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Fabrício Sereno estreia ‘Antes dos deuses’ em JF nesta sexta

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Fabrício Sereno e Júlia Gomes em cena de “Antes dos deuses” (Fotos: Robson Machado)
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Beéryan é a criação da mulher, um ser que chega para confrontar todas as certezas absolutas do primeiro deus, Papamã, criador do universo e detentor da verdade. A peça “Antes dos deuses” é decorrência de uma pesquisa pessoal de Fabrício Sereno, que, além de diretor e ator, assume multifunções nesta obra, baseada, essencialmente, na discussão teológica de quem é criador e quem é criatura na relação entre deus e o ser humano. A estreia é nesta sexta, dia 1º de dezembro, às 20h, no espaço OAndarDeBaixo.

Deus é transitório, aparece em cena representado por diversas criaturas animalescas. Em uma cronologia do fim em direção ao início, nasce velho, em forma de urubu e todos os símbolos que essa figura nos remete, rejuvenescendo para sua forma mais vigorosa, transpassa para a imagem de um guepardo. Na peça, a figura divina não guarda muitas características humanas, é apresentada pela natureza, começa por aí a desconstrução que Fabrício propõe sobre o corpo e o gênero. “Essa discussão que eu quis gerar em torno da identidade de gênero vai um pouco do conceito de Lacan quando ele fala que a mulher independe do significado do homem, ela existe na ausência do falo.”

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Em todo o espetáculo, o deus Papamã insisti para que a mulher pinte a boca de vermelho, como forma de evidenciar a diferenciação dos gêneros. Um dos intuitos do autor é o de questionar a necessidade de se classificar, demarcar limites, principalmente binários. “Mesmo Papamã não sendo um ser formatado, ele quer ‘encaixotar’ essa figura feminina. O espetáculo deixa claro, ao final, que isso é um desejo dele e não dela. A mulher não existe como um conceito, mas como várias mulheres, corpos e interesses.”

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Os corpos contam histórias
“Antes dos deuses” começou a ser construído em abril deste ano envolvendo uma pesquisa que abrange o aikido como uma das principais fontes para a construção dramatúrgica. A codireção foi assinada com Melissa Travagini, professora de dança e coreógrafa. A partir dos movimentos e da improvisação, Fabrício buscou desenvolver uma técnica corporal. Também foi base de seu estudo a biomecânica teatral russa de Meyerhold e o teatro oriental Kabuki. “É um espetáculo de predominância corporal. Ele pode ter silêncio verbal, mas trabalha com muita imagem, não tem silêncio energético.” Os corpos vão contar as histórias, e a interpretação do que eles estão dizendo não é fechada, a peça busca justamente a interação da plateia a partir do repertório e da reação particular de cada um.

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A comunicação essencialmente corporal de dois personagens é feita por Fabrício Nobre e Júlia Gomes, a cenografia mais conceitual afirma-se como obra de arte e foge ao realismo. “A todo momento eu tenho necessidade de mostrar que isso é obra de arte, é artificial.” Apesar do tom de humor ácido, ao lidar com questões dogmáticas, a peça de forma alguma tem a intenção de ser comédia, e sim existencialista. “O espetáculo não quer ser cômico, mas a maneira como o palhaço enxerga a vida talvez seja como o Papamã enxerga a criação do universo.”

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Fabrício Sereno é apaixonado pela atuação, mas vem se descobrindo como diretor, sentindo prazer em assumir esse papel, sem a necessidade de também estar nos palcos. Além de concepção, atuação e direção, Fabrício também fez luz, produção, cenografia, pesquisa musical e figurino.

 

“Antes dos deuses”
Nesta sexta (1º) e sábado (2), às 20h, em OAndarDeBaixo (Rua Floriano Peixoto 37 – Centro)

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