Ícone do site Tribuna de Minas

Marisa Monte volta a Juiz de Fora depois de 20 anos com a turnê ‘Portas’

MARISA MONTE Show Portas 14 credito Leo Aversa
MARISA MONTE Show Portas 15 credito Leo Aversa
A turnê ‘Portas’ é fruto do último trabalho de Marisa Monte, um disco lúdico e esperançoso realizado durante o período de pandemia Foto: Leo Aversa/ Divulgação)
PUBLICIDADE

É interessante pensar como Marisa Monte consegue atingir tantas gerações. “Não tenho controle nem explicação”, ela responde quando se é questionado esse fato. Cantando para as crianças ou para os amores diversos, do começo ao fim, a letra pode até ser a mesma, mas bate diferente. Para celebrar essa sua turnê atual, do seu último disco, “Portas”, suas redes sociais foram tomadas por pessoas de diferentes idades e cidades, várias gerações, que contam como tal música se tornou o enredo de sua vida, de uma história, de uma memória, de um amor.

Crianças admiradas vendo, pela primeira vez, seu show: a artista resplandecente no palco. Adultos aos prantos podendo ouvir, mais uma vez, aquelas canções ao vivo: um sentimento novo, atual e de sempre. Mas, então, reforço: o que explica esse mistério? “Não sei se a sua pergunta tem resposta. Algo de misterioso nisso. Da minha parte procuro ter clareza, ser consciente da necessidade de me comunicar, gosto da entrega, da troca com as pessoas e de me conectar com o mundo através das canções.” Daqui, também nos comunicamos com o mundo através de suas canções, Marisa.

PUBLICIDADE

No entanto, como nem ela tem essa explicação, cabe-nos contemplar esse mistério, perceber os encontros e brindar as conexões que a música, esse fio invisível de tantos pontos, proporciona. Vinte anos depois, Marisa volta a Juiz de Fora. Uma oportunidade de entender, afinal, quem é seu público e de que forma ele se transformou nesse tempo: os novos rostos e os novos sentidos. O show, produzido em parceria pelas produtoras Front e Page e pelo Centro de Cultura Sensorial, vai acontecer neste sábado (1), no Expominas, a partir das 19h. Caetano Brasil e o Choro Livre fazem a abertura, enquanto Alice Santiago fica por conta do encerramento.

PUBLICIDADE

Primeiro, palco

Foi no palco que Marisa Monte se lançou. Diferente de tantas carreiras, foi só depois dessa experiência-primeira, que aconteceu no Jazzmania, no Rio de Janeiro, em 1987, que a artista lançou seu primeiro disco, o “MM”. O álbum já mostrava a diversidade de Marisa, com canções de tantos gêneros e de bandas que, à primeira vista, podem parecer ser tão opostas. Ali, ela lançava “Bem que se quis”, versão que Nelson Motta fez para a música “E Po’ Che Fa”, de Pino Daniele. Atemporal.

Com 22 anos na época do lançamento de seu primeiro disco, Marisa mostrava uma característica que a guia ainda hoje: o olhar para o passado ao mesmo tempo que fincava tão forte os pés em sua geração. “Sempre fui uma jovem interessada no passado e também conectada com a minha geração. Naquele momento o que eu escolhia para cantar refletia exatamente o que convivia perfeitamente dentro de mim. Eu não sentia de forma alguma que fossem universos distintos ou alguma ruptura. Foi uma expressão genuína, natural e potente que revelou para muitas pessoas a continuidade do fluxo da história no desenvolvimento da música brasileira”, assume.

PUBLICIDADE

Samba: o motivo

Entre rock, jazz, soul e bossa nova, o samba também já estava ali. Nascida no Rio de Janeiro, vinda de uma família portelense, Marisa sempre entendeu que o samba é a expressão musical mais importante de sua cidade, e que se tornou, de certa forma, de sua vida. Nomes como Candeia, Cartola, Paulinho da Viola, Clara Nunes, Martinho da Vila e Nelson Cavaquinho fizeram parte de sua infância e sempre estiveram em sua vitrola. Mais que isso: “(Eles fazem parte) da minha alma musical, de onde busco inspiração para tudo, na música, na filosofia e na vida”.

‘Ninguém faz nada sozinho’

Se esse primeiro disco é uma miscelânea de suas referências, o “Mais”, de 1991, já a apresenta como compositora, a partir de parcerias com nomes como Arnaldo Antunes e Nando Reis. Uma delas é “Beija eu”: a tão popular ainda tema de romance de hoje. É possível pinçar, em cada um de seus discos, um hit. Sim, hit. Porque suas músicas tocaram incansavelmente nas rádios, em novelas e, hoje ainda, ocupam as redes sociais sem esforço. É popular no sentido mais amplo. E isso acontece em seu trabalho solo e também com os Tribalistas, junto com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, projeto que nasceu em 2002.

PUBLICIDADE

Essas parcerias, inclusive, foram importantes nesse processo de se entender enquanto compositora. E, ainda hoje, são elas que fazem seus novos trabalhos, sempre olhando os novos nomes e nunca abandonando os do começo. “Gosto muito de trabalhar em parceria, e encontrar pessoas com quem possa aprender, me estimular, e desenvolver todas as ferramentas e diálogos necessários para estar na vida como artista. Me cerco de pessoas melhores do que eu em todas as áreas com as quais troco, somo e dialogo. É um privilégio poder ter tantos parceiros incríveis. Ninguém faz nada sozinho.”

Recolhimento e expansão

Em sua linha do tempo, é possível perceber de maneira marcada os momentos em que Marisa se joga nas turnês e, ao mesmo tempo, aqueles em que ela se interioriza na criação. São dois momentos importantes, que se complementam e a fazem construir contato profundo tanto consigo mesma quanto com o público. “Foi importante para mim respeitar o meu próprio tempo, amadurecer numa dimensão menor e aos poucos ir aumentando de escala. Gosto de alternar períodos de expansão com períodos de criação e produção em casa. Para mim, é tudo muito natural: são ciclos, é o tempo é a vida que tem que acontecer naturalmente para que a gente possa se manter forte, saudável e inspirado. Procuro ouvir meu coração e ele vai me guiando nesses caminhos e para que eu possa ser feliz e dar o meu melhor.” Ainda assim, ela reforça: “Há 35 anos sigo acreditando na construção de memória coletiva através da presença física ao vivo”.

Anos longe do contato com o público, de entrar em um estúdio, Marisa Monte grava “Portas”, ainda na pandemia. Um disco lúdico e esperançoso, feito em um momento no qual as duas coisas eram tão escassas. Um disco de 18 músicas que retratam a pandemia, de certa forma, mas sempre pensando nas formas de sair dela, no escapar, em como se manter vivo: feliz, alegre e forte, como ela diz na última música do álbum. As buscas pelas calmas. Não à toa, o disco, assim como a música de abertura, recebem esse nome: “Portas são elementos muito simbólicos que trazem em si a imagem da transformação da abertura, da passagem, da oportunidade. Naquele momento do auge da pandemia, do isolamento, tudo que nós queríamos era expandir, sair, encontrar novamente com as pessoas na coletividade”.

PUBLICIDADE

Tudo (ou quase tudo) é natural para Marisa. Ela repete isso: “Surge naturalmente”; “Aconteceu naturalmente”. Esse ser natural, ou esse só ser, o se lançar, talvez seja a explicação do mistério inicial: o que explica a música de Marisa? Ela é natural: ela é esse encontro único entre tantas coisas que a tornam, pois, Marisa Monte: a voz de tantas gerações, mais um vez.

Sair da versão mobile