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Juiz-forano participa de série ‘LGBT+60’

Marcio Phellipe e Flavio Gab Meinberg Divulgacao
Márcio, Phellipe e Flávio formam uma família plena de amor e de vontade de ser exemplo de felicidade para outras pessoas que guardam o mesmo sonho (Foto: Gab Meinberg/ Divulgação)
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Estreou, neste mês, no YouTube, a terceira temporada da websérie “LGBT+60”. Idealizada e dirigida por Yuri Alves Fernandes, a obra conta histórias de pessoas LGBTQIAPN+ que compartilham suas dores, seus amores e a forma como precisam, a cada dia, resistir. Cada temporada traz situações em comum e, a mais recente, focaliza naquelas que mudaram suas vidas em uma idade que, para muitos, é considerada tardia. 

Yuri nasceu em Ipatinga e, aos 18 anos, mudou-se para Juiz de Fora para cursar Jornalismo. Já interessado nas produções de audiovisual, entrou na Produtora de Multimeio da Faculdade de Comunicação (Facom), lugar onde teve contato com Márcio Guerra, o professor responsável pelas atividades e que acabou se tornando inspiração na vida de Yuri. 

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“Desde o começo da faculdade, eu me interessava por pautas sobre diversidade LGBT. Era um tema que eu já acompanhava e, quanto mais eu fui evoluindo no assunto, nas pesquisas, mais eu percebi que dentro da própria comunidade existem grupos duplamente marginalizados”, conta Yuri. Para se aprofundar ainda mais nesse tema, decidiu sugerir no lugar onde trabalha, o site Colabora, uma série sobre a diversidade que existe dentro da comunidade LGBTQIAPN+, e em 2018 a primeira temporada saiu. “Eu juntei uma inquietação jornalística e essa busca pessoal pelo meu futuro, pela minha velhice”, confessa Yuri. 

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O diretor foi atrás de pessoas dispostas a compartilhar sua luta. Muito porque era difícil ver pessoas LGBTQIAPN+, com mais de 60 anos, nas mídias. “Existem muitos idosos LGBT+, no Brasil, querendo contar suas histórias de luta e ensinar aos mais jovens. Eu acredito que nós só precisamos ir atrás e usar esses espaços que temos para ecoar essas vozes, amplificar e fazer com que essas mensagens cheguem, dar espaço para que essas pessoas possam exercer esse protagonismo, que é tão importante.” 

Os personagens da primeira temporada contam sobre suas lutas, os esquecimentos e até mesmo as crueldades que passaram. Eles falam sobre a forma como foram marginalizados no período da ditadura. Já a segunda temporada aponta o amor como forma possível de combater os preconceitos. E a terceira traz a mensagem de que nunca é tarde para realizar os sonhos. São cinco personagens que, com mais de 60 anos, decidiram mudar suas vidas. 

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Participam Ana Carolina Apocalypse, uma mulher trans que fez a transição aos 59 anos; Denise Taynáh, mulher trans que trabalha como Secretária dos Direitos LGBT+ na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro; Seu Franco, homem trans que aos 13 anos saiu de casa por não se sentir aceito; Luiza Gasparelly, drag queen carioca, ainda em atividade, aos 60 anos; e Márcio Guerra, jornalista juiz-forano que adotou um filho, junto com seu companheiro, há dois anos.

Márcio e Phellipe (Foto: Gab Meinberg/ Divulgação)

Um sim à vida

Nas pesquisas de Yuri, ele foi conhecendo cada vez mais vários mundos a partir dos relatos. E quando foi pensar na terceira temporada, nas pessoas que, com 60 anos, decidem seguir um novo caminho, logo convidou Márcio Guerra para participar. “O Márcio, ao mesmo tempo que me ensinou praticamente tudo que sei hoje e que  inclusive essa série só tem a qualidade que tem por causa do que aprendi com ele, é uma pessoa que trouxe muita luz, muito amor para minha vida pessoal”. E a vida de Márcio Guerra tem tudo a ver com a série. Casado há 34 anos com Flávio, há dois anos decidiu adotar uma criança. “Márcio fala enquanto homem gay, enquanto família e enquanto um pai depois dos 60”, ressalta Yuri. 

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Márcio conta que em momento algum sentiu receio em contar sua história. Muito pelo contrário: “Eu e Flávio entendemos que falar sobre isso, mostrar nossa experiência, iria contribuir para muita gente que talvez não tivesse tido a oportunidade que a gente teve”. Quando adotaram Phellipe, ele tinha 12 anos. Uma idade tão difícil de ser adotada porque, geralmente, o foco são as crianças menores. Mas o encontro dos três era para acontecer. “O objetivo é tão importante e superior ao glamour da coisa. Há uma mensagem que a gente quis passar que, independente da idade, de qualquer coisa, você não deve ter medo de adotar e partir para isso”, afirma Márcio. 

E adotar com 60 anos é enfrentar, inclusive, as próprias noções da idade. “Eu pensava como eu ia adotar um menino com 12 anos, como ia assegurar a ele uma paternidade duradoura. E foi isso que me motivou a fazer uma atividade física, a me cuidar mais, porque eu sei que tenho compromisso com ele, com a formação dele, com a educação dele. Mas Phellipe tem sido uma injeção de vida. Eu vivo para ele e por ele. Tudo por ele. Tento realizar todos os desejos e os sonhos dele. Eu quero dar tudo aquilo que a vida tirou dele em quatro anos no abrigo. Tudo o que a vida disse não para ele, eu estou dizendo sim, junto com o meu companheiro.” 

Uma história de mais de três décadas de companheirismo que se estende, agora, a Phellipe. Além da adoção, a vida de Márcio e Flávio é inspiradora. “Nós, homossexuais, quando estamos na adolescência, na juventude, a gente não pensa no futuro. Não são muitos os casais como eu e Flávio que tem 34 anos de união. E pensar na terceira idade é muito importante, porque inevitavelmente você chegará lá. As histórias que até então se tinha eram de pessoas da terceira idade, homossexuais, sozinhas, abandonadas, largadas. E é possível você reverter esse cenário, não só com a adoção, mas com a perspectiva de futuro: olhar o futuro com atenção porque ele vem.” 

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E Yuri, o diretor, conta que a sessão de exibição do episódio de Márcio foi emocionante exatamente por isso: “Porque toca em um lugar muito forte para gente, por achar muitas vezes, primeiro, que a gente não vai ter alguém do nosso lado, uma história tão duradoura e, ao mesmo tempo, essa vontade de constituir uma família, achar que vai ser um processo difícil. Mas o Márcio vem pra mostrar que vale a pena. Ele é um exemplo maravilhoso”, finaliza.

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