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Júlia Mestre, integrante da banda Bala Desejo, faz show em JF

ELISA MACIEL
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‘É quase uma sensação de rave, bem sinestésico. Você vai sentir a energia, as cores que o disco tem’, sugere a artista sobre o show (Foto: Elisa Maciel/ Divulgação)
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No palco, resplandece. Ocupa um espaço inteiro com sua presença inebriante. Quando canta, com aquela voz rouca, um outro caminho. É diferente vê-la ao vivo e bem no ouvidinho. Ouvir o disco e a performance. Ela canta, sozinha, “Só um beijinho no canto da boca me deixa tão louca de paixão”, durante a entrevista, e faz arrepiar. Pronto: está explicado o motivo de o nome disco de Júlia Mestre ser “Arrepiada”. A integrante do Bala Desejo, em seu trabalho solo, mostra um novo universo de uma passarinha com voos bem amplos. Ela se abre aos mistérios e às descobertas de como ser sozinha, mas por inteiro, depois (e ainda nele) de um projeto tão intenso. Já que no palco Júlia é outra, fica o convite: nesta sexta-feira (2), ela se apresenta no Sensorial, a partir das 21h.

Júlia gira em torno do seu universo próprio em “Arrepiada”. Tem, claro, um pouco a ver com Bala Desejo porque tudo influencia. Mas tem mais a ver com suas possibilidades encontradas a partir do projeto. “Eu sinto que ‘Arrepiada’ veio em uma hora perfeita. Porque o Bala Desejo mudou minha vida. E eu sinto que isso me cresceu. Eu mudei muito. Me conheci mais no palco. Veio em um momento perfeito porque é preciso viver tudo isso para se sentir mais segura, para poder fazer novos shows sozinha e apresentar essa nova persona. Estar no palco te faz aprender muita coisa e eu sinto que, não que eu saiba tanto, ainda estou para aprender muito, mas eu me sinto talvez mais maliciosa no palco, e eu gosto disso porque combina com ‘Arrepiada’.”

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Sim, arrepia. O disco todo, com suas 11 faixas, faz um caminho pela liberdade e pelo desejo. Ela gosta disso: ser livre e desejar. “A intenção do disco é a de que trouxesse essa sensação de liberdade mesmo. Eu sinto uma energia no disco que eu quis passar o que acontece em mim. Eu sempre busco muita novidade, e adoro essa sensação da viagem, do futuro, do mistério. São temáticas que me atraem. E a música tem essa maravilha: você coloca ela nos ouvidos e a música é quase como um segredo que te acompanha o dia inteiro por onde você for. É uma coisa que só você tem. É particular. É um estímulo de querer passar por cima. Pode até doer, mas a festa vai chegar e você vai curtir depois.”

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Contemporâneo e dançante

Sobre festa, “Arrepiada” faz dançar. Tudo começou com a música que leva o nome do álbum. Júlia estava no processo de tirar as músicas de Rita Lee para participar de um programa de TV que propõe que nomes da nova geração interpretem nomes consagrados. Ela queria participar, e com Rita. Dentro desse universo, surgiu a canção. Ela termina, bem típico da cantora, morta no mês passado, com um “Tchu-Tchu-Tchu-Ca”: “eu via que tinha coisa cômica, safada e ao mesmo tempo dançante”. Ela precisava, então, de produzir um disco que fosse, claro, dançante.

Para ajudar a construir o trabalho, Júlia chamou Lux, que produziu, inclusive, o disco de Duda Beat. “Eu sentia que o disco tinha uma coisa mais oitentista, com sintetizadores, uma pegada mais moderna. A participação do Lux contribuiu nesse processo: é um disco contemporâneo, moderno e dançante.” É pop – seja lá o que esse termo se refere nos dias de hoje.

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As canções foram vindo a seguir. Júlia propõe um passeio por ritmos: tem reggae, xote, dancing, rock e MPB. Tem, por exemplo, “Eu fuego del amor”, que é mais sentida, e “De toda mãe”, mais parecida com a proposta do primeiro disco da artista carioca, o “Geminis”. Mas Júlia ainda sentia falta de uma música mais dançante, como “Arrepiada”. A última a ser escrita foi, então, “Meu paraíso”. “Eu já tinha feito várias parcerias, com João Gil (do Gilsons), com Ana Caetano (que faz a dupla Anavitória). E aí eu chamei o Lux. Ele me ajudou, a gente fez as harmonias, e eu fiz a letra. Foi a última a sair e a primeira a ser lançada.”

É interessante Júlia ter escolhido “Meu paraíso” e “Deus inebriante” para serem os singles, lançados antes do disco completo, porque elas são quase que opostas. “Se uma é agitada, a outra levava para um outro lugar, mais introspectivo, mas tudo conversando com uma timbragem de voz que é mais suave. Apresentar essas músicas pode levar o público a ver duas extremidades e, quando você recebe o álbum, você espera um pouquinho de tudo, porque realmente tem um pouquinho de tudo.” Júlia se joga na experimentação com vontade.

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“Geminis” atinge um lugar diferente que “Arrepiada” atinge. São alguns anos de diferença e muitas mudanças. São novas referências musicais e de estética. Júlia ainda bebe da MPB, bebe de Gal Costa, de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gonzaguinha. Lux apresentou um outro lado que fazia sentido com tudo. “Mas é, ainda assim, a mesma pessoa. Vem do mesmo lugar. Ainda sou eu.”

Pelo desejo

Escolher a palavra arrepiada para estampar o disco parte desse lugar do propor um novo espaço, como sair de uma posição, experimentar outra e se arrepiar com a descoberta. “Acho que é como quando você tem a vontade de tomar uma atitude para si, fazer algo que te chacoalhe por dentro, como uma mensagem de amor próprio, empoderamento. ‘Arrepiada’ é isso: uma sensação que eu queria que minhas ouvintes tivessem escutando e se arrepiassem e tivessem esse desejo de querer, um estímulo a essa confiança pelos seus desejos, por seguir atrás disso.” O que conversa diretamente com “Passarinha”, música do Bala Desejo que esteve presente na última novela das 9 da Globo.

Mas experimentar isso tudo ao vivo é diferente. E foi um desafio, inclusive para Júlia. “Eu fiquei pensando como trazer essa estética para o vivo, porque o disco é especial, com sonoridade abafada, e com os timbres mais vintages.” Pode-se achar, por exemplo, que Lux usou samples nas gravações. Mas, não: tudo orgânico, gravando violão, baixo, guitarra e mais o que tiver direito como se faz. A mudança foi no final, na junção, no trato. Ainda assim, trazer isso para um show é difícil pela experiência que Júlia provoca bem no ouvido. Mas ela conseguiu – e segue conseguindo, sempre experimentando e se jogando.

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Um show sinestésico

Sua banda é formada por Alana Ananis, na bateria (“o raio da banda”, como brinca Júlia), João Moreira, no baixo, Gabriel Quirino, no teclado, Gabriel Quinto, na guitarra e no violão de 7 cordas, e Helô Duran na luz. “É quase uma sensação de rave, bem sinestésico. Você vai sentir a energia, as cores que o disco tem”, sugere a artista, que finaliza: “Eu gosto de viver novas personagens dentro de mim. Eu me sinto quase que atriz da música: cada projeto me traz uma alma nova, uma personalidade. E esse show tem trazido arrepios dentro de mim. Quem me conhece do Bala Desejo se depara ali com uma nova persona. Tem tudo a ver com sexta à noite, tem muito brilho”.

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