesta época, João criou um site para artistas independentes chamado Pergaminho Virtual, que hoje já está fora do ar.
Um ato em conjunto
João relata que, ao longo do processo de escrita de seus livros, suas inspirações já variaram bastante. No início, ele tirava as ideias de vários lugares diferentes, mas, hoje, as suas principais referências são a literatura russa e latino-americana.
Sobre suas atuais aspirações, Scaldini diz que espera conseguir financiamento para, no próximo ano, transformar as oficinas em um projeto recorrente que abarque mais escolas e mais pessoas envolvidas para gerar esse estímulo à literatura. “Tenho notado uma dificuldade muito grande de leitura e escrita, e essas são questões centrais nessa geração, pelo que alguns professores vem me contando”, reitera o escritor.
Ainda sobre a importância deste projeto, João declara: “A escrita pode ser um processo solitário”. E completa: “Desde a época da criação do Pergaminho Virtual, eu via muito valor na colaboração e na troca de conhecimentos. Um dos motivadores para as oficinas nas escolas é justamente incentivar e estimular os adolescentes, trocar experiências com eles, porque eu estou lá para ensinar, motivar, e também para ouvir. Neste processo, também vou tentando mostrar que a leitura pode ser divertida fora da ideia de escola e aprendizado, mas como uma opção de lazer mesmo, já que nessa fase a maior parte ainda está decidindo do que gosta e do que não gosta. Como o Brasil tem um déficit de leitura muito grande, decidi tentar estimular isso do meu modo, mesmo que seja um gesto em pequena escala”.
*Estagiária sob supervisão da editora Cecília Itaborahy